QUINTA-FEIRA - IX SEMANA –
TEMPO COMUM – ANOS PARES - 7 JUNHO 2018
Primeira leitura: 2 Timóteo 2, 8-15
A Segunda Carta a Timóteo, leva-nos
comunidades cristãs da Ásia Menor, na última quarta parte do século I. Aí começavam
a surgir controvérsias teológicas baseadas em diferentes interpretações da fé
cristã. E cada uma tinha a pretensão de provir directamente da primeiríssima
tradição e de assim obter o monopólio da interpretação da fé.
Neste contexto, Timóteo lembra os
conselhos do seu mestre, Paulo. Antes de discutir qualquer doutrina, há que ir
ao único fundamento da fé, que é Jesus Cristo. Ser cristão é, fundamentalmente,
acreditar em Jesus Cristo, naquele homem histórico concreto, conhecido de
todos, e que continua misteriosamente presente na comunidade, depois da sua
ressurreição.
A vida do cristão é a vida de Cristo
nele; é participação sempre renovada na morte e na vida gloriosa do Senhor, que
misteriosamente sofre e ressuscita naquele que acredita nele. É o que se
verifica em Paulo, preso «como um malfeitor» (v. 9), mas também convencido de
«reinar com ele» (v. 12).
Daqui, seguem duas consequências. Em
primeiro lugar, os sofrimentos do cristão participam do valor redentor dos
sofrimentos de Cristo e são, de facto, instrumento de salvação, na medida em
que o cristão sofre, como Paulo, «por Cristo» e «morre com ele» (v. 11).
Desde que o Filho de Deus morreu na
cruz, nenhum sofrimento terreno é inútil, e nenhum crente pode sentir-se não
responsável pela salvação dos outros. É a comunhão na cruz que dá a cada um a
força para «tudo suportar» pelos irmãos, «para que também eles alcancem a
salvação em Cristo Jesus e a glória eterna» (v. 10).
E então – é a segunda consequência – a
vida do cristão torna-se uma existência pascal, na memória da ressurreição de
Jesus (v.8) e na profecia da sua própria ressurreição (v.11). Com estas
perpectivas, o cristão não se perde em «em litígios de palavras» (v. 14), nem
se envergonha da Palavra, mas proclama-a, ainda que, para isso, tenha de
sofrer: «a palavra de Deus não pode ser acorrentada»(v. 9) .
Segunda leitura: Marcos 12, 28b-34
Depois dos fariseus, herodianos e
saduceus, aparece um escriba de boa vontade, que faz uma pergunta simplesmente
teórica, sem armadilhas mais ou menos camufladas. Era uma questão clássica e
frequentemente debatida. A resposta de Jesus também não era completamente nova.
Na verdade trata-se de uma questão central para Jesus e para todos os crentes.
A resposta mais completa será dada com
toda a sua vida.
Jesus oferece ao escriba honesto uma resposta rigorosamente bíblica: remete-o para Dt 6, 4s. e para Lv 19, 18. Mas a compreensão plena da resposta só se obtém à luz da revelação, segundo a qual o nosso amor a Deus e ao próximo supõe um facto precedente e fundante: o amor de Deus para connosco.
Jesus oferece ao escriba honesto uma resposta rigorosamente bíblica: remete-o para Dt 6, 4s. e para Lv 19, 18. Mas a compreensão plena da resposta só se obtém à luz da revelação, segundo a qual o nosso amor a Deus e ao próximo supõe um facto precedente e fundante: o amor de Deus para connosco.
O amor de Deus é a medida com que se
deve confrontar todo o amor humano. Se este nascer daquele, estender-se-á a
toda a humanidade, a todo o homem sem distinções, e será um amor com toda a
humanidade de que dispomos: o coração, a mente e a vontade. Este amor supera
todo e qualquer acto de culto, sobretudo aquele que está separado do amor ao
próximo. Notemos também a afirmação clara e incisiva do monoteísmo (vv. 29.32),
em polémica com o ambiente pagão em que vivia a comunidade para quem Marcos
escrevia o seu evangelho.
Para o escriba, a questão posta a Jesus
era simplesmente intelectual. Mas, para Jesus, tratava-se de uma questão vital.
O Senhor começa por apresentar o
essencial da vontade de Deus, que consiste em amar a Deus e amar ao próximo:
«Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com
todo o teu entendimento e com todas as tuas forças.
O segundo é este: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo». Jesus unifica o primeiro e o segundo mandamento: «Não há
outro mandamento maior que estes» (vv. 30-31). Só Jesus viveu este único
mandamento de modo perfeito. O seu amor pelo Pai e por nós levou-o a morrer na
cruz, dando a sua vida até às últimas gotas de sangue, que jorraram do seu
Coração trespassado.
O nosso coração foi criado por Deus, à
imagem e semelhança do seu, isto é, capaz de amar, e de amar à maneira divina.
É o maior sinal do amor de Deus pelo homem. O Criador não guardou ciosamente
para Si o poder de amar, mas partilhou-o com a criatura. É por isso que, amar a
Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é o maior de todos os
mandamentos. É o maior porque, antes de ser um mandamento, é um dom. E, se é
maior que todos os holocaustos e todos os sacrifícios, quer dizer que o homem
realiza a maior experiência do amor divino quando ama à maneira de Deus, porque
só então se pode dar conta de quando foi amado pelo Eterno, a ponto de poder
amar como Ele ama.
É nesta linha que Paulo convida Timóteo,
e todos nós, a sofrer e a morrer por Cristo, para que os irmãos sejam salvos.
Esta comunhão no amor redentor da cruz, revela-nos o surpreendente mistério da
comunhão de Deus com o homem, do amor
divino com o amor humano. Graças a esta comunhão, o amor de Deus já está
presente e visível na terra. Mais ainda: o próprio Deus amou com um rosto
humano, e um coração de carne bate desde já, com ritmos eternos, no meio dos
homens.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
Sem comentários:
Enviar um comentário