Sábado – XVII Semana – Tempo Comum – Anos Ímpares
Primeira
leitura: Jeremias 26, 11-16.24
A “Lei de
santidade”, além das festas, elenca as normas de ordem social para os anos
santos, seja o ano sabático todos os sete anos (uma semana de anos), seja o ano
jubilar todos os cinquenta anos (sete semanas de anos), valorizando assim a
santidade do dia de sábado e o esquema septenário da semana. Sob esta estrutura
económico-social, descobrem-se elementos
teológicos que realçam o desenvolvimento da revelação divina. Ao conceito
de Deus criador e senhor da história e do mundo, ligam-se os temas do resgate e
da remissão das dívidas.
O ano
jubilar, que tem carácter social, mas com fundamento religioso, amadureceu na
experiência positiva do ano sabático. Fala-se dele neste texto e em Nm 36, 4 e
em Ez 46, 17. O fundamento religioso destas leis sociais encontra-se na
concepção hebraica segundo a qual os
bens do mundo são iguais para todos: a terra pertence a Deus, que libertou
o povo da escravidão do Egipto, os homens são irmãos, e a liberdade da pessoa é
um bem inalienável.
Tudo isto se realiza plenamente em Jesus, que liberta a humanidade do mal e concede o perdão dos pecados.
A primeira
leitura, com a instituição do jubileu, por meio do qual Deus põe limite à
escravidão, à expropriação e aos trabalhos pesados dos campos, realça a intenção de Deus em libertar e redimir os
escravos e os oprimidos da sociedade. Séculos depois, em Nazaré, Jesus lê o
texto de Isaías em que se anuncia e proclama um ano de remissão, um ano de
jubileu (cf. Lc 4, 16,19). Deus não quer prender, nem manter prisioneiro quem
quer que seja: «O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me
ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os
desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos
prisioneiros; para proclamar um ano da graça do Senhor» (Is 61, 1-2a). Deus
quer a remissão: a remissão das dívidas, e a remissão dos pecados.
Deus quer
libertar-nos, quer-nos livres. Que alegria nos dá esta certeza! Deus quer tirar
da opressão as pessoas e as próprias coisas. Daí a lei do repouso jubilar da
terra. A Igreja inspirou-se nesta lei do Levítico para instituir o Jubileu, que
é um ano de remissão, um ano de graça, em que oferece a possibilidade de obter
a remissão da pena merecida com o pecado. Para isso, propõe-nos um contacto
mais fácil com o Senhor, convida-nos a aproximar-nos dele, com a certeza de que
somos libertados e recebemos nova coragem para cumprir cada vez melhor o bem a
que somos chamados.
Evangelho:
Mateus 14, 1-12
O relato de
Mateus sobre o martírio de João Baptista, baseia-se na história, pois se trata
de um acontecimento datado no tempo de Herodes Antipas, filho de Herodes, o
Grande, a quem os romanos reconheceram jurisdição sobre a Galileia e a Pereia,
no norte da Palestina.
A
decapitação do Baptista é motivada pela sua intransigência moral e pela sua
forte personalidade. O profeta não se amedrontava diante de nada nem de
ninguém, quando se tratava de denunciar a imoralidade. Não se amedrontou sequer
diante de Herodes, que tendo repudiado a consorte, tomou por esposa a mulher de
seu irmão. Herodes continha a sua vontade de vingança, porque temia uma
rebelião popular. Mas Herodíades não se preocupava com isso. Assim, quando
Herodes jurou dar à filha de Herodíades o que quer que lhe pedisse, a adúltera
não hesitou em sugerir a cabeça de João (vv. 6-11). E obteve-a! Com o seu
martírio, João Baptista terminou a missão de precursor. E Jesus compreendeu que
era chamado a percorrer o mesmo caminho.
O pecado,
que até pode parecer um acto de libertação da lei de Deus, lança-nos na mais
dura escravidão. Jesus disse-o claramente: «aquele que comete o pecado é servo
do pecado» (Jo 8, 34), e comete pecados cada vez mais graves. Foi o que sucedeu
com Herodes: começou por prender João Baptista e chegou a mandá-lo matar, pois
era escravo de um juramento feito publicamente, e era sobretudo escravo do seu
pecado.
Senhor
Jesus, dá-nos tranquilidade diante do imenso campo de trabalho que nos espera.
Faz-nos compreender e assumir a espiritualidade do jubileu, para defendermos a
vida e a dignidade dos nossos irmãos e irmãs, sem qualquer excepção. Torna-nos
solidários com os teus pobres, com aqueles cujo sangue não é julgado precioso
pelos tiranos e cobardes deste mundo, mas que é precioso aos teus olhos.
Dá-nos a
coragem de João Baptista para denunciarmos os abusos dos poderosos. Dá-nos a
coragem da caridade na verdade, ainda que isso nos venha a custar caro, como
custou a João Baptista, como custou a Ti.
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