04º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO B
O 4º Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom
Pastor”, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o
tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
A primeira leitura afirma que Jesus é o único
Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo
qual possamos ser salvos” .
Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por
outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam
propostas falsas de salvação.
Por vezes, o caminho de salvação que Jesus nos propõe,
está em flagrante contradição com os caminhos de “salvação” que nos são
propostos pelos líderes políticos, pelos líderes ideológicos, pelos líderes da
moda e da opinião pública; e nós temos que fazer escolhas coerentes com a nossa
fé e com o nosso compromisso cristão.
Na hora de optarmos, não esqueçamos que a proposta de
Jesus tem o selo de garantia de Deus; não esqueçamos que o caminho proposto por
Jesus (e que, tantas vezes, à luz da lógica humana, parece um caminho de
fracasso e de derrota) é o caminho que nos conduz ao encontro da vida plena e
definitiva, ao encontro do Homem Novo.
Depois de dois mil anos de cristianismo, parece que
nem sempre se nota a presença efectiva de Cristo nesses caminhos em que se
constrói a história do mundo e dos homens.
Nós cristãos fizemos d’Ele, efectivamente, a “pedra
angular” sobre a qual construímos a nossa vida e a história do nosso tempo?
Através do exemplo de Pedro, Lucas sugere que o
testemunho dos discípulos deve ser desassombrado, mesmo em condições hostis e
adversas.
A preocupação dos discípulos não deve ser apresentar
um testemunho politicamente correcto, que não incomode os poderes instituídos e
não traga perseguições à comunidade do Reino; mas deve ser um discurso corajoso
e coerente, que tem como preocupação fundamental apresentar com fidelidade a
proposta de salvação que Jesus veio fazer.
Os discípulos de Jesus não estão sozinhos, entregues a
si próprios, nessa luta contra as forças que oprimem e escravizam os homens.
O Espírito de Jesus ressuscitado está com eles,
ajudando-os, animando-os, protegendo-os em cada instante desse caminho que Deus
lhes mandou percorrer. Nos momentos de crise, de desânimo, de frustração, os
discípulos devem tomar consciência da presença amorosa de Deus a seu lado e
retomar a esperança.
•Os líderes judaicos são, mais uma vez, apresentados
como modelos de cegueira e de fechamento face aos desafios de Deus. São “maus
pastores”.. O seu exemplo mostra-nos como a auto-suficiência, os preconceitos,
o comodismo, levam o homem a fechar-se aos desafios de Deus e a recusar os dons
de Deus. Eles são, portanto, modelos a não seguir.
Na segunda leitura, 1 Jo 3,1-2. o autor convida-nos a contemplar o amor de
Deus pelo homem. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está
apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de
fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos
“semelhantes” a Ele.
Neste Domingo
do Bom Pastor, o autor convida-nos a contemplar a bondade, a ternura, a
misericórdia, o amor de um Deus apostado em levar o homem a superar a sua
condição de debilidade, a fim de chegar à vida nova e eterna, à plenitudização
das suas capacidades, até se tornar “semelhante” ao próprio Deus.
Todos os homens e mulheres caminham pela vida à
procura da felicidade e da vida verdadeira…
O autor desta carta garante-nos:
para alcançar a meta da vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de
Deus, acolher o seu dom, viver de acordo com essa vida nova que Deus nos
oferece. É aí – e não noutras propostas efémeras, parciais, superficiais – que
está o segredo da realização plena do homem.
O autor da carta avisa os cristãos para o inevitável
choque com a incompreensão do “mundo”… Viver como “filho de Deus” implica fazer
opções que, muitas vezes, estão em contradição com os valores que o mundo
considera prioritários; por isso, os discípulos são objecto do desprezo, da
irrisão, dos ataques daqueles que não estão dispostos a conduzir a sua vida de
acordo com os valores de Deus.
O Evangelho Jo 10,11-18 apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que
ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a
vida por elas.
As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma
incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O
que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar”
as propostas que Ele faz e segui-l’o no caminho do amor e da entrega.
É Ele que nos aponta caminhos, que nos dá segurança,
que está ao nosso lado nos momentos de fragilidade, que condiciona as nossas
opções, que é para nós uma espécie de modelo de vida.
O Evangelho deste domingo diz-nos que, para o cristão,
o “Pastor” por excelência é Cristo. É n’Ele que devemos confiar, é à volta
d’Ele que nos devemos juntar, são as suas indicações e propostas que devemos
seguir.
O nosso “Pastor” é, de facto, Cristo, ou temos outros
“pastores” O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: Jesus Cristo?
Reparemos na forma como Cristo desempenha a sua missão
de “Pastor”: Ele não actua por interesse mas por amor; Ele não foge quando as
ovelhas estão em perigo, mas defende-as, preocupa-Se com elas e até é capaz de
dar a vida por elas; Ele mantém com cada uma das ovelhas uma relação única,
especial, pessoal, conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças.
As
“qualidades” de Cristo, o Bom Pastor, aqui enumeradas, devem fazer-nos perceber
que podemos confiar integral e incondicionalmente n’Ele e entregar, sem receio,
a nossa vida.
No “rebanho” de Jesus, não se entra por convite
especial, nem há um número restrito de vagas a partir do qual mais ninguém pode
entrar… A proposta de salvação que Jesus faz destina-se a todos os homens e
mulheres, sem excepção. O que é decisivo para entrar a fazer parte do rebanho
de Deus é “escutar a voz” de Cristo, aceitar as suas indicações, tornar-se seu
discípulo.
Nas nossas comunidades cristãs, temos pessoas que
presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que elas receberam essa
missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e imperfeições; mas
convém igualmente ter presente que o nosso único “Pastor”, aquele que somos
convidados a escutar e a seguir sem condições, é Cristo.
Os outros “pastores” têm uma missão válida, se a
receberam de Cristo; e a sua actuação nunca pode ser diferente do jeito de
actuar de Cristo.
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