segunda-feira, 20 de agosto de 2018

2º FEIRA – XX SEMANA –T C – ANOS PARES - 20 AGOSTO 2018

2º FEIRA – XX SEMANA –T C – ANOS PARES - 20 AGOSTO 2018 Como Oseias apresentou o seu matrimónio, e Jeremias o seu celibato, Ezequiel apresenta a morte da sua esposa como sinal eloquente de Deus para o seu povo, agora no exílio. São factos da vida que se convertem em oráculos com uma intensidade nova e desusada. Por muito que lhe doa a perda da «alegria dos seus olhos» (v. 16), Ezequiel não usa, por vontade de Deus, sinais exteriores de luto e de dor. Antes de ser esposo, é profeta. O povo estranha e interroga-se sobre o significado do seu comportamento. A resposta é contundente: o próprio Deus vai profanar o seu santuário, «as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas» (v. 21). Os exilados hão-de meditar em silêncio a tragédia de Jerusalém. Para quê? Para saberem que «Eu sou o Senhor» (v. 24). Em última análise, pretende-se que o povo não se afaste de Deus, tal como Deus não se afasta dele. Ezequiel, mudo pela dor e pela tragédia, remete-se a um silêncio sereno, atento ao desenvolvimento dos acontecimentos, até que lhe seja comunicada a queda de Jerusalém. Só então voltará a falar, para não mais se calar. Assim termina a primeira parte do livro de Ezequiel, em que o profeta apenas pôde anunciar oráculos cominatórios, que os acontecimentos históricos vieram confirmar. Evangelho: Mateus, 19, 16-22 O encontro de Jesus com o jovem rico é referido pelos três Sinópticos. Todo o homem anseia pela vida e felicidade eterna, e todo o homem se interroga sobre o modo para as alcançar. Já os discípulos de João Baptista o interrogaram sobre essa questão (cf. Lc 3, 10). No dia do Pentecostes, os ouvintes de Pedro hão-de fazer-lhe a mesma pergunta (cf Act 2, 37). No nosso texto, é um jovem que anda à procura, que quer fazer algo para alcançar a vida eterna. Jesus fica agradado com a sua boa vontade e, pouco a pouco, procura orientá-lo. Com a pergunta: «Porque me interrogas sobre o que é bom? Bom é um só» (v. 17), Jesus insinua que, procurar a vida eterna é, ao fim e ao cabo, procurar Alguém, que tem um rosto concreto, e não algo de abstracto. Posto isto, Jesus indica-lhe o tradicional caminho da prática dos mandamentos. O jovem não fica satisfeito com essa resposta demasiado óbvia, e até estava convencido de sempre ter «cumprido tudo isso» (v. 20). Procurava, pois, algo mais. Então, Jesus lança-lhe uma proposta: «Se queres ser perfeito…» (v. 21). Jesus aprecia a boa vontade, o esforço de quem quer ir mais longe. Já tinha apontado uma meta sem limites, ao dizer: «sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48) . O caminho para essa meta é dar tudo aos pobres e pôr-se a seguir Jesus. É o que o «Mestre» diz ao jovem, porque os bens, quando não são partilhados com os pobres, afastam o homem do Bem supremo, que é Deus: «onde está o teu tesouro, aí está o teu coração» (Mt 6, 21). Para seguir a Cristo, é preciso ter o coração no lugar certo. Não era o caso deste jovem, que tinha muitos bens, e se foi embora triste (cf. v. 22). Ezequiel perde a sua mulher. Não sabemos o que a leva à morte, mas sabemos que, por inspiração de Deus, o profeta não manifesta a sua aflição, não põe luto. O Senhor dissera-lhe: «Suspira em silêncio, não guardes o luto habitual pelos defuntos; conserva o turbante na cabeça, calça as sandálias, não cubras o rosto e não comas pão ordinário» (v. 17). O drama familiar de Ezequiel devia servir de sinal profético. O povo interroga-o sobre um comportamento considerado estranho, e o profeta responde: «O Senhor vai profanar o seu santuário, o orgulho da vossa força, as delícias dos vossos olhos e a paixão das vossas vidas. Os vossos filhos e filhas que deixastes cairão ao fio da espada» (v. 21). E nem sequer tereis oportunidade para fazer luto: «Com o turbante na cabeça e as sandálias calçadas, não vos lamentareis e não chorareis» (v. 23). Ezequiel era sinal dessa tragédia, em que não haveria tempo para chorar: a destruição de Jerusalém e do templo, e a partida para o exílio. Os hebreus tinham uma enorme paixão pelo templo, casa de Deus, sacramento da aliança nupcial de Deus com o seu povo. Ao anunciar a sua profanação e destruição, Deus tem uma intenção positiva, anunciada no fim do nosso texto: «Então, reconhecereis que Eu sou o Senhor Deus» (v. 24). Com a catástrofe, Deus quer tornar possível a conversão. De facto, depois da destruição de Jerusalém e do templo, e da deportação para Babilónia, os hebreus recordaram as palavras de Jeremias e de Ezequiel, que tudo tinha predito, meditaram nessas profecias e alcançaram a graça da conversão. Reconheceram as suas culpas e compreenderam a intenção divina de perdoar e recomeçar tudo, numa nova relação de aliança, mais íntima e profunda. Também nós somos chamados a reler as Escrituras, especialmente em situações de provação e sofrimento. Paulo escreve: «Estas coisas aconteceram-lhes para nosso exemplo e foram escritas para nos servir de aviso, a nós que chegámos ao fim dos tempos» (1 Cor 10, 11); «A verdade é que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e pela consolação que nos dão as Escrituras, tenhamos esperança» (Rm 15, 4). A palavra de Deus, mesmo quando muito severa, é sempre causa de esperança, porque abre perspectivas positivas, depois da necessária purificação. Os hebreus exilados tiveram ocasião de ver o rosto de Deus no sofrimento. O jovem rico, pelo contrário, por sua iniciativa, e cheio de zelo, procura o caminho que leva à vida eterna, e pede conselho sobre o que é bom, e sobre o que deve fazer para a alcançar. As leituras de hoje apontam dois caminhos de «transcendência»: a).Um que parte de baixo, quando o homem, ao bater no fundo da miséria, experimenta a sua fraqueza, mas também a presença misteriosa de Deus que o sustenta e ergue; b). Outro que parte do alto, quando o homem descobre que é capaz de ir mais longe, de ir além do obrigatório, experimentando a graça de Deus, que o anima e impele a dar um salto de qualidade. A vida do homem é um cruzar de altos e baixos, de avanços e retrocessos, de êxitos e de quedas, de entusiasmos e depressões. Mas Deus está em cada momento e em cada situação, sempre pronto para o encontro que nos pode transformar e salvar. Tudo é obra de amor. Também o sofrimento, colhido na sua profundidade, é uma experiência de amor. Se for vivido com Cristo crucificado, o sofrimento é ocasião, não só de purificação dolorosa, mas de abertura à acção do Espírito, de puro abandono, de união amorosa à Vítima divina. Então, o tempo do sofrimento, em que tudo é tão frágil e caduco, torna-se uma interiorização no ser profundo da pessoa, um encontro e comunhão com uma Presença misteriosa que nos ama. Fonte: Adaptação de um texto de: “Dehonianos.org/portal/liturgia/”

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