VI Feira-II Semana –– Tempo Comum – Anos Pares.19 Janeiro 2018
Primeira leitura: 1 Samuel 24, 3-21
À medida que avançamos na leitura do primeiro livro de
Samuel, verificamos que a figura de David é cada vez mais engrandecida, muitas
vezes à custa da de Saul. É certo que também Saul pronuncia belas palavras
sobre David: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul elevou a voz,
soluçando. 18E disse a David: «Tu portas-te bem comigo, e eu comporto-me mal
contigo. 19Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor havia-me
entregado nas tuas mãos e não me mataste». Mas faltou-lhe dar o último passo:
libertar-se do ódio, da inveja e da sede de vingança, oferecendo a David o
abraço da reconciliação.
O que faltou a Saul, superabundou em David: venceu
Golias, triunfou nos campos de batalha, e triunfou sobre si mesmo ao controlar
a paixão do ódio e da vingança até limites que suscitam comoção e emocionam. A
nobreza e a magnanimidade de David são realmente notáveis. O contraste com Saul
fica ainda mais evidente, mostrando a justeza do seu afastamento e da eleição
do humilde filho de Jessé.
Evangelho: Mc 3, 13-19
Jesus forma a sua nova família, um grupo de pessoas
dispostas a acolhê-lo, embora também elas devam ainda converter-se. Embora
falemos de família, para acentuar a relação pessoal e afectiva que deve existir
entre Jesus e os seus discípulos, o grupo apresenta uma valência estrutural
mais ampla: são o novo Israel, os fundamentos da futura Igreja.
Tudo acontece
sobre um «monte». Os montes são lugares propícios para as revelações de Deus
(cf. 6, 43; 9, 2). As grandes decisões de Deus sobre o seu povo foram tomadas
sobre os montes (cf. Ex 1, 20; 24, 12; Num 27, 12; Dt 1, 6-8, etc). Aqui é
Cristo que chama, escolhe e constitui a comunidade. Marcos não diria isto, se
não acreditasse que Jesus era Deus. O grupo é convocado para «ir ter com Ele»
(v. 13 e, em primeiro lugar, para «estar com Ele» (v. 14).
O novo povo de Deus
constitui-se à volta de Jesus, que se apresenta como referência absoluta,
assumindo uma função que pertencia à Lei. Isto causava escândalo aos Judeus. Os
discípulos recebem os próprios poderes de Jesus, actuando com a força do
Evangelho. A vocação implica a missão, está em função dela.
David, perseguido por Saul, tem oportunidade de se
vingar dele, matando-o. Mas respeita a sua dignidade e oferece-lhe mais uma
oportunidade de reconciliação: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu
senhor, o ungido do Senhor, estender a minha mão contra ele, pois ele é o
ungido do Senhor!… Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece
que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao
contrário, procuras matar-me. Que o Senhor julgue entre mim e ti!».
O reconhecimento da dignidade do outro, dignidade
querida por Deus, é a base da reconciliação, em qualquer conflito. David dá-nos
também um belo exemplo de fidelidade, cheio de actualidade, num mundo onde a
falta dela já quase não causa espanto. Mas Deus é fiel, e o homem, criado à
imagem e semelhança de Deus, não pode deixar de ser fiel.
Os apóstolos, chamados a partilhar a vida e a missão
de Jesus, aprenderão que a lealdade e a fidelidade comportam o dom de si mesmo.
A lealdade e a fidelidade que, antes de serem virtudes cristãs, são virtudes
humanas que libertam o homem dos caprichos dos seus instintos e das emoções
passageiras. A fé leva-me a ser leal e fiel porque me revela a lealdade e a
fidelidade de Deus.
Todo o cristão, e particularmente o religioso, deve
"respeito" e "lealdade" para com os seus semelhantes e
especialmente para com os seus superiores, ainda que nem sempre sejam modelos
de virtude. A violência, mesmo contra os inimigos; o é uma atitude digna dos
discípulos d´Aquele que disse: "Aprendei de Mim que sou manso e humilde de
coração" (Mt 11, 29). Muito menos digna será quando visar satisfazer a
ânsia de domínio, privando os outros da sua liberdade, ou instrumentalizando-os
para afirmação de si mesmo. É fechar-se no próprio egoísmo, sem reconhecer a
dignidade humana dos outros, e despedaçando a verdadeira relação pessoal.
Fonte: adaptação local de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia"
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