SEXTA-FEIRA – 4ª SEMANA DA QUARESMA -
16 MARÇO 2018
Primeira leitura: Sabedoria 2, la.12-22
o autor
sagrado, depois de ter convidado a uma vida segundo a justiça (cf. Sab 1,
1-15), dá a palavra aos ímpios que expõem a sua «filosofia»: a vida deve ser
vivida na busca frenética do prazer, eliminando – não importa com que violência
– tudo o que for obstáculo a esse prazer.
Os ímpios de que fala o texto são
presumivelmente os hebreus apóstatas da comunidade de Jerusalém que, aliados
aos pagãos, perseguem os irmãos que permaneceram fiéis a Deus e à aliança. A
sua forma de vida é insuportável: armam ciladas, insultam e condenam à morte,
desafiando o próprio Deus (cf. v. 18; v. 20).
O «resto» de
Israel vive a sua paixão e profetiza a do Messias. É Jesus o verdadeiro justo, o
Filho predilecto, o manso posto à prova, escarnecido (v. 19) e condenado a uma
morte infame (v. 20).
É Ele,
sobretudo que, tendo posto toda a confiança no Pai, ressurge do abismo da
morte. A esperança do Antigo Testamento adquire uma dimensão inesperada, e
ultrapassa toda a «profecia»: pelo mérito de um só, todos são tornados
«justos», desde que estejam abertos à graça.
Evangelho: João 7, 1-2.25-30
Jesus não é um
provocador. Mas a sua pessoa suscita interrogações e inquietações crescentes
nos seus contemporâneos, enquanto os chefes Judeus, movidos pela sua aversão,
decidem matá-lo (v. 1b). Jesus aguarda serenamente a hora do Pai. Não foge, mas
também não apressa os tempos. Evita a Judeia e, quando decide subir a
Jerusalém, fá-lo «quase em secreto. (v. 24).
Mas é
rapidamente reconhecido e logo as opiniões se dividem, agora sobre a sua “messianidade”.
Para alguns, membros de círculos apocalípticos, se Jesus vem de Nazaré, não é
mais do que um impostor (vv. 26s.) pois, para eles, «quando chegar o Messias,
ninguém saberá donde vem» (v. 27).
Entretanto,
Jesus sabia bem donde vinha. Por isso, «bradava», proclamando de modo solene e
autorizado: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou,
e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que
me enviou» (vv. 28-29).
Com subtil
ironia, afirma que a sua origem é efectivamente desconhecida dos que julgam
saber muito e, por isso, não o reconhecem como enviado de Deus. Estas palavras
ecoam nos ouvidos dos adversários como ironia, insulto e blasfémia. Tentam
apoderar-se d ‘ Ele, mas não conseguem, pois é Ele o Senhor do tempo e das
circunstâncias. Submeteu-se totalmente aos desígnios do Pai, e a sua hora ainda
não tinha chegado.
João gosta de
jogar com os símbolos. No seu evangelho, os pormenores têm sempre um valor
simbólico. É o caso da conjura contra Jesus colocada poucos dias antes da festa
dos Tendas. Nesta festa, agradecia-se a Deus pelas colheitas, mas também se
recordavam os 40 anos de caminhada no deserto. Construíam-se tendas mesmo em
Jerusalém. Muitos retiravam-se nelas para meditarem. Era um regresso simbólico
ao deserto.
A controvérsia
referida por João situa-se na vigília deste tempo propício à meditação. É como
que um último esforço, feito por Jesus, para levar os seus adversários a
meditarem sobre a sua pessoa e sobre as «obras» por Ele realizadas. Não
resultou em relação aos judeus. Julgam conhecer a Jesus e saber tudo sobre Ele.
Na verdade, não sabem. Jesus aproveita a ocasião para Se manifestar mais
claramente: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou,
e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que
me enviou» (vv. 28b-29). Mas o resultado foi o aumento da hostilidade dos
judeus. Decidem prender Jesus e acabarão por fazê-lo.
Mas a tentativa
de Jesus pode resultar em relação a nós, se acolhermos a sugestão da liturgia
de hoje e aproveitarmos a caminhada, que estamos a fazer rumo à Páscoa, para
relermos e meditarmos este texto tão denso e inesgotável, e nos interrogarmos
mais a fundo sobre o mistério da pessoa de Jesus e aderirmos a Ele com um amor
maior.
O livro da
Sabedoria mostra-nos que, mesmo as coisas mais positivas, podem ser
aproveitadas para fazer o mal ou para fazer pior. Se o justo é manso, os maus
dizem: «Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência» (v.
19).
Se se diz Filho
de Deus e se ufana de ter a Deus por Pai, decidem experimentá-lo e condená-lo a
uma morte infamante, para ver se Deus o protege! (cf. Sab 2, 18-20).
Peçamos ao
Senhor que nos dê um coração simples e aberto às suas iniciativas
surpreendentes para tomarmos a atitude dos justos e rejeitarmos a dos
pecadores.
Senhor Jesus,
manso e humilde de coração, dá-nos a graça de revivermos em nós atua mansidão e
a tua humildade. Como Tu, queremos, em toda e qualquer situação, mesmo diante
do mal, da oposição e da hostilidade, manifestar a luz e a bondade. Queremos
também aceitar que, em algumas ocasiões, a atitude dos outros seja de crítica e
de condenação contra nós. Ajuda-nos a manter a paciência e a calma nessas
ocasiões, como Tu as soubeste manter. Que jamais nos deixemos tomar pela ira e
pela raiva, mas saibamos corrigir-nos do que julgarmos necessário. Então,
estaremos no bom caminho, Contigo, homem das dores e da esperança.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto
de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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