SEXTA-FEIRA
– 2ª SEMANA DA QUARESMA - 2 MARÇO 2018
Primeira leitura: Génesis 37, 3-4.12-13a.17b-28
A história de José é mais um exemplo
de como Deus escolhe os «pequenos» (v. 3) para realizar os seus projectos de
salvação. Essas escolhas de Deus suscitam, muitas vezes, o
ódio e a inveja (v. 4) que levam ao afastamento, se não mesmo à eliminação, do
predilecto (w. 20.28).
A história tem
evidentes objectivos didácticos. A sua composição, a partir de legendas com
origem em diferentes tradições literárias da Bíblia explica algumas
divergências como a iniciativa de salvar José ora atribuída a Ruben (v. 21),
ora atribuída a Judá (w. 26s.). Há, em toda a história, um horizonte de
optimismo e universalidade (v. 28): dentro das intrigas e contendas tribais,
actua a invisível providência de Deus (cf. 45, 7; 50, 20), que conduz o seu
eleito por aparentes caminhos de morte, mas que acaba por ser salvo e salvar a
todos. José é um homem permanentemente atento aos sinais da vontade de Deus,
mesmo durante os sonhos, que aprende a interpretar (cf. v. 19). A túnica de
príncipe separa-o dos irmãos, cavando uma profunda incomunicabilidade entre
eles (v. 4).
José é figura
de Cristo: a sua perseguição e o seu sangue são o preço que o pai tem de pagar
para abraçar, num só amplexo, todos os filhos, já não unidos pela
corresponsabilidade no mal (v. 25), mas pelo beijo de paz que, com o perdão
(cf. 45, 15), lhes é oferecido pelo irmão inocente.
Evangelho: Mateus 21, 33-43.45-46
Os príncipes
dos sacerdotes e os anciãos são os vinhateiros que têm o privilégio de cultivar
a vinha predilecta de Deus, o povo de Israel. No momento da colheita, em vez de
apresentarem os frutos ao dono, que é Deus, querem apropriar-se deles e
maltratam os profetas que lhes são enviados. «Finalmente, Deus envia-lhes o seu
próprio Filho, que é Jesus que lhes está a falar. É a última oportunidade que
Deus lhes oferece para que se tornem seus colaboradores na obra da salvação.
Mas acontece exactamente o que a parábola dizia sobre os vinhateiros malvados:
compreenderam que eram eles os visados e procuravam prende-a ‘O (cf. vv.
45-46). E, conduzidos habilmente por Jesus, são eles mesmos que tiram as
consequências de um tal acto: o dono, que é Deus, «Dará morte afrontosa aos
malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe entregarão os frutos
na altura devida» (v. 41).
Quando Mateus
escreve este evangelho, já se tinham verificado a alegoria de Isaías e a
profecia de Jesus: os chefes do povo de Israel tinham efectivamente matado o
Filho fora da vinha – fora dos muros de Jerusalém – e a cidade santa já tinha
sido destruída por Tito, no ano 70, e caído em mãos estrangeiras, o império
romano. Os novos vinhateiros, os pagãos convertidos, cultivavam a nova vinha, a
Igreja, dando a Deus abundantes frutos, com adesões cada vez mais numerosas à
fé cristã.
José, de quem
nos fala a primeira leitura, é uma impressionante figura de Jesus, tal como o
filho herdeiro de que nos fala o evangelho. Em ambas as leituras escutamos já o
«Crucifica-O». «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. Vamos matemo-lo», disseram
os irmãos de José; «Este é o herdeiro. Matemo-lo», disseram os vinhateiros
malvados. O único protagonista é, portanto, Jesus, escondido na figura de José
e na figura do filho herdeiro da parábola. Estes textos fazem-nos pensar nos
sofrimentos do Coração de Jesus, morto por inveja, como nos referem os relatos
da paixão. Foi a inveja que mobilizou a má vontade dos irmãos contra José e a
dos vinhateiros contra o filho herdeiro da parábola.
Mas também se
fala de nós nas leituras que escutamos hoje. Jesus é o protagonista. Mas nós
também entramos na sua história. Somos os irmãos, somos os vinhateiros
malvados. Mas não devemos desesperar com os nossos pecados. Na história de
José, a inveja foi maravilhosamente vencida: no Egipto, José não puniu os
irmãos, mas salvou-os. Soube ler a história das suas tribulações, do seu
exílio, como preparação, querida por Deus, para poder salvar os seus irmãos e
todo o seu povo no tempo da carestia. Jesus também venceu a inveja aceitando
tornar-se o último de todos. Quando O contemplamos na cruz, não podemos dizer
que cause inveja a alguém! Pondo-se no último lugar, Jesus revelou o seu poder.
O domínio que o Pai lhe prometeu é um domínio de amor, no serviço de todos.
Ao escutarmos
as leituras de hoje, não devemos, portanto, sentir-nos condenados, mas devemos
erguer os olhos mais alto, para o coração do Pai. Jesus veio revela-lo. É Ele,
o Pai, que, por amor, envia Jesus, como fora enviado José, a «procurar os
irmãos» (cf. Gn 37, 16). A predilecção de Israel por José, ou do Pai por Jesus,
não é mais do que uma particular participação no amor paterno. É esse amor, que
tem origem no coração do Pai, que os torna diferentes e capazes de vencer a
inveja, o ódio e a rivalidade, com o perdão.
Senhor Jesus,
quanto me impressionam a história de José e a parábola dos vinhateiros
malvados! Em José, e no filho herdeiro, vejo-Te a Ti mesmo, enviado pelo Pai, a
reunir os seus filhos dispersos, a procurar os teus irmãos. Eu também sou um
desses filhos, um dos teus irmãos. Contemplo-Te, vítima da inveja e do ódio, e
penso nos sofrimentos do teu Coração sensível e inocente. Contemplo o amor
obediente com que realizaste o projecto do Pai e nos alcançaste o perdão e a
graça de uma vida nova. Um amor verdadeiramente vencedor! Por isso, Te peço:
purifica o meu coração de todo o sentimento de inveja e de ciúme, e enche-me de
mansidão e humildade para, Contigo, estar ao serviço de todos os irmãos.
Quem vem? O
irmão ao seu irmão culpado, para o reconduzir e lhe perdoar. – Sim, embora
Deus, não se envergonhe de nos chamar seus irmãos:. S. Paulo exprime
abundantemente a sua admiração sobre este assunto, nos primeiros capítulos da
sua carta aos Hebreus. «Outrora, diz, Deus falou aos nossos pais pelos
profetas, mas nos nossos dias foi pelo seu próprio Filho, que criou o mundo com
ele e que o fez herdeiro de todas as coisas. Ele é o esplendor da sua glória e
imagem da sua substância; tudo sustém pelo poder da sua palavra, e depois de nos
ter purificado dos nossos pecados, sentou-se no mais alto dos céus, à direita
da Majestade divina, sendo também elevado acima dos anjos que o seu nome
comporta, porque quem é o anjo ao qual Deus tenha alguma vez dito: Vós sois meu
Filho, hoje vos gerei, e ainda: serei o seu Pai e ele será meu Filho? … A
Escritura diz dos anjos que Deus os fez seus ministros, mas diz ao Filho de
Deus: o vosso trono, ó Deus, será um trono eterno … E, noutro lugar,
reconhecendo-o como Criador de todas as coisas, ela diz-lhe: Senhor, criastes a
terra desde o começo do mundo … Também, quem é o anjo ao qual o Senhor tenha
dito: Sentai-vos à minha direita até que eu tenha reduzido os vossos inimigos a
servir de escabelo? …
«Entretanto o
seu Filho adorável, Deus tornou-o por um pouco de tempo inferior aos anjos,
tornando-o passível e mortal, mas em seguida coroou-o de glória e de honra.
Era digno de
Deus que, para conduzir à glória os seus filhos, consumisse pelos sofrimentos
aquele de entre eles que devia ser o autor da sua salvação. Porque o Salvador e
os resgatados são da mesma raça humana e não se envergonha de os chamar seus
irmãos … ».
Fonte: Resumo e
adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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