TERÇA-FEIRA – 5ª SEMANA DA QUARESMA
20 MARÇO 2018
Primeira leitura: Números 21, 4-9
O povo de
Israel continuou a contestar Moisés e a murmurar contra a providência de Deus.
O castigo não se fez esperar, porque apareceram as serpentes ardentes, que
mordiam as pessoas e as faziam morrer. Mas o castigo em breve se transforma em
misericórdia. A serpente de bronze erguida sobre um poste, torna-se um sinal de
salvação para quem a olha com fé. As serpentes eram veneradas pelos povos
pagãos vizinhos. Este episódio, fora do seu contexto, poderia ser visto como
idolatria. Mas a tradição javista liga o culto das serpentes, depois destruído
por Ezequias (cf. 2 Re 18, 4) à sábia pedagogia de Deus. Com a mediação de
Moisés, ofereceu ao seu povo a possibilidade de evitar ceder aos cultos das nações
pagãs por onde passava.
A serpente de
bronze torna-se um sinal que encontra continuidade e realização no Evangelho
(cf. Jo 3, 14). A serpente, no deserto, foi sinal da misericórdia de Deus que dá
remédio ao castigo. No Evangelho, Cristo elevado na cruz, mostra o
castigo e a misericórdia juntos: é o castigo de Deus pelo nosso pecado e, ao
mesmo tempo, a maior manifestação do poder divino que cura do pecado.
Evangelho: João 8, 21-30
Em mais uma
discussão, junto ao templo, Jesus oferece aos os chefes dos Judeus nova
oportunidade para serem iluminados sobre o mistério do Filho do homem (cf. Dn
7, 13) e para acolherem a revelação da sua divindade. Duas vezes repete o «Eu
SOLP>, nos vv. 24.28. Mas, mais uma vez recusam a oportunidade,
compreendendo mal as afirmações sobre a sua iminente partida (vv. 21-24), sobre
a sua identidade (vv. 25- 29) de enviado de Deus e de definitivo revelador (cf.
Jo 5, 30; 6, 38). Entendem mal Jesus e as suas palavras. Separa-os um abismo,
que só a fé pode preencher. Jesus convida à fé, que eleva o olhar do homem para
o alto. Mas os chefes do Judeus, mais uma vez, «não perceberam». Jesus
é sinal de contradição. Sê-lo-á maximamente quando for erguido na cruz. Aí, ao
realizar o projecto de salvação, revelará os pensamentos secretos dos
corações e manifestará definitivamente a sua identidade de Filho, que diz e
cumpre a vontade do Pai. Enquanto se aprofunda o abismo entre Jesus e os seus
adversários, o evangelista termina com uma nota de esperança (cf. v. 30).
No evangelho, Jesus alude à salvação
por meio da cruz, de que o episódio da serpente de bronze colocada sobre um
poste (Nm 21, 4-9), é um símbolo. A serpente de
bronze foi erguida sobre um poste; Jesus deve ser erguido na cruz. A expressão
que vem no evangelho de S. João, referente ao erguer de Cristo na cruz,
significa algo como a sua exaltação, a sua glorificação. Deus, querendo
glorificar o seu Filho, deixou que fosse «erguido» na cruz. Uma tal glória pode
parecer estranha a um olhar simplesmente humano. Mas o olhar da fé permite-nos
entrever a enorme honra que foi, para Jesus, aceitar o sacrifício por amor ao
Pai, tal como foi para o Pai um enorme gesto de amor pedir a Jesus o sacrifício
total de Si mesmo. Com esse sacrifício, Jesus fez novas todas as coisas, mudou
o coração do homem.
A graça que
brota da cruz de Cristo, torna-nos capazes de percorrer o caminho da justiça. E
verdade que, por nós mesmos, não podemos ir para onde Ele está, porque não
somos autores da nossa salvação. Mas, se erguermos os nossos olhos,
obscurecidos pelo pecado, para Aquele que, como diz S. Paulo, foi tornado
pecado por nós, nesse cruzar de olhares – porque também Ele nos olha do alto da
cruz – havemos de descobrir, não só que estamos no caminho certo, mas que a
nossa felicidade eterna já começou.
Ao adorarmos a
cruz, na Sexta-feira Santa, poderemos recordar algumas expressões das leituras
de hoje: «Quando alguém olhava para a serpente de bronze, vivis» (Nm 21, 9);
«Então ficareis a saber que Eu SOLP> (Jo 8, 28). Contemplada demorada mente,
a cruz revela-nos quem é Jesus: é o caminho, a verdade, a vida.
Cristo é a
vida. É "Aquele que vive’ (Apoc 1, 18; n. 11). A vida é a primeira
realidade que S. João realça no Verbo eterno de Deus: "N ‘Ele estava a
vida … " (Jo 1, 4) e só porque é" vida", o Verbo é "luz dos
homens’ (Jo 1, 5), que nos permite ver a verdade. A verdade sobre Deus, mas
também a verdade sobre Cristo, a verdade sobre nós mesmos e sobre o projecto de
Deus acerca de nós. Em Cristo, "primogénito’ (Coi 1, 15), isto é, primeiro
projectado, "primícias’ dos "santos’ e dos "ressuscitados’ (Cf.
Jo 1, 17; 1 Cor 15, 20; Coi 1, 18) nós todos fomos, por Deus,
"projectados, pensados, queridos, escolhidos e repletos de todas as
bênçãos, já antes da fundação do mundo (Ef 1, 3-6)".
Senhor Jesus,
ensina-me e ajuda-me a contemplar o teu grande amor pelo Pai, e o grande amor
do Pai por Ti, para que o meu coração se dilate de alegria e de generosidade. O
amor do Pai por Ti manifestou-se na plena confiança com que Te entregou ao
sacrifício que havia de salvar o mundo, fazendo novas todas as coisas, e
mudando o nosso coração. O teu amor pelo Pai manifestou-se na obediência pronta
e generosa com que Te dispuseste a realizar o seu projecto salvador. Nessa troca
de amor, descubro também o imenso amor do Pai, e o teu, por mim e por cada um
dos homens. Esse amor não permitiu que fôssemos abandonados ao horror do
pecado. Contemplando-Te na cruz, descubro o mistério de amor incomensurável com
que fui salvo, com que todos fomos salvos. Eu Te dou graças, de todo o coração,
pedindo que me ajudes a corresponder a esse amor.
Fonte: Resumo e adaptação de um
texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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