QUARTA-FEIRA - IX SEMANA –– TEMPO COMUM –
ANOS PARES -6 JUNHO 2018
Primeira leitura: 2 Timóteo 1, 1-3.6-12
Quando escreve esta carta, Paulo encontra-se preso em
Roma, e já antevê a sua morte próxima. Ela tem, pois, o sabor de um testamento
espiritual.
Depois de endereçar a carta ao seu discípulo
predilecto, o Apóstolo exorta-o a lutar e a sofrer pelo Evangelho, que é «promessa
de vida em Cristo Jesus» (v. 1), «que destruiu a morte e irradiou vida e
imortalidade» (v. 10).
Paulo é um homem escolhido por Deus para levar ao
mundo este Evangelho da vida, não com um Espírito «de timidez, mas de
fortaleza, de amor e de bom senso» (v. 7). O mundo não lhe perdoará, e irá
privá-lo da liberdade.
Mas Paulo não se envergonha das suas cadeias, e incita
Timóteo à mesma atitude. É o preço do testemunho da fé, da vocação santa, da
graça oferecida em Cristo Jesus e agora revelada no mistério da sua incarnação.
As cadeias são sinal da liberdade nova que nasce da fé em Cristo e da confiança
na sua fidelidade até ao último dia, quando a vida vencer a morte.
Provavelmente, a comunidade de Timóteo estava ameaçada
por perseguições. Mas os cristãos, e em particular aquele que foi ordenado,
hão-de ser lutadores e dirigentes corajosos, evitando a prudência segundo a
carne.
Segunda leitura: Marcos 12, 18-27
Os saduceus, frios e calculistas, querem desfazer-se
de Jesus, que consideram um homem perigoso, mas não perdem a calma. Limitam-se
a procurar meter Jesus a ridículo diante do povo, levando até ao absurdo as
suas ideias sobre a ressurreição. Jesus aproveita para apresentar correctamente
o sentido da vida para além da morte.
No tempo de Jesus, eram várias as posições diante do
tema da ressurreição: os saduceus negavam-na; os rabinos fariseus afirmavam-na,
mas com uma certa liberdade interpretativa: ressuscitariam só os justos, ou só
os Judeus, ou todos os homens, os ressuscitados voltariam à sua corporalidade
original, incluindo as enfermidades; os helenistas pagãos, influentes quando
Marcos escreve o seu evangelho, preferiam falar da imortalidade do espírito,
capaz de sobreviver por si mesmo ao corpo, e de se libertar da prisão.
Jesus responde a todos, pondo no centro a verdade do
amor de Deus: se Deus ama o homem, não pode abandoná-lo ao poder da morte, mas
há-de uni-lo a Si, fonte de vida, tornando-o imortal.
Como será a vida além-túmulo? Para Jesus, será uma
vida que escapa aos esquemas do mundo presente: será divina, eterna, comparável
à dos anjos, de tal modo que o matrimónio e a reprodução serão supérfluos. Não
será um prolongamento desta vida, mas uma existência nova, resultante de uma
misteriosa transformação, fruto da fidelidade do Eterno, que envolverá o homem
todo, e não só o espírito.
Hoje, começamos por escutar a exortação de Paulo a
Timóteo: «Recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela
imposição das minhas mãos, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez,
mas de fortaleza, de amor e de bom senso» (vv. 6-7).
Esta exortação é também para nós. Há que ter ideias
grandes sobre Deus, que é magnânimo, que fará grandes coisas por nós, tal como
as fez por Paulo, prisioneiro em Roma, e por Timóteo. Se o «dom», que Paulo
recomenda reavivar a Timóteo, é um carisma sacerdotal, todos nós recebemos a
graça da vocação cristã, os dons de Cristo, que não devemos pensar de modo
humano, como os fariseus pensavam na ressurreição. São dons no Espírito que
havemos de não deformar, mas renovar com o auxílio do Espírito.
Por isso, é que convém varrer da nossa mente todas as
ideias mesquinhas sobre a vida em Cristo, e conformar os nossos pensamentos à
magnanimidade, ao amor, ao poder glorioso de Deus, com humildade e com
esperança.
O cristianismo é o evangelho da vida. A vida é a boa
nova que o cristão anuncia a um mundo cada vez mais mergulhado numa cultura de
morte. Só quem acredita em Cristo pode falar de uma vida que venceu a morte, e
acreditar na imortalidade. E tem de fazê-lo, sem medo nem timidez, graças ao
Espírito de força e de amor que lhe foi dado, como Paulo o fez em Roma, pouco
antes da sua morte violenta.
O cristão não é dispensado do drama do sofrimento nem
da derrota da morte. Mas, é mesmo nessa experiência, das profundezas do abismo,
que anuncia a esperança da vida que não morre.
Lembremos as palavras de Bento XVI na encíclica “Spe
salvi” sobre o modo como Santa Josefina Bakhita, raptada aos nove anos pelos
traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos
mercados do Sudão, e finalmente comprada, em 1882, por um comerciante italiano
para o cônsul Callisto Legnani, chegou à esperança cristã.
Em casa do cônsul, Bakhita acabou por conhecer um «patrão»
totalmente diferente dos anteriores, isto é o Deus vivo, o Deus de Jesus
Cristo. Soube que esse Senhor também a conhecia, a tinha criado e a amava.
Mais ainda, soube que esse Patrão tinha enfrentado
pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela «à direita
de Deus Pai». E assim nasceu nela a «esperança», a grande esperança, que vinha
de ser definitivamente amada e esperada por esse Amor. E, então, deixou de se
sentir escrava, passando a sentir-se livre filha de Deus (cf. “Spe salvi” 3).
Nesta santa como que se tocam dois abismos: o da
fragilidade humana e o do poder divino, como aconteceu em Jesus crucificado.
Por isso, tal como Deus Pai ressuscitou o Filho, também há libertar das cadeias
da morte todo aquele que não se envergonhar do Evangelho da Vida. De facto, não
é um «Deus de mortos, mas de vivos» (v. 27).
Senhor, Tu és o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob.
Tu é o Deus que ama a vida. Tudo existe e subsiste em Ti. Sem Ti, eu seria
nada. Mas como és, e estás comigo, vibra em mim um frémito de eternidade.
Eu Te bendigo, porque venho de Ti, vivo por Ti, e vou
para Ti. Que eu saiba proclamar sempre a tua glória, e jamais me envergonhe do
Evangelho ou tenha medo das incompreensões e recusas que a sua proclamação me
pode acarretar.
Dá-me a coragem de Paulo, que, mesmo agrilhoado,
proclama o Evangelho da vida. Reaviva em mim o teu dom para que, também eu,
seja um livre prisioneiro de Cristo, deixando-me amarrar eternamente pelas
cadeias daquele amor divino que venceu a morte.
Fonte: Adaptação local
de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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