QUINTA-FEIRA – 2ª SEMANA DA QUARESMA ~ 1 Março 2018
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
Jeremias
oferece-nos duas sentenças sapienciais. Servindo-se da contraposição,
aponta claramente onde está, para o homem, a maldição cujo resultado é a
morte (w. 5- 8), e onde está a bênção cujo resultado é a vida. O ímpio é aquele que, ainda antes de praticar o mal, apenas confia no que é humano e se afasta interiormente do Senhor.
O resultado só pode ser a prática do mal. Aquilo em que o homem põe a
sua confiança é como o terreno donde uma árvore retira o alimento. Por
isso, o ímpio é comparado a um cardo do deserto que não pode dar fruto
nem durar muito (v. 6). O homem piedoso também se caracteriza, em primeiro lugar, pela sua atitude de confiança diante de Deus. Por isso, é comparado a uma árvore plantada junto de um rio: não há-de morrer de sede, nem será estéril (w. 9ss.).
Na segunda sentença, o profeta insiste na importância do «coração», centro das decisões e da afectividade
do homem. Só Deus experimenta e avalia com justiça os comportamentos e
os frutos de cada um dos homens, porque, só Ele conhece de verdade o
coração do homem e o pode curar.
Evangelho: Lucas 16,19-31
S.
Lucas recolhe, no capítulo 16 do seu evangelho, os ensinamentos de
Jesus sobre as riquezas. A parábola, que hoje escutamos, ensina-nos a considerar a nossa condição actual à luz da condição eterna.
A sorte pode inverter-se. E seguem algumas aplicações práticas (v. 25).
Jesus fala-nos de um homem rico que «fazia todos os dias esplêndidos
banquete» e de um pobre significativamente chamado Lázaro
(termo que significa Deus ajuda). Atormentado pela fome e pela doença,
permanece à porta do rico, à espera de alguma migalha. Os cães
comovem-se com Lázaro; mas o rico permanece indiferente.
Chega porém o dia da morte, a que ninguém escapa. E inverte-se a situação.
Jesus
levanta um pouco o véu do tempo para nos fazer entrever o banquete
eterno, anunciado pelos profetas. Lázaro é conduzido pelos anjos a um
lugar de honra, nesse banquete, enquanto o rico é sepultado no inferno.
Do lugar dos tormentos, o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir, por meio
dele, um mínimo gesto de conforto (v. 24). Mas as opções desta vida
tornam definitiva e imutável a condição eterna (v. 26). Nem o milagre da
ressurreição de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo, podem sacudir
um coração endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor
permanentemente ensina por meio das Escrituras (w. 27-31).
Hoje,
tanto a primeira leitura como o evangelho, com imagens muito simples
mas pintadas a cores fortes, nos colocam perante o facto de que é
nesta vida que decidimos o nosso destino eterno, a vida ou a morte, sem
outras possibilidades. Aquele que, nesta vida, põe a sua confiança nos
meios humanos e nas coisas materiais e, sobretudo, aquele que se afasta
do Senhor, e organiza a própria existência independentemente de Deus.
O
apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite ver
para além do imediato, do material. Não permite ver a Deus, nem a
caducidade da nossa actual condição, como não permite ver as
necessidades dos pobres que jazem à nossa porta. Aquele que confia no
Senhor, reconhecendo a sua condição de criatura, dependente e amada por
Ele, é «bendito», Leva no coração uma semente de eternidade que
florescerá em felicidade e paz eternas.
Por
outro lado, a verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela
solidariedade com os pobres, com pobres que o são materialmente, com os
que o são espiritualmente, mas também com os doentes, com vítimas de
contrariedades e opressões de qualquer espécie. Tanto Jeremias como
Jesus nos ensinam tudo isto, não de modo abstracto, mas com imagens
expressivas como a da árvore plantada no deserto ou junto de um rio ou
como o pobre Lázaro.
O pobre Lázaro caracteriza-se pelo silêncio,
tanto diante das provações da vida como diante da falta de atenção
daqueles de quem esperava ajuda. Não grita contra Deus nem contra os
homens. Permanece silencioso e paciente no seu sofrimento físico,
psicológico e espiritual, confiando em Deus.
Finalmente
surge a morte e tudo se transforma. Levado pelos anjos para o seio de
Abraão, continua em silêncio. No seu rosto, primeiro sereno e confiante,
e agora glorioso, transparece outro Rosto, o de Jesus, que se fez pobre
para nos enriquecer com a sua pobreza. Sendo de condição divina, por
nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da
sua condição divina. Sendo rico fez-Se pobre, homem pobre, para que
todos pudéssemos participar da sua riqueza.
Senhor
Jesus, que sendo rico Te fizeste pobre por nosso amor, para nos tornar
participantes da tua riqueza, dá-nos um coração de pobre que confie
apenas em Ti e saiba ser solidário com todos os lázaros desta pobre
humanidade. Que jamais caiamos na tentação de cortar relações com eles
nesta vida terrena, para que possamos tê-Ias, com eles e Contigo, na
vida eterna.
Durante esta Quaresma, queremos colocar-nos entre os pobres e pecadores,
não para sermos coniventes e cúmplices no pecado, mas para sentirmos
verdadeira necessidade da tua graça, e caminharmos para Ti certos de que
seremos libertados das nossas culpas. Confiamos em Ti, Senhor, jamais
seremos confundidos.
Quem
vem? É o rico herdeiro de seu Pai, que vem despojar-se para nos
enriquecer. – «Vós sabeis, diz S. Paulo, qual é a bondade de Nosso
Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de nós, para
que nos tornássemos ricos pela sua pobreza» (2Cor 8).
Senhor, sou um pobre mendigo todo coberto de úlceras,
como este Lázaro que descrevestes no Evangelho (Lc 16). Esperava à
porta do mau rico e teria sido feliz por receber os restos ou as
migalhas do festim.
Mas
eu sou mais feliz do que Lázaro, porque me dirijo a um bom rico, a um
rico, cujo Coração está repleto de misericórdia e de generosidade. Vós
sois este rico. Diante do tabernáculo, estou à vossa porta. Não são
apenas as migalhas que me dareis. Ofereceis-me todo o tesouro dos vossos
méritos. Despojastes-vos para me enriquecerdes, tudo sacrificastes por
mim. Desposastes a pobreza, a humildade, os desprezos, os sofrimentos,
para pagardes todas as minhas dívidas e para me enriquecerdes com os
vossos sacrifícios.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia"
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