V FEIRA – 7ª SEMANA –TEMPO
COMUM – ANOS PARES
Primeira leitura: Tiago 5, 1-6
Tiago dirige agora uma invectiva contra os ricos. É a
mais forte e veemente que encontramos na Bíblia (cf. Is 5, 8-10; Jer 5, 26-30;
Am 8, 4-8; Miq 2, 89). É um solene aviso, ao estilo dos profetas, à sociedade
em que vive, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais
pobres.
O apóstolo, primeiro descreve a sorte dos ricos;
depois fala da sua culpa. Para isso, retoma, com tons mais duros, o que já
antes dissera (cf. Tg 2, 6s.) sobre a relação pobres e ricos. Fá-lo com verbos
fortemente expressivos.
Os ricos hão-de chorar compulsivamente, e com brados
semelhantes ao ulular das feras porque as suas riquezas estão podres, as suas
vestes comidas pela traça e o seu ouro e a sua prata enferrujados. As suas
garantias de vida estão destruídas e, pior ainda, pesa sobre eles o juízo de
Deus (v. 3b). O salário que não pagaram aos trabalhadores clama contra eles aos
ouvidos do Senhor (v. 5). A vida frívola tornou-os semelhantes aos animais que
engordam para a matança.
O pobre, pelo contrário, é amado por Deus, que não afasta dele o olhar e que está sempre atento aos seus clamores.
O pobre, pelo contrário, é amado por Deus, que não afasta dele o olhar e que está sempre atento aos seus clamores.
Evangelho: Marcos 9, 41-50
Jesus continua a sua caminhada para Jerusalém e chega
a Cafarnaúm. Marcos insere aqui uma colecção de ensinamentos sobre o
discipulado, aparentemente desligados entre si. Mas neles encontramos algumas
palavras-chave que os ligam uns aos outros: a expressão «em nome» de Cristo, ou
«por serdes de Cristo» (v. 41), já fora anunciada no v. 37; o termo «escândalo»
(v. 42) antecipa a secção seguinte (vv. 43-48); a sentença conclusiva do «sal»
(v. 50) apela para o versículo anterior.
No texto que escutamos, Jesus começa a tratar do
acolhimento, apontando alguns gestos simples, feitos em seu nome, porque é Ele
que dá significado às acções humanas, e lhes confere valor de eternidade (v.
41). Depois, fala do escândalo: quem põe obstáculos àqueles que ainda são
frágeis na fé, merece uma pena severa.
Nos vv. 43-47, Marcos adopta a linguagem paradoxal
para indicar a radicalidade e a dureza do juízo: é melhor sacrificar os órgãos
vitais do que aderir ao pecado e cair na condenação eterna.
As imagens do sal e do fogo servem para retomar o tema
do sacrifício de si mesmo em vista da preservação ou da purificação do pecado.
A sabedoria de Cristo deve dar sabor a todas as nossas acções; o fogo do amor
deve arder sempre para pôr a nossa vida ao serviço da comunhão.
É preciso dispor-se a perder… para tudo ganhar: «quem
quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa
de mim e do Evangelho, há-de salvá-la» (Mc 8, 35).
Apoiados na Palavra recebida, os Profetas
interpelam-nos e fazem-nos erguer dos sofás do nosso egoísmo. Deus suscita-os
em todas as épocas para erguerem a chama da esperança na escuridão circundante,
denunciar as injustiças, e ajudar os pobres e erguer o seu grito para os céus.
Também nós, cristãos e consagrados, precisamos de ser
incomodados e acordados para olharmos a realidade, não com os nossos olhos, mas
com os olhos de Deus.
Os desafios que, no nosso tempo, nos são postos pela
globalização estão à vista de todos. Também o apóstolo Tiago via, no seu tempo,
o desequilíbrio entre ricos e pobres, e se dava conta do pecado de uns e da
grandeza dos outros. Observando a realidade, em perspectiva divina, vemos o que
é invisível à simples lógica humana.
Também cada um de nós é chamado a ser profeta no nosso
tempo. Há que devorar a Palavra, há que deixar-se queimar por ela, para que os
nossos gestos, mesmo os mais simples, sejam realizados em nome de Deus, e
deixem a sua marca. Possuídos pela Palavra, seremos verdadeiros Profetas, e não
poremos obstáculos à verdade.
No evangelho, Jesus exige que resistamos às tentações
e renunciemos decididamente às ocasiões de pecado. A sua linguagem, como
geralmente acontece, é fortemente expressiva: «Se a tua mão é para ti ocasião
de queda, corta-a… Se o teu pé é para ti ocasião de queda, corta-o… se um dos
teus olhos é para ti ocasião de queda, arranca-o…» (cf. vv 43-47). É precisa
coragem heróica para corresponder a este mandato do Senhor!
A palavra de Cristo faz-nos tomar consciência da nossa
falta de coerência quando é preciso renunciar a pequenas coisas para
progredirmos espiritualmente. A palavra de Cristo é semelhante ao bisturi de um
cirurgião. O cirurgião usa o bisturi para salvar a vida, para curar o doente. A
palavra de Deus, por vezes é mais cortante que um bisturi, quando actua em nós,
para nos salvar a vida, para nos curar. E «mais vale entrares mutilado na vida,
do que, com as duas mãos, ires para a Geena… mais vale entrares coxo na vida,
do que, com os dois pés, seres lançado à Geena…mais vale entrares com um só
olho no Reino de Deus, do que, com os dois olhos, seres lançado à Geena…» (cf.
vv. 45.48).
A intenção de Jesus é positiva: quer dar-nos a vida em
plenitude. Cada um de nós, inspirado por esta linguagem metafórica de Jesus,
deve discernir o que deve efectivamente cortar para entrar na Vida. Para um,
será uma certa relação ambígua, para outro será um determinado espectáculo ou
leitura, para outro ainda, um certo modo de fazer carreira na política, de
aumentar o volume de negócios e de rendimentos… A carta de Tiago pode ajudar ao
discernimento.
O “profeta”, em sentido bíblico, é aquele que é
chamado por Deus a falar “em nome de Deus” diante dos homens e a “falar em alta
voz”. Geralmente o profeta do Antigo Testamento é alguém que tem uma profunda
experiência pessoal de Deus. Por isso, não só anuncia em alta voz a palavra de
Deus, mas testemunha com a sua vida a vontade de Deus e como deve ser a vida do
homem segundo Deus.
Senhor, queremos, hoje, pedir-te a abundância do teu
Espírito, porque estamos confusos, e já não sabemos distinguir o bem do mal. O
pecado acumulou-se em nós, e tornou-se a nossa riqueza, o tesouro guardado nos
cofres cerrados dos nossos corações. Que o teu Espírito, Senhor, volte a arder
em nós e nos reconduza ao essencial, ao que verdadeiramente tem valor.
Que Ele nos dê um olhar límpido, capaz de ver a
criação e as criaturas; que nos dê braços abertos capazes de acolher os irmãos
e partilhar com eles o que somos e temos; que nos dê pés seguros capazes de
percorrer os caminhos da esperança. Então, seremos teus profetas, arautos da
vida nova, que tem a marca e a sabedoria da tua cruz.
Fonte:
Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org.portal/liturgia/”
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