Sexta-feira– XX Semana –
Tempo Comum – Anos Ímpares
Primeira leitura: Rute 1, 1-2a.3-6.14b-16.22
O livro de Rute é, não só um cântico à providência
divina, mas também uma resposta a possíveis dúvidas e escrúpulos sobre a origem
de David. É certo que na sua ascendência há uma mulher moabita, mas o livro
insinua que esse facto foi querido e disposto por Deus.
A narrativa leva delicadamente o leitor a seguir os passos interiores de Rute, as opções que a levam a partilhar a fé de Noemi e do seu povo. Rute dará uma descendência à família de Elimélec. Esta “estrangeira” será antepassada de David, porque o seu filho, Obed será pai de Jessé, pai de David. Mateus insere Rute na geneologia que leva a José: «o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo» (Mt 1, 5.16). Tudo nasce do respeito e do amor de duas criaturas, Rute e Noemi, quase sinal do resto de Israel fiel ao seu Senhor, e da decisão de Rute de abandonar o seu povo para ir para onde o Senhor a conduz: «o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus» (v. 16).
Rute causa-nos admiração pela sua dignidade como pessoa, mas também pelo seu amor para com Noemi. É também sinal do amor universal de Deus, que todos envolve na realização do seu projecto de salvação.
A vida de Rute foi construída nos eventos normais do
quotidiano: constituiu uma família, sofreu a perda de pessoas queridas, e
tornou-se emigrante em terra estrangeira, como acontecera com Noemi. Deus está
presente na sua história, e actua nela como na do povo de Israel e na dos
outros povos. Noemi, pelo seu testemunho, torna-se para Rute mediação de um
apelo de Deus, para que deixasse as suas tradições, a sua cultura, o seu povo,
os seus deuses, para viver uma nova vida, ainda desconhecida, mas que faz parte
dos desígnios insondáveis de Deus. Na sua caminhada, Rute irá conhecer novas
alegrias e novos sofrimentos, a incompreensão, os conflitos, as incertezas e o
sofrimento íntimo de um povo que se tornou seu. Rute acredita, responde e
parte, isto é, segue o Deus da aliança a que agora pertence por dom. O Senhor
escolheu-a como escolheu outras mulheres de Israel, e de outros povos, para
preparar a geração de que havia de nascer o Messias. Rute terá um filho, que
será testemunha de que Deus provê o seu povo, porque o ama.
A história de Rute preparou a lição do evangelho, porque demonstra como uma estrangeira, que não fazia parte do povo de Deus, e até pertencia a povo desprezado pelos Israelitas, os Moabitas, movida pelo afecto fiel e generoso pela sogra viúva e desolada, se encontrou, por isso mesmo, em relação privilegiada com Deus, tornando-se antepassada de David e, portanto, de Cristo.
Evangelho: Mateus, 22, 34-40
Depois da questão sobre o tributo a César (22, 15-22),
da questão sobre a ressurreição dos mortos (22, 23-33), postas pelos saduceus,
ricos e poderosos, entram em cena os fariseus, doutos e observantes. Estes
perguntam qual é o maior mandamento da Lei. Perdidos na floresta das leis,
aparentemente, queriam saber qual o princípio supremo que tudo justifica e
unifica. Mas eram movidos por uma intenção que não era recta: interrogaram
Jesus «para o embaraçar» (v. 35). Tinham resumido as muitas leis da Tora em 613
preceitos, 365 proibições e 248 mandamentos positivos. Mas, ainda assim, fazia
sentido procurar saber «qual é o maior mandamento da Lei» (v. 36).
Na sua
resposta, Jesus não se coloca na lógica da hierarquia dos mandamentos. Prefere
ir à essência da Lei, orientando para o princípio que a inspira e para a
disposição interior com que deve ser observada: o amor, na sua dupla vertente,
isto é, para com Deus e para com o próximo (vv. 37ss.). Jesus refere-se a Dt 6,
5, onde são sublinhadas a totalidade, a intensidade e a autenticidade do amor a
Deus: «com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente» (v.
37). Ao lado do amor a Deus, e ao mesmo nível, Jesus coloca o amor ao próximo.
Não se podem separar as duas dimensões do mandamento que sintetiza «toda a Lei
e os Profetas» (v. 40).
O amor do próximo e o amor de Deus encontraram-se
estreitamente ligados. A fidelidade generosa de Rute aos afectos humanos pô-la
em profunda relação com a fidelidade de Deus. O amor do próximo e o amor de
Deus estão indissoluvelmente unidos.
Contemplando o
mistério manifestado na vida e na experiência de Rute, brota do coração
o Pai nosso, a oração que revela a beleza que salvará o mundo, o rosto do Pai,
e a beleza da humanidade, onde se descobre o próprio rosto de Deus e os de
tantos irmãos, filhos do mesmo Pai. Dá-nos a graça de viver tudo isto na
oração.
Fonte: resumo e adaptação local de "dehonianos.org/postal/liturgia"
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