terça-feira, 8 de agosto de 2017

REFLEXÃO PARA A IV FEIRA DA XVIII SEMANA DO TEMPO COMUM ANO IMPAR



Quarta-feira – XVIII Semana – Tempo Comum – Anos Ímpares 

Primeira leitura: Números 13, 1-2 – 14, 1.26-29.34-35

O melhor modo de entender este texto fragmentário da liturgia é ler as próprias páginas do livro dos Números. Estão aqui integradas várias tradições. Mas emergem quatro momentos: o envio por Moisés dos exploradores à terra prometida e a respectiva exploração, o regresso dos exploradores com os frutos e a narração do que viram; o medo entre o povo, provocado pelos exageros da narração; as lamentações do mesmo povo e o reacender das saudades do Egipto, indicativos da falta de confiança em Deus e nas suas promessas.

Moisés, todavia, mantém-se fiel ao Senhor, aponta ao povo a terra prometida e os seus frutos, e pronuncia as palavras-chave desta narrativa: «Se a boa vontade do Senhor está connosco e nos fez sair para esta terra, Ele nos dará a terra onde corre leite e mel! … O Senhor está connosco. Não temais!» (14, 8s.). Moisés confia na fidelidade de Deus, apesar do panorama obscuro descrito pelos exploradores, que todavia desejavam conquistar um território que produzia tais frutos, uma «terra onde corre leite e mel».

Evangelho: Mateus 15, 21-28

A mulher cananeia, de que nos fala o texto, é designada por «siro-fenícia» em Marcos (7, 24-30). O que ambos os evangelistas pretendem indicar é que se trata de uma mulher pagã, não judia. A cena, sob o ponto de vista literário, está construída no esquema pedido-recusa, num crescendo que, partindo do silêncio de Jesus à primeira interpelação da mulher, continua com a referência à sua missão, que teria por alvo unicamente o povo judeu, e culmina com a distinção brutal entre filhos e cachorrinhos.
 Tanto Mateus como Marcos coincidem em que a missão de Jesus, durante o seu ministério terreno, se limitou ao povo judeu. Mas também coincidem em que Jesus, neste caso, abriu uma excepção. Para Mateus, a razão da excepção foi a grande fé da mulher, o que é omitido por Marcos. O encontro entre Jesus e a mulher cananeia anuncia, e já realiza, o encontro entre a salvação e o paganismo. Sem negar a escolha preferencial de Israel, «filho primogénito» (v. 24; cf. Os 11, 1; Mt 10, 5ss.), a missão salvífica de Jesus é dirigida a todos os povos. Será, também essa, a característica da acção da Igreja, por mando específico do seu Senhor e Mestre (cf. Mt 28, 18-20).

A luta que a mulher cananeia trava com Jesus, para alcançar o que pede, é um exemplo concreto do que Jesus mandou: «Pedi… procurai… batei…» (cf. Lc 11, 9).

As leituras de hoje levam-nos a meditar sobre a fidelidade de Deus e a confiança que havemos de ter n´Ele

Deus é fiel às suas promessas. Mas, na primeira leitura, vemos o povo com falta de fé e de confiança em Deus. Pouco depois de ter retirado Israel do Egipto, Deus convida-o a tomar posse da terra: «O Senhor falou a Moisés: «Manda homens para explorar a terra de Canaã, que Eu hei-de dar aos filhos de Israel» (vv. 1-2). Os exploradores partiram para Canaã e voltaram com um relatório cheio de contrastes: é uma terra maravilhosa, «uma terra onde corre leite e mel», mas «o povo que habita a terra é poderoso, as cidades são fortificadas e muito grandes». Perante estas notícias, a reacção poderia ser em dois sentidos: ir em frente, confiando no Senhor ou desanimar com as dificuldades. Mas, quando alguém se deixa vencer pelas dificuldades, elas agigantam-se ainda mais. Foi o que sucedeu com o povo de Israel: «Levantou-se toda a assembleia a gritar e o povo chorou toda essa noite» (v. 1).

Deus não pode suportar uma tal falta de confiança n´Ele e nas suas promessas. A desconfiança atinge-lhe o coração. E toma uma resolução idêntica à dos Israelitas: não quereis entrar na terra? Pois não entrareis! «Hei-de fazer isto a toda esta assembleia má que se revoltou contra mim neste deserto. Aqui acabarão e morrerão!» (v. 35).

Hoje está muito difundida esta falta de confiança em Deus. Muitos dos nossos jovens já não tem coragem para assumir compromissos duradouros, como é o matrimónio, a profissão religiosa, o sacerdócio, contando com a graça de Deus. É certo que, sem a graça divina, ninguém é capaz de manter um compromisso para toda a vida. Há tantas coisas que mudam, e nós próprios mudamos! Mas, com a ajuda de Deus, que não falta, podemos realizar com fidelidade os compromissos tomados em seu nome.

A confiança ilimitada da mulher cananeia dá-lhe coragem, dá-lhe atrevimento para se dirigir ao Senhor e pedir o milagre. Deus apenas aguarda de nós a fé e a esperança, para nos dar tudo quanto precisamos. As provações da vida, em vez de nos desanimarem, devem acender em nós uma esperança cada vez maior.

A nossa vida cristã participa na evolução, nas provações e procuras do mundo e da Igreja. Também ela é constantemente interpelada. Somos obrigados a repensar e a reformular a sua missão e as suas formas de presença e de testemunho. É preciso, sobretudo, manter bem vivas a fé e a esperança.

Como é bom saborear, desde já, quanto Deus nos promete. Como é bom encontrar na vida os sinais da Sua presença. Mas, como sabemos, a esperança não desilude, porque infundiste no nosso coração o Espírito Santo, penhor dos bens futuros.

Peçamos a Deus que creditemos sempre no Seu amor presente e providente. Que os nossos desejos gerem uma fé maior, uma fé como a da mulher cananeia. Que as provações sejam para motivo de esperança. 

Fonte: resumo e adaptação local de um texto de: <dehonianos.org/portal/liturgia>

Sem comentários:

Enviar um comentário