sexta-feira, 25 de maio de 2018


VI -feira – 7ª Semana –Tempo Comum – Anos Pares
Primeira leitura: Tiago 5, 9-12
Tiago volta-se finalmente para toda a comunidade exortando-os a viver o tempo presente de modo positivo e confiante. No meio das injustiças e atropelos, devem erguer os olhos para o Senhor que há-de melhorar a sua situação, quando vier como juiz.
O apóstolo recorda dois exemplos do Antigo Testamento: os profetas e Job. Deus não os desiludiu, nem nos desiludirá a nós, porque «é cheio de misericórdia e compassivo» (v. 11). Há pois que permanecer fiéis à Palavra que devemos anunciar, e perseverar na fé.
Finalmente, para que a esperança da parusia seja um tempo de serenidade e de edificação mútua, Tiago convida, não só a evitar a murmuração, mas também os juramentos (cf Mt 5, 33-37). A nossa palavra há-de ser garantida, não invocando o nome de Deus, mas vivendo com seriedade, autenticidade e transparência.
Evangelho: Marcos 10, 1-12
A comunidade messiânica deve ultrapassar a moral exclusivamente legalista, característica dos fariseus. Eles, com a pergunta sobre o divórcio, querem «experimentá-lo», pô-lo em apuros. O divórcio hebraico era regulado por Dt 24, 1-4, cujo propósito inicial era tutelar a mulher e garantir-lhe uma certa liberdade.
Mas as escolas rabínicas discutiam os motivos de divórcio. As mais liberais achavam que bastava a mulher deixar queimar a comida, ou o marido encontrar outra mais bonita, para haver divórcio. Outras achavam que só o adultério justificava o divórcio. De qualquer modo, o divórcio era concedido pela legislação em vigor com muita facilidade, o que naturalmente acabava por prejudicar a mulher.

Como é seu costume, Jesus responde à questão com outra questão, obrigando os seus interlocutores a aprofundar o sentido da sua objecção. No juízo moral, há que distinguir o que é regra humana, por muito aceitável que ela seja, e a perspectiva de Deus.
As prescrições mosaicas sobre o divórcio reflectem a mediocridade humana e não o projecto primordial de Deus sobre a união do homem e da mulher. A moral farisaica fundamentava-se na não confessada inferioridade da mulher, que era considerada propriedade do homem.
Para Jesus, à luz do Génesis, a união do homem e da mulher é a meta de uma plenitude humana. Não é o homem que toma posse da mulher, nem o contrário, mas, ao casarem, ambos se enriquecem mutuamente. A união matrimonial procede de Deus e é um verdadeiro «sacrilégio» contrapor-lhe um projecto de separação e divergência.

O homem e a mulher levam em si a imagem de Deus-Amor e, ainda que na diferença, são chamados a ser uma só coisa no matrimónio (v. 8). A ninguém é permitido quebrar essa união (v. 9).
O apóstolo Tiago convida-nos a viver com transparência, sem duplicidade nem ambiguidade, de tal modo que as nossas acções sejam credíveis por si mesmas. E lembra-nos que há um passado de que podemos tirar lições úteis para o presente, e que o futuro não é uma realidade nebulosa, longínqua, mas algo que já se constrói hoje e que, de algum modo, já se pode saborear.
A história humana desenrola-se entre dois grandes momentos: o da criação e o da vinda gloriosa de Cristo. No princípio e no fim dos tempos, encontramos o sentido profundo da nossa vida: Deus, que nos chama e nos quer em comunhão com Ele. O tempo presente, por influência das sugestões mediáticas dominantes, pode parecer-nos o hoje absoluto, e fazer-nos cair na tentação de cortar com o passado, como se não fosse nosso, e de não nos projectarmos para um futuro possível, fechando-nos em nós mesmos.
Mas a Palavra de Deus diz-nos que o momento em que vivemos é tempo de paciência, é tempo de espera activa e confiante do Senhor que vem. A nossa vida é também tempo para darmos corpo e história à «imagem e semelhança» divinas impressas em nós no acto criador, pelo qual cada um realiza o projecto originário de comunhão na diferença e na harmonia do amor.
No tempo, somos chamados a palpitar da própria vida de Deus Trino e Uno.
O homem e a mulher, unidos pelo sacramento do matrimónio, são «sacramento», sinal e actuação dessa vida, dentro dos limites da linguagem humana. Por isso é que o matrimónio é indissolúvel, e só por causa da dureza do coração humano é que Moisés permitiu que se passe o documento de repúdio.
Os próprios discípulos acharem excessivamente dura a posição de Jesus em relação ao divórcio: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é conveniente casar-se!» (Mt 19, 10). Mas é d´Ele que vem a força para amar com paciência e misericórdia. «Bem-aventurados aqueles que sofreram com paciência» (Tg 5, 11). E esta bem-aventurança destina-se, não só aos que são fiéis ao matrimónio, mas a todas as relações interpessoais.
Parece-nos lógico que os outros tenham paciência connosco.
Mas temos alguma dificuldade em aceitar ter paciência com os outros: «Não vos lamenteis uns dos outros», exorta-nos o Apóstolo (Tg 5, 9). Deus não se lamenta de nós, «porque é rico em misericórdia e compaixão» (cf. Ef 2, 4).

A paciência, a misericórdia, a tolerância são necessárias em todo o tipo de relações interpessoais, particularmente no matrimónio, mas também na vida comunitária. Os nossos irmãos de comunidade, particularmente os idosos, os doentes, os feridos pelas agruras da vida, precisam de muita compreensão, amor e paciência.
A paciência é um fruto do Espírito: é aceitação, compreensão, misericórdia, perdão. Realize-se em nós e nestes nossos irmãos feridos a profecia de Ezequiel: “Dar-vos-ei um coração novo, infundirei em vós um espírito novo; retirarei o vosso coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne” (36.26). A caridade deve ser uma esperança activa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda do nosso apoio fraterno (Cst 34).
Bendito és Tu, Senhor, que me lembras que hás-de vir julgar os vivos e os mortos. Ouvindo-te, sou levado a mudar a minha relação com a vida e com os outros. Não existo por acaso, nem avanço na vida sem rumo: Tu és a minha meta, a meta dos meus irmãos. Só Tu dás sentido e dás sabor às relações comigo mesmo e com os outros.
Fortalece a minha vontade sempre frágil, para que conheça o teu projecto original para cada homem e para cada mulher, esse projecto de amor e de alegria que a tua Palavra me revela e que, em Jesus, assumiu carne humana. Que eu saiba dar o justo valor ao que é humano, e colher no meu tempo fugaz fragmentos duradouros, reflexos de eternidade.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”

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