29 Agosto 2017.
Martírio de S. João Baptista. Subsídio para a reflexão
O «maior
nascido de mulher» morreu mártir por ter censurado a Herodes Agripa pela sua
conduta desonesta e imoral. Foi vítima
da fé e da missão que exerceu. A sua degolação aconteceu na fortaleza de
Maqueronte, junto ao Mar Morto, lugar de férias de Herodes. O sangue de João
Baptista sela o seu testemunho em favor de Jesus: com a sua morte, completou a
missão de precursor. A Igreja celebra hoje o seu nascimento para o céu, talvez
por, nesta data, foi dedicada em sua honra uma antiga basílica, erguida em
Sebaste, na Samaria.
Primeira
leitura: Jeremias 1, 17-19
João Baptista
ajuda-nos a compreender a missão de Jesus, e a vida de Jeremias ajuda-nos a
compreender a missão de João Baptista. Seria interessante lembrar a vida de
Jeremias para compreender o valor destas duas vidas paralelas. Mas esta leitura
da missa evidencia particularmente a «coragem» do profeta em dizer «tudo», a
sua fortaleza para resistir à prepotência dos poderosos e a sua fé, isto é, a
certeza de vencer em nome do Senhor. São qualidades típicas dos verdadeiros
profetas.
Evangelho:
Marcos 6, 17-29
Marcos coloca a
narrativa do martírio de João Baptista no caminho de Jesus para Jerusalém, como
uma etapa fundamental. Com ela, concluiu-se o ciclo da vida do profeta e
preludia-se o martírio de Jesus.
Não devemos
deixar-nos impressionar apenas pelos pormenores narrativos, aliás muito
sugestivos, desta página de Marcos. O evangelista não pretende evidenciar nem
os vícios de Herodes nem a malícia de Herodíade e nem sequer a leviandade da
filha. A sua intenção é dar o devido realce à figura de João Baptista, que é
como que o «mentor» do Nazareno, e mostrar como este grande profeta leva a
termo a sua vida do mesmo modo e pelos mesmos motivos que Jesus.
Este é o
«pequeno mistério pascal» de João Baptista que, depois de experimentar a
adversidade dos inimigos do evangelho, conhece agora o silêncio do sepulcro,
onde espera a ressurreição.
As memórias
litúrgicas de João Baptista levam-nos a meditar sobre o dom da profecia e sobre
a figura do profeta. Qual é a sua função no meio do povo de Deus? Quais são as aracterísticas
que o qualificam como profeta? De que modo se coloca perante os seus
contemporâneos como sinal de uma presença superior, como porta-voz da Palavra
divina?
O profeta
revela-se como tal pelo seu modo de falar,
pelo estilo da sua pregação. A palavra não é tudo, mas é capaz de
manifestar o sentido de uma presença, incómoda mas incontornável, com a qual
todos se devem confrontar.
O profeta
manifesta-se também, e sobretudo, pelas
suas opções de vida. Assim mostra ter percebido que o tempo em que se vive
aquele em que Deus nos chama a ser-para-os-outros. O profeta não pode escapar a
esse chamamento, sob pena de ser infiel à missão.
Finalmente o
profeta manifesta autenticidade da sua missão pela coragem em dar a vida por aquele que o chamou e por aqueles a
quem é enviado. Ou se é profeta com a vida, a vida gasta por amor, ou não é
profeta a sério.
Sejamos os
“profetas” e os “servidores... em Cristo” do amor redentor de Deus. Só dando
Cristo ao mundo, somos “profetas do amor e servidores da reconciliação dos
homens... em Cristo”. Há que sê-lo pela nossa vida e pelas nossas opções de
vida: “Uma vida serena, porque oferecida em sacrifício a Deus; uma vida alegre,
porque somos testemunhas do amor de Cristo; uma vida empenhada, porque
colaboramos no advento do Reino de Deus; uma vida disponível, porque dada ao
próximo, a exemplo de Cristo; uma vida partilhada, porque queremos ser
testemunhas de que a “a fraternidade por que os homens anseiam é possível em
Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores”.
S. João
Baptista, pregador corajoso e coerente da verdade, interceda por nós e por
todos quantos, na Igreja, são chamados a exercer a missão profética. Que a
exerçamos com clareza, com coerência de vida, com coragem, dispostos a selar
com o próprio sangue o seu testemunho. Que todos os homens apostólicos nos assemelhemos
a ele, a fim de prepararmos os caminhos do Senhor, entre os caminhos dos homens
de hoje. Que o fogo da caridade divina arda em nossos corações, para sermos
zelosos e perseverantes no testemunho do seu amor e no serviço da
reconciliação.
A coragem deste
justo condena o nosso desleixo e incita-nos, a nós pecadores, a sofrer
pacientemente pelos nossos pecados e por seu amor (Leão Dehon, OSP 4, p. 561.).
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