QUINTA-FEIRA – XII SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES - TEMPO COMUM – ANOS PARES
Primeira leitura: 2 Reis 24, 8-17
A Assíria, que se aliou ao Egipto, para fazer frente
ao expansionismo babilónio, diminuiu a sua ameaça sobre Jerusalém. Mas surgiu a
ameaça da própria Babilónia. Tendo caído Nínive, capital da Assíria,
Nabucodonosor tornou-se rei da Babilónia. Na Primavera de 598, apoderou-se do
fraco reino de Joiaquim, expugnando Jerusalém, e procedendo a uma primeira
deportação, que envolveu o profeta Daniel. Sedecias substituiu o fraco Joiaquim
como rei de Judá. É nesta época que actua o profeta Jeremias (cf. Jr 22,
13-17).
Como sempre acontece, o autor sagrado liga os dramas do povo à sua infidelidade à aliança (cf. v. 9). O profeta de Anatot em vão tinha apelado à conversão. O mal do povo tornou-se tão grande, que Jeremias chegou a perder as esperanças (Jr 5, 1-3).
Evangelho: Mateus 7, 21-29
Ao concluir o Sermão da Montanha, Jesus previne contra
a presunção de se salvar apenas pela invocação do nome divino, ou em virtude de
acções carismáticas, sem as acompanhar com uma vida coerente, com a prática da
caridade, ainda que sejam expressão da própria fé.
Não se pode ficar pelo «dizer»; há que «fazer».
Notemos também que a referência, no juízo final, será
sempre Cristo: «me dirão», «minhas palavras» (cf. Mt 25). Também é
significativa a acentuação de «muitos»: «muitos me dirão…». «Então,
dir-lhes-ei»: no texto original, lê-se: «Então declararei», numa clara alusão
ao «dia do Senhor», ao dia do juízo.
Quando Cristo declara que não conhece (como na
parábola das virgens insensatas: Mt 25, 12) tais «tais praticantes da
iniquidade» (cf. Mt 13, 14; 24, 12), onde encontramos o mesmo termo), utiliza a
fórmula judaica de excomunhão do mestre, que implicava uma suspensão temporária
do discípulo.
O Sermão da Montanha repõe o esquema de bênçãos e
maldições diante das quais era colocado o povo da Aliança (Lv 26, Dt 28) e
termina com a expressão «e grande foi a sua ruína» (Mt 7, 27), que contrasta
com as palavras de abertura: «Felizes…» (Mt 5, 2ss.).
Finalmente, Cristo fala de duas maneiras de escutar a
Palavra: de modo superficial e descomprometido, ou de modo atento e eficaz.
Fala também das consequências de escutar de um ou de outro modo.
Estamos a viver o tempo comum da Liturgia. Enquanto o
tempo do Advento ao Pentecostes representa o tempo de Jesus, em que Ele realiza
historicamente a nossa redenção, o tempo comum representa o tempo da Igreja,
porque nele se constrói a mesma Igreja, Corpo de Cristo, que continua no mundo
a obra salvífica de Jesus e prolonga a sua incarnação. É neste tempo que os
homens são chamados a entrar na Igreja pelo baptismo, e a crescer nela pelos
sacramentos e pelo empenhamento pessoal até alcançarem a plena estatura de
Cristo, o estado de adultos na fé. É, pois, o nosso tempo, em que havemos de
construir o nosso destino eterno, o tempo para nos realizarmos como homens e
como cristãos.
Jesus fala deste tempo com a imagem da casa, que pode
ser construída sobre a rocha ou sobre a areia. A imagem é clara e eficaz.
Enquanto a primeira resiste aos ventos e às enxurradas, a segunda fica reduzida
a um monte de ruínas. Ambos os construtores conheceram Jesus e ouviram a sua
palavra. Mas, enquanto um a põe em prática, o outro não. Um faz a vontade do
Pai. O outro limita-se a dizer: «Senhor! Senhor!» (v. 22).
O evangelho de hoje apela para a coerência da nossa vida de cristãos. Com estas parábolas, Jesus não nos deixa ilusões. A porta do Reino só se abre para aqueles que fizeram a vontade do Pai. A rocha representa essa vontade. Sobre ela, pode construir-se uma casa bonita, acolhedora e forte.
A vontade de Deus não é algo de abstracto, porque se
«fez carne» e, em certo sentido, se materializou em Jesus Cristo.
Por isso,
Paulo escreve: «estais edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas,
tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus» (Ef 2, 20). Pedro também fala
de Jesus como pedra angular (1 Pe 2, 5-6). Construir sobre a rocha quer dizer
construir a própria vida sobre Jesus, sobre a sua Palavra, sobre a sua Pessoa.
Este convite à “escuta” já estava expresso na famosa
«shemá» («escuta…»), com que o piedoso israelita manifestava a Deus a sua fé, a
adesão da sua vontade e a oblação da sua própria vida, cumprindo a Palavra de
Deus:
«Escuta, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma
e com toda as tuas forças. Estes mandamentos que hoje te imponho, serão
gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos…» (Dt 6, 4-7).
Assim Deus Se revelava a na vida do piedoso israelita
como Javé («Eu sou aquele que sou» Ex 3, 14), isto é, como presente na vida
como libertador, como guia, como salvador.
A presença da Palavra era a presença da Pessoa. Com
maior razão tudo isto se realiza em Jesus, que é a Palavra, o Verbo de Deus
feito carne:
«Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é
semelhante a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha…» (Mt 7,
24).
“Rocha”, “Rochedo” são as imagens típicas de Deus, que
exprimem solidez, segurança e, portanto, fé, adesão completa: «Deus é a rocha
da minha defesa…» (Sl 62(61), 3): «Vós sois, meu Deus, a rocha da minha
salvação…» (Sl 89(88), 27).
É como dizer: o Senhor é o meu «amem», a minha
segurança, a minha salvação. É assim que Cristo é chamado no Apocalipse: «Assim
diz o Amem, a Testemunha fiel…» (3, 14) e Paulo: «Por meio de Jesus Cristo sobe
até Deus o nosso Amem» (2 Cor 1, 20).
Fonte: adaptação local de um texto de F. Fonseca em: “dehonianos.org/portal/liturgia”
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