quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Quarta-feira -IV Semana –– Tempo Comum – Anos Pares - 31 Janeiro 2018



IV-feira -IV Semana –– Tempo Comum – Anos Pares - 31 Janeiro 2018
Primeira leitura: 2 Samuel 24, 2.8b-17
O recenseamento do povo, por David, é um pecado porque, com ele, o rei mostra confiar mais nos efectivos humanos do que em Deus. Por isso é que o rei sente remorsos e o profeta Gad anuncia um castigo. David pode escolher entre uma das três punições previstas pela Lei para quem atraiçoe a Aliança (cf. Dt 28, 21-26). David prefere a peste à guerra porque, um castigo vindo da mão de Deus, permite esperar na misericórdia divina (v. 14). De facto, Deus sente compaixão por Jerusalém, e poupa-a (v. 17). O próprio rei intercede pelo povo inocente, e assume as responsabilidades pelo sucedido (v. 1).
 Vemos, neste relato, a dialéctica da história da salvação: pecado, castigo, arrependimento, perdão. Vemos também nele a doutrina da retribuição colectiva: a conduta de uma pessoa pode repercutir-se, para o bem e para o mal, em toda a comunidade. Essa repercussão acentua-se se a pessoa em causa tiver responsabilidades em relação à comunidade, por exemplo, se for rei. Foi David que pecou; mas o castigo ameaça todo o povo.
Na primeira leitura, Deus sugere a David um recenseamento (2 Sam 24, 1). O Primeiro Livro das Crónicas atribui essa ideia a Satanás (1 Cr 21, 1). Na verdade, estamos perante uma leitura teológica: Satanás não é mais do que um instrumento nas mãos de Deus (cf. Jb 1, 6), por meio do qual põe à prova a fé dos seus.
Deus julga obedecer a uma sugestão vinda de fora dele; na verdade apenas obedece à sua sede de poder que o leva a tentar controlar o povo. Esquece que não é o dono, mas apenas o administrador do Povo de Deus.
Para David, como para os nazarenos, a questão está em deixar-se conduzir pela palavra de Deus, sem querer saber mais ou julgar se no filho de um carpinteiro se pode ou não manifestar a Sabedoria de Deus.

Evangelho: Mc 6, 1-6
Depois de apresentar alguns milagres de Jesus, Marcos abre uma nova secção do seu evangelho para falar de uma série de viagens, dentro e fora da Galileia. Começa por ir à «sua terra», a Nazaré e, em dia de sábado, entra na sinagoga. Usa o direito de comentar a Escritura na sinagoga, que era reconhecido a qualquer homem adulto.
Mas a sua doutrina é diferente da dos outros rabis. Marcos não cita, ao contrário de Lucas (4, 17ss.) os versículos de Isaías lidos por Jesus. Mas regista o espanto de quantos o ouviram. Esse espanto era motivado pela origem das palavras pronunciadas por Jesus, pela sabedoria que demonstrava e pelos prodígios que fazia. Tudo parecia estar em contradição com o conhecimento que tinham dele e da sua família. Mas é nesta contradição que se revela a verdadeira identidade de Jesus (v. 3). Também os profetas foram muitas vezes perseguidos por aqueles que tinham maior obrigação de os compreender (v. 4). A falta de fé dos seus conterrâneos impede Jesus de fazer entre eles milagres e prodígios, como tinha feito noutras terras.
S. Marcos apresenta-nos o episódio de Jesus na sinagoga de Nazaré, sublinhando a incredulidade dos seus conterrâneos. Estes conheciam bem Jesus e a sua família. E não são capazes de se abrir à novidade que Deus coloca diante deles. Jesus devia continuar a ser o que sempre fora. Por isso, não aceitam os seus milagres nem a sua pregação.
Esta tentação pode atingir, ainda hoje, a comunidade dos discípulos, seja no seu conjunto, seja nas comunidades particulares. Se Jesus, pelo seu Espírito, surpreende com novas iniciativas, facilmente se levantam oposições, porque se pensa que tudo deve continuar como sempre foi. E assim se impede o Senhor de realizar todos os prodígios que pode e quer fazer entre nós.
As palavras e as acções proféticas de Jesus desencadeiam uma oposição violenta da parte dos nazarenos. Jesus, como israelita conhecedor da história do seu povo, não se espanta e, serenamente, afirma: «Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria» (Lc 4, 24).
Também os discípulos de Jesus se encontram numa situação parecida com a de Jesus. Sendo discípulos, julgam saber tudo sobre Ele. É por isso que as nossas comunidades cristãs, tantas vezes, já quase não escutam a sua palavra. Sabem-na de cor. Já não lhes causa espanto. Já não os interpela. Mas, se interpela, arranjam mil e uma desculpa para não se moverem, não se renovarem. Quantas vezes, também nos nossos dias, as vozes proféticas são silenciadas!

A fé verdadeira leva a reconhecer que Jesus é o enviado de Deus, que traz toda a novidade e revela toda a criatividade de Deus. Por isso, pode surpreender-nos a cada momento, fazer coisas novas, graças à sabedoria e ao poder do Pai. A história da Igreja é bem elucidativa de tudo isto.

Senhor, suscita em mim a atitude da verdadeira fé. Perdoa o meu orgulho, os meus preconceitos, que me impedem tantas vezes de Te reconhecer e reconhecer a tua acção à minha volta. Pretendo controlar os acontecimentos e escandalizo-me quando as coisas não correm conforme as minhas previsões.
Muitas vezes penso que estás longe, que não me escutas. Mas sou eu que ando afastado de Ti e surdo às tuas palavras. Por isso, não podes fazer prodígios em meu favor. Não podes perdoar-me, porque não reconheço o meu pecado.
Vem, Senhor, em meu auxílio. Eu sei que estás perto, que me queres surpreender com as tuas palavras e com as tuas iniciativas maravilhosas. Que me encontres atento e disponível. 
Fonte:
 Resumo e adaptação local de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia".

Sem comentários:

Enviar um comentário