Primeira leitura: Isaías 55, 10-11
A secção do
Deutero-Isaías, conclui (Is 55) com o retomar de temas como o perdão, o
regresso à pátria, a participação na natureza divina, o poder da palavra de
Deus. A palavra é a mediação através da qual o homem sente a Deus como próximo
e, ao mesmo tempo, como ausente, uma vez que «os seus caminhos não são os
nossos caminhos- (v. 9).
A Palavra é uma
realidade viva, enviada do céu para realizar a salvação. É capaz de realizar o seu objectivo, tal como a
chuva e a neve, que fecundam a terra e lhe dão capacidade de produzir frutos.
Esta imagem
enchia certamente de consolação o povo cativo em Babilónia, cuja esperança de
regressar à terra encontrava seguro apoio na Palavra de Deus.
A mesma Palavra
nos enche de consolação e esperança, pois Cristo é a Palavra omnipotente feita
carne, enviada do céu para que a nossa terra dê o seu fruto. Ele, que por nós
morreu e ressuscitou, abriu-nos um caminho inesperado para a casa de Deus.
Evangelho: Mateus 6, 7-15
Mateus introduz
o «Pai-nosso» no «Sermão da Montanha», precedido por alguns ensinamentos de
Jesus sobre o modo de rezar: não rezar como os pagãos, que julgam dever usar
muitas palavras para atrair a atenção ou a benevolência das suas divindades (v.
7); Deus, nosso Pai, está sempre atento a cada um de nós e conhece aquilo de
que precisamos (v. 8). Mais do que falar muito, há que ter, diante d ‘ Ele, uma
atitude de filhos. Jesus ensina-nos a chamá-Lo “Abá”, isto é, papá, paizinho,
introduzindo-nos na intimidade da comunhão que existe entre Ele e o Pai.
«Santificado
seja o vosso nome-. Não se trata de nós santificarmos a Deus, que é O Santo,
mas de que, pelas nossas palavras e pela nossa vida, todos os homens e mulheres
do mundo O louvem, O adorem, O reconheçam como Senhor e se tornem e vivam como
seus filhos.
«Venha a nós o
vosso reino». O reino já está no meio de nós. Mas é preciso reconhecê-lo e
acolhê-lo, aceitando a senhoria de Deus.
«Seja feita a
vossa vontade», A vontade de Deus cumpre-se no céu e na terra.
Mas é preciso
que se cumpra em cada um de nós. Por isso, quer que a acolhamos e adiramos a
ela com amor, como Jesus.
«O pão nosso …
». Este pão é tudo aquilo que o homem precisa para viver dignamente como
criatura e filho de Deus, desde o alimento, à casa, às condições de vida, até
ao Pão, que é o próprio Jesus (cf. Jo 6).
«Perdoai-nos …
». Precisamos do perdão de Deus para entrarmos no Reino; mas não podemos pedir
para nós o que recusamos aos outros …
«Não nos
deixeis cair em tentação … ». Pedimos que, diante das provações da vida, jamais
deixemos de acreditar na bondade de Deus, nosso Pai, e jamais reneguemos a fé
em Jesus Cristo, cedendo ao Maligno.
«Livrai-nos do
ma!…». É um pedido que reforça o anterior, pois o Maligno é o instigador do
mal, o tentador.
A palavra
realmente eficaz sobre o nosso coração, e sobre o coração de Deus, é aquela
que, como a chuva e como a neve, vem do céu, é aquela que sai da boca do
próprio Deus. Por isso, Jesus nos oferece um enorme dom, quando partilha
connosco a sua oração, e nos ensina a rezar. Na primitiva igreja, o «Pai nosso»
fazia parte das coisas secretas da fé cristã, protegidas pela lei do arcano. Os
catecúmenos recebiam-no na vigília do baptismo, quando também lhes era
apresentada a Eucaristia. Quem recebiam o «Pai nosso» guardavam-no como uma
relíquia, e esperavam ansiosamente pelo momento em que, saindo da fonte
baptismal, rodeados pelos irmãos e apresentados pela Mãe Igreja, diziam, pela
primeira vez, «Pai», dando-se a conhecer como filhos de Deus.
É bom
recordarmos estas coisas, que nos são referidas, entre outros, por Tertuliano,
porque talvez tenhamos banalizado a «oração do Senhor», dizendo-a sem pensar,
ou dizendo-a como se diz qualquer outra oração em momento de necessidade ou de
medo. Deixámos talvez perder o sentido tremendo que se esconde naquelas
palavras saídas da boca de Deus e dirigidas aos ouvidos do mesmo Deus!
Precisamos de recuperar o «Pai nosso» da rotina que o cobre como um qualquer
material isolante, ou como uma camada de pó que o não deixa brilhar dentro de
nós, que nos impede de nos emocionarmos quando escutamos as suas primeiras
palavras: «Pai nosso». Há que voltar a recebê-lo do Coração de Jesus, tal como
o receberam os Apóstolos no dia em que disseram: «Senhor, ensina-nos a rezar»
(Lc 11, 1-4) e o ouviram pela primeira vez.
Peçamos a
Cristo que nos ensina a repetir o «Pai nosso» com o seu próprio Coração, para
que cresça em nós, dia após dia, o amor filial e confiante para com o nosso Pai
celeste e, com a oração, cresça em nós a caridade, que se torne perdão para
todos os irmãos. Então, a nossa terra será fecunda, dará novos frutos, dará o
pão da misericórdia para saciar a fome de todos os homens. Com Cristo, a nossa
invocação sobe até Deus e torna-se a Sua própria invocação: "Abbá, Pai!’
(cf. Mc 14, 36; Rom 8, 15; Gal 4, 6). Esta oração ao Pai é fortalecida pelo
Espírito (cf. Gal 4, 6; Rom 8, 26- 27), que nos anima a rezar: «seja feita a
vossa vontade», É a nossa reparação, o nosso "sim" de amor à vontade
do Pai, unido ao Sim filial de Cristo (cf. Jo 4, 34; Lc 22, 42).
Ó Jesus, Tu és
a Palavra feita carne, a palavra eficaz, enviada pelo Pai à terra e que a Ele
voltas depois de teres realizado o seu projecto de amor e salvação em favor da
humanidade. Por isso, as tuas palavras estão carregadas de extraordinário
poder.
Tu ensinas-nos
a dizer: «Pai-nosso». Infunde em nós o teu Espírito Santo, para que o digamos
com os sentimentos e as disposições que tinhas no teu próprio Coração. Aumenta
em nós o amor filial e confiante no Pai, e o amor generoso e cheio de
compreensão e misericórdia para com os irmãos.
Que a tua
palavra fecunde o nosso árido coração e o faça produzir frutos de vida nova, e
pão de amor, compaixão e perdão que sacie todos quantos encontrarmos nos
caminhos da vida.
Fonte: Resumo e adpatação local de um texto de "dehonianos.org/portal/liturgia"
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