Terça-feira -II Semana –– Tempo Comum – Anos Pares.
16 Janeiro 2018
Primeira leitura: 1 Samuel 16, 1-13
O mais novo
e o mais fraco dos filhos de Jessé, é ungido rei por indicação de Deus (1 Sam
16, 1-13). O relato da unção de David por Samuel segue um esquema comum a quase
todos os relatos de eleição, a começar pelo próprio povo de Israel que é
eleito, não por ser o mais numeroso nem por ser melhor que os outros, mas por
puro amor de Deus (Dt 7, 7-8).
O esquema repete-se no Antigo e no Novo
Testamento. Paulo vê-o verificar-se na eleição do novo Povo de Deus, a Igreja.
Ao observar a igreja de Corinto, escreve: «Considerai, pois, irmãos, a vossa
vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos
poderosos, nem muitos nobres.
Mas o que há de louco no mundo é que Deus
escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus
escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e
desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada
aqueles que são alguma coisa.» (1 Cor 1, 26-28). Deus actua com absoluta
liberdade, suscitando surpresa.
Evangelho: Mc 2, 23-28
Este breve
texto realça a autoridade definitiva de Jesus e um dos princípios centrais do
Evangelho: a libertação da «alienação legal». Como dirá S. Paulo, Cristo
veio libertar o homem da tirania da Lei (cf. Rom 3, 20; 4, 13; 6, 14;
8, 2; Gal 1, 4-5, etc). A autoridade do «filho do homem» é uma autoridade em
favor do homem. Jesus não veio condenar o homem, mas salvá-lo de toda a
alienação, em primeiro lugar da alienação legal. Marcos não indica claramente o
objecto da transgressão dos discípulos.
Mas, mais do que eles, é Jesus que é posto
em questão. O Senhor responde: «Nunca lestes o que fez David, quando teve
necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele?» (v. 25). Se o velho
rei, por motivos de força maior, podia passar sobre a lei, quanto mais Jesus o
podia fazer! Mais ainda: a autoridade de Jesus permitia-lhe ab-rogar o sábado e
substituí-lo por outro dia. O Evangelho transcende a «ordem estabelecida». O
cristão relativiza a ordem legal quando ela não está «em função do homem».
«O homem vê
as aparências, mas o Senhor olha o coração» (1 Sam 16, 7). Deus não se deixa
impressionar pela imponência de Eliab, nem pela beleza de Saul. Escolheu para
rei de Israel o mais novo dos filhos de Jessé, que nem julgara necessário
chamá-lo do meio do seu rebanho. Deus não olha às aparências, mas ao coração. E
o de David agradou-lhe! Por isso disse a Samuel: «Ei-lo, unge-o: é esse.» (1
Sam 16, 12).
A escolha de David é figura da de Jesus, o novo David, que vem na
mansidão e na humildade para fazer a união, não de um só povo, mas de todos os povos,
de todos os homens. O pequeno pastor Belém, David, é figura do Bom Pastor, que
cuida das suas ovelhas, as defende dos lobos, as guia para os prados
verdejantes e para as águas cristalinas, e morre pela unidade do rebanho. Deus
é o Senhor das pessoas, que conhece, pois foi Ele Quem lhes plasmou o coração.
Mas é também o Senhor do tempo e da história. Por isso, actua com liberdade
absoluta nas suas escolhas e nas suas acções. Mas essa liberdade coincide com o
seu amor, que se manifesta na predilecção pelos pequenos e no absoluto respeito
pelo primado da pessoa humana. As opções de Deus podem desorientar-nos e pôr em
crise as nossas regras, as nossas leis, as nossas seguranças humanas, quando
não temos na devida conta as pessoas con cretas e as suas necessidades.
O
respeito pela dignidade e pela liberdade da pessoa humana é a primeira caridade
que devemos a cada irmão. Esta caridade é também esperança activa daquilo que
os outros podem vir a ser, por absoluta iniciativa de Deus, ou com a ajuda do
nosso apoio fraterno. A caridade afasta todo e qualquer preconceito em relação
às pessoas concretas com quem nos encontramos, vivemos ou temos de trabalhar.
Todo o Evangelho é uma defesa da dignidade da pessoa humana, especialmente
quando é espezinhada nos pobres, nos marginalizados, como os leprosos, ou nas
pessoas desprezadas, como os pecadores, publicanos, prostitutas. “O sábado foi
feito para o homem – diz Jesus – e não o homem para o sábado” (Mc 2, 27).
Para
realçar a dignidade da pessoa humana, Jesus realiza muitos milagres ao sábado
(cf. Mc 3, 1-6; Lc 14, 1-6; Jo 5, 1-14) e convive com todos, mesmo os com os
pecadores. Respeitar o homem e fazer-lhe bem, especialmente quando carenciado,
é uma lei maior que todas as outras. É mesmo o melhor modo de santificar o
sábado, de prestar culto a Deus.
Fonte: "dehonianos.org/portal/liturgia"
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