SEGUNDA-FEIRA – 2ª SEMANA DA QUARESMA -26 Fevereiro 2018
Primeira leitura: Daniel 9, 4b-10
A oração de
Daniel, colocada no capítulo 9, explica um oráculo de Jeremias sobre a duração
do exílio em Babilónia e sobre a restauração de Jerusalém (cf. Jer 25, 11ss;
29, 10). De acordo com alguns exegetas, os 70 anos preditos por Jeremias devem
interpretar-se como 70 semanas de anos, isto é, 490 anos. Trata-se de uma longa
Quaresma entre o começo do exílio e a restauração e consagração do templo, em
Jerusalém (164 a.c.),
Daniel volta-se
para Deus relendo a história à luz da tradição deuteronomista: à infidelidade
do povo segue o castigo. Mas, até quando terá Deus que castigar o seu povo? Só
Ele sabe. Por isso é que o profeta faz a pergunta a Deus (v. 3). Por seu lado, Daniel
limita-se a reconhecer que o castigo é merecido.
Mas a confissão e o arrependimento
do profeta não o levam ao desesperar, mas a
esperar confiadamente o perdão divino (v. 9). Com efeito, o Deus de
Israel é fiel e benevolente, lento para a ira e rico de misericórdia.
Depois da
enorme catástrofe que culminou no exílio em Babilónia, o povo de Israel caiu em
si e deu-se conta do seu pecado. Então, dirigiu-se ao Senhor, confessando,
confuso e humilhado, as suas culpas e implorando misericórdia: «Sim, Ó SENHOR,
para nós a vergonha, … porque pecámos contra ti. No Senhor, nosso Deus, a
misericórdia e o perdão, pois nos revoltámos contra Ele (!» (cf. vv. 8-9).
A humildade e a
confiança em Deus permitem-nos receber a sua graça e compreender a imensidão do
seu amor por nós. Foi essa humildade e confiança que levou S. Paulo a exclamar:
«Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que
Cristo morreu por nós (Rm 5,8). O perdão recebido centuplica o amor, como vemos
em Santo Agostinho e em tantos outros santos. A experiência do amor
misericordioso de Deus suscita um forte desejo de correspondência.
Quantas vezes também nós caímos na
conta de termos pecado e ofendido a Deus! Quantas vezes
experimentamos as situações de morte e de ódio, que dominam o nosso mundo! Corremos
o risco de perder a confiança e a esperança. Por isso, precisamos de
purificar o nosso olhar com o arrependimento sincero e a oração. Então,
dar-nos-ernos conta da misteriosa e paradoxal transcendência de Deus, tão
grande e tão próximo de nós, sempre benévolo e paciente. Mas também nos daremos
conta da verdade acerca de nós mesmos e dos outros, e os nossos juízos de
condenação transformar-se-ão em pedidos de perdão para todos, porque todos
somos corresponsáveis pelo mal que nos rodeia. Veremos a nossa vida e a vida do
mundo com outros olhos. Dar-nos-emos conta dos sinais da presença de Deus, das
sementes de bem, escondidas mas reais. Na fé e na paciência, aguardaremos que
cresçam e dêem frutos
Evangelho: Lucas 6, 36-38
Lucas, depois
de anotar a proclamação das Bem-aventuranças, anota o mandamento do amor
universal e da misericórdia. Redige como que um pequeno poema didáctico
com três estrofes. Enunciação do mandamento (vv. 27-31), as suas motivações
(vv. 32-35) e a sua prática (vv. 36-38). Verificamos uma clara analogia com o
«Sermão da Montanha» de Mateus. Mas Lucas tem uma particularidade. Fala da
imitação do Pai em termos de "misericórdia", enquanto Mateus fala de
"perfeição".
Como praticar
esta misericórdia. É o que nos indicam os versículos que hoje escutamos.
Cinco verbos
passivos revelam que o sujeito é o Pai: « … Não sereis julgados; não sereis
condenados; … sereis perdoados. 38 … ser-vos-é dado: uma boa medida…será
lançada no vosso regaço,
Quando nos
arrependemos dos nossos pecados, nos dispomos a arrepiar caminho, e nos abrimos
ao amor misericordioso do Pai, o seu perdão é mesmo "perdão:", um
dom superabundante: «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será
lançada no vosso regaço (Lc 6, 38). Por isso, também nos convém ser
generosos no perdão aos nossos irmãos.
«Deus demonstra
o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por
nós (Rm 5, 8). Este pensamento leva-nos a aceitar-nos a nós mesmos e a nossa
história, qualquer que tenha sido. Sentimo-nos felizes por sermos quem somos,
pela nossa história pessoal. Deus amou-nos quando "éramos (Seus)
inimigos!’ (Rm 5, 10). Quanta gratidão havemos de sentir por Deus-Pai e por
Cristo! Como, Paulo, podemos exclamar: "Cristo veio ao mundo para salvar
os pecadores e eu sou o primeird’ (Tm 1, 15).
Aceitar-nos a
nós mesmos, e à nossa história, é caminho para também aceitarmos os outros, com
a sua história. Já S. Tomás de Aquino escrevia que não podemos entrar em
relação de amizade com os outros, se não estivermos em relação de amizade
connosco mesmos. Não podemos aceitar os outros se não nos aceitamos a nós
mesmos. Se estamos descontentes e em conflito connosco mesmos, tristes e
desanimados, também o estaremos com os outros. Cada um dá o que tem. Damos
amor, paz e alegria, se tivermos amor, paz e alegria. Damos amargura e
conflito, se estivermos na amargura e em conflito.
A alegria de
ser amados é o fundamento da nossa dignidade de pessoas humanas, de filhos de
Deus, é fonte da aceitação e da confiança em nós mesmos. É a libertação de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros
com uma justa confiança neles.
Senhor, quão
grande é o amor com que misericordiosamente nos reconcilias Contigo, nos
transformas e nos dás uma vida nova, uma vida de humildade, de compreensão, de
generosidade para com todos! Dá-nos a graça de permanecermos no teu amor,
abrindo-nos à misericórdia para com os outros. Tendo sido gratuitamente
perdoados por Ti, queremos ser instrumentos humildes da tua misericórdia para
com os outros.
Nós Te
agradecemos a confiança que Jesus, teu Filho, demonstra para connosco, ao
afirmar: «A medida que usardes com os outros será usada convosco». Com a tua
graça queremos ser largamente generosos uns com os outros, aguardando
confiadamente a tua transbordante recompensa.
Nosso Senhor
amou-nos com um amor eterno e pede o amor em troca. – Era assim que Nosso
Senhor dispunha os seus discípulos para receberem o seu espírito de amor. Para
nos dispormos nós mesmos, recordemo-nos do seu amor por nós. É semelhante
àquele que o uniu ao seu Pai. Amou-nos desde toda a eternidade, não teve em
vista senão a nossa felicidade. O seu amor por nós foi desinteressado até ao
sacrifício absoluto de si mesmo. Consagrou a sua vida inteira à nossa salvação.
Morreu por nós sobre a cruz:
O que nos pede
é um amor recíproco pelo seu Pai e por ele, que foram os primeiros a nos amar e
que querem chamar-nos seus amigos.
O nosso amor
deve modelar-se sobre o seu. O seu foi obediente à vontade do seu Pai, o nosso
deve manifestar-se por uma obediência inteira, absoluta, filial à lei divina.
Amou-nos até morrer por nós, devemos amá-lo até morrer, se for preciso, por ele
ou pelos nossos irmãos que são os seus. O nosso amor deve ser infatigável,
dedicado e pronto a todos os sacrifícios.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto
de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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