Sábado – XX Semana – Tempo Comum –
Anos Ímpares
Primeira leitura: Rute 2, 1-3.8-11; 4, 13-17
Escutamos hoje um belíssimo texto bíblico, que revela o amor de Deus, que não faz acepção de
pessoas, e quer tornar o seu povo participante do seu amor de Pai para com todos. A inserção de uma estrangeira numa
família israelita, mais ainda, na linha davídica, traça um caminho pedagógico
nessa direcção.
O encontro com Booz, sugerido, não só pela
necessidade, mas também pela intuição feminina (2, 1-11), está envolto pela
força moral da moabita que encontra graça diante de Booz por causa do amor
profundo demonstrado para com Noemi (v. 11). A narração do capítulo 3, onde
transparece a responsabilidade de Noemi em relação a Rute, é o horizonte do que
a liturgia nos propõe logo a seguir (4, 13-17). Esse capítulo ajuda também a
compreender o desenrolar dos acontecimentos, guiados pela confiança no Senhor,
que ilumina e inspira as opções. Estas levam ao casamento de Booz com a
moabita, comparada a Raquel e a Lia, progenitoras da casa de Israel (4, 11).
O texto, além de realçar as figuras de Booz e de Rute,
cuja descendência continua no filho que «o Senhor lhe concedeu conceber», mas
também realça Noemi, bendita pelo seu povo. A sua vida, e a da nora, são prova do amor fiel e da presença actuante
de Deus no meio do seu povo.
Rute reconhece a sua indigência de viúva e de
imigrante numa terra que não era a dela. Essa situação não a deprime. Com muita
dignidade, procura ganhar o alimento para ela e para a sogra, Noemi. Para isso,
pede-lhe que a autorize a ir respigar no campo de alguém que lho permita:
«Deixa-me ir respigar nos campos de alguém que queira acolher-me com bondade»
(v. 2). É humilhante ter que ir respigar, por não ter o necessário para viver.
É humilhante estar em situação de dependência da compaixão dos outros. Rute
aceita tudo com humildade, com simplicidade. Quando Booz se interessa por ela,
não se mostra orgulhosa, mas prostra-se e diz: «Porque encontrei tal bondade da
tua parte, tratando-me como natural, a mim que sou uma estrangeira?» (v. 10).
Reconhece que não tem qualquer direito, que nada merece. Mas, por causa dessa
atitude humilde, dá consigo no verdadeiro caminho para a glória divina.
Tendo-se humilhado, será exaltada, terá a honra de ser mãe, e de ter como descendente
David e, finalmente, Jesus Cristo.
É assim que o Antigo Testamento nos coloca no caminho
da humildade, que nos permite receber os dons de Deus, com pureza de coração, e
de caminhar para a plenitude da vida..
Evangelho: Mateus, 23, 1-12
No texto, que hoje escutamos, atinge o auge a polémica
entre Jesus e os escribas e fariseus, que vem crescendo desde o c. 21.
Dirigindo-se directamente à multidão e aos discípulos, Jesus previne-os contra
o perigo que o Evangelho sempre corre na história: a discrepância entre o dizer e o fazer, entre o ensinamento e o
testemunho. Jesus não pretende esmagar pessoas, ou confundir doutrinas.
Pretende apenas denunciar a hipocrisia, isto é, a interpretação e a prática
aberrantes de uma doutrina, em si, correcta. Os fariseus e escribas
apoderaram-se da autoridade de ensinar, legislaram para os outros, mas não
cumprem o que dizem. Pelo contrário, «tudo o que fazem é com o fim de se
tornarem notados pelos homens» (v. 5). Nos versículos 8-12, Jesus passa a usar
o «vós» para interpelar directamente os seus discípulos, de ontem e de hoje. A verdadeira grandeza dos cristãos está em
ser pequeno, e a verdadeira glória, em
ser humilde. Os títulos e as honras são relativos, porque «só é o vosso Mestre»
e «um só é o vosso ‘Pai».
«Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar
será exaltado», diz Jesus no evangelho (v. 12). A humildade atrai a
misericórdia de Deus. A soberba afasta-a. Jesus, tão misericordioso para com os
pecadores que reconhecem a sua situação, mostra-se severo para com os
orgulhosos, para com aqueles que se julgam justos. Os que reconhecem o seu
pecado, abrem-se ao perdão e ao amor benevolente de Deus. Para aqueles que não
o reconhecem, Deus nada pode fazer. A
graça não consegue penetrar na auto-suficiência dos orgulhosos, dos
convencidos dos seus próprios méritos.
É por isso que Jesus critica os que fazem tudo para «se tornarem notados pelos homens» (v. 5), os que gostam dos lugares de honra, dos primeiros lugares, de serem cumprimentados… «Deus resiste aos soberbos», diz o livro dos Provérbios..
A Virgem Maria é a humilde serva do Senhor. Peçamos
por sua intercessão a graça da humildade. Tenhamos consciência da nossa
fraqueza e do nosso pecado. Sejamos coerentes, aceitando as humilhações que caírem
sobre nós. Desse modo, serei semelhantes a Jesus Cristo, manso e humilde de coração.
Onde é que estamos a respeito desta bela virtude da
humildade que triunfa nos corações de Jesus e de Maria? Não se encontra muitas
vezes ferida no meu? Em vez de procurar a humildade, não é que procuramos todas
as satisfações da vaidade e do amor-próprio?
Fonte: resumo e adaptação local de um texto ded "dehonianos.org/portal/liturgia"
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