TERÇA-FEIRA – IX SEMANA –TEMPO COMUM –
ANOS PARES - 5 JUNHO 2018
Primeira leitura: 2 Pedro 3, 12-15ª.17-18
A secção anterior a este texto terminou com a
afirmação de que a vinda do Senhor pode ser «apressada», para que apareçam os
novos céus e a nova terra onde reine a justiça.
O texto que lemos hoje é uma reflexão sobre o estado
do cristão que espera «a chegada do dia de Deus» (v. 12). O autor desta carta
explica que, o que se espera, são «uns novos céus e uma nova terra» (v. 13; cf.
Is 65, 17; 66, 22), nos quais se manifestará Cristo e se realizará, na
«justiça», o projecto de Deus.
Mas, a manifestação do Senhor não se deve aguardar
passivamente. Uma vida na piedade e na santidade pode «apressar» o dia do
Senhor, pois torna já presente na história a justiça típica do esperado dia do
Senhor.
Há pois que viver «imaculados e irrepreensíveis e em
paz» (v. 14), tal como há-de acontecer no dia sem ocaso da vida futura. Mais
importante do que procurar saber quando será o dia do Senhor, é viver na
justiça e na santidade.
O que realmente conta é a magnanimidade do Senhor, que
organiza os tempos e a história na amorosa perspectiva da salvação. Os ímpios
não conhecem esse desígnio de Deus. Mas os crentes vão-no conhecendo
progressivamente.
Segunda leitura: Marcos 12, 13-17
Alguns fariseus e partidários de Herodes, que se
consideravam nacionalistas, mas colaboravam com os romanos, fingindo
sinceridade, fazem a Jesus uma pergunta armadilhada. Queriam embaraçá-lo,
tornando-O malvisto pelas autoridades romanas ou pela multidão.
Jesus evita a armadilha, e aproveita a ocasião para
oferecer um importante critério para a vida cristã: «Dai a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus» (v. 17).
Deus e César não se opõem, nem se colocam ao mesmo
nível. O primado de Deus não retira ao Estado os seus direitos. O cristão deve
obedecer a Deus, mas também aos homens. Em qualquer caso, obedece por causa de
Deus e não por causa dos homens, porque toda a autoridade humana tem as suas
raízes no Eterno. Este princípio está na origem da liberdade de consciência,
afasta da idolatria do poder, leva a acolher a soberania da Igreja, mas também
a do Estado.
Esta mensagem de liberdade surpreende os adversários de Jesus: «Ficaram admirados com Ele» (v. 17b). A opção a fazer não é entre Deus e César, mas entre Deus e todo o movimento humano, ainda que chamado libertador, ainda que seja o dos zelotas. Os movimentos libertadores, mais tarde ou mais cedo, pretendem tornar-se absolutos. É por isso que o profeta mantém a devida distância, em relação a eles.
O cristão espera, – e até pode apressar -, a vinda do
Senhor, para que apareçam os novos céus e a nova terra. Em vez de se pôr a
calcular o tempo divino, que se rege por uma escala diferente da nossa, há que
pensar na finalidade do tempo que Deus nos concede: dar a todos a oportunidade
de se converterem, aproveitando a graça, que o seu amor nos oferece (cf. 1 Tm
2, 4). É à luz desta intenção divina que devemos avaliar a duração do tempo.
A Segunda Carta de Pedro acentua o carácter repentino
e imprevisível da parusia. O cristão deve estar sempre preparado para a segunda
vinda de Cristo, vivendo na confiança e na entrega a Deus. Um comportamento
digno, em conformidade com a sua condição de cristão, segundo a mentalidade
judaica, podia até antecipar esse dia. Deus não destrói por destruir. Se
destrói o mundo velho, ou envelhecido, é para criar um mundo novo, onde reine a
justiça (cf. Mt 19, 28; Ap 20, 11; 21, 1).
As duas imagens – esperar e apressar o dia do Senhor, dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus – descrevem a vida do cristão.
Em primeiro lugar, ela é espera de um acontecimento,
anúncio de que o Esposo ainda não veio, saudade de um amor maior do que
qualquer afecto humano, como um desejo ainda não satisfeito…
Ao mesmo tempo, indica misteriosamente presente nele o
Esposo, manifesta a alegria do encontro com Ele, do desejo satisfeito. Mas,
como quando uma expectativa se realiza, o desejo satisfeito se torna desejo de
algo mais, assim o encontro com o Senhor acende o desejo de maior intimidade,
e, de algum modo, acelera a vinda do Senhor.
É por isso que o cristão não foge do mundo nem da
história, mas permanece aí, para indicar quanto neles há «de Deus», e a Deus
há-de voltar, quanto no coração humano pertence ao Altíssimo e só nele encontra
paz. Ao mesmo tempo, também revela quanto há de corruptível no homem, e deve
ser abandonado.
Não se trata de desprezar o que é humano, mas de dar a
cada coisa o justo valor e de manter viva a esperança do «dia do Senhor», em
que todo o fragmento terreno se há-de fundir no fogo do amor eterno. E
acontecerão os «novos céus e a nova terra».
Entretanto, o cristão é chamado a «dar a César o que é
de César, e a dar a Deus o que é de Deus». É a inesperada reposta de Jesus à pergunta
hipócrita dos fariseus e dos herodianos. Jesus reconhece que o Estado tem
direito a receber o que lhe pertence, mas clarifica que nenhum poder político
pode arrogar-se os direitos de Deus.
A Igreja não é deste mundo, mas vive nele, com muitas relações humanas, nas quais deve aplicar esta palavras de Jesus. O equilíbrio não é fácil. Há que rezar muito pelos pastores da Igreja, que têm essa grave responsabilidade.
Com os nossos Pastores, e com todos os nossos irmãos
na fé, também nós seguimos a Cristo e nos abrimos ao Espírito, e aos Seus dons,
queremos irradiar os seus frutos e praticar as bem-aventuranças, convencidos de
que, colaborando com o Espírito, «os novos céus» e a «nova terra», em que
«habita a justiça» (2 Pe 3, 13; Cf. Is. 65, 17; 66, 22; Apoc 21, 1.27), não são
apenas uma expectativa futura, escatológica, mas podem tornar-se uma realidade
actual.
Obrigado, Senhor, pela nossa história e pelo nosso
tempo. Eles são teus e estão cheios de Ti. Vêm de Ti, e a Ti devem voltar, tal
como eu, e cada um dos meus irmãos, com toda a nossa humanidade, com a nossa
vontade de viver e de amar.
Quando tal acontecer, quando testemunharmos que és a
origem e o termo de quanto somos e temos, o nosso tempo entra na tua
eternidade, e a nossa história torna-se história de salvação. A nossa vida
celebra a tua soberania; a nossa morte será um regresso às origens.
Perdoa que, tantas vezes, tenhamos tentado
apoderar-nos do nosso tempo, e não tenhamos sabido esperar a novidade do teu
dia.
Perdoa que, tantas vezes, não tenhamos reconhecido a
tua imagem nas coisas, e tenhamos tentado apoderar-nos delas, em vez de as
reconduzirmos a Ti.
Perdoa que, em vez de esperarmos os novos céus e a
nova terra, tenhamos preferido apegar-nos a ilusões imediatas destes céus e
desta terra.
Ensina-nos a esperar o Dia do Senhor e, enquanto o
esperamos, a sabermos «dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus».
Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”.
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