Sábado – 1ª Semana da Quaresma – Anos Impares
24 Fevereiro 2018
Primeira leitura: Deuteronómio 26, 16-19
Este
texto tem a forma de um tratado de aliança, e está colocado entre o
corpo legislativo do Deuteronómio (capítulos 11-26) e as bênçãos e
maldições que decorrem da observância ou da transgressão dos decretos do
Senhor. Juridicamente, em Israel, o pacto representa a forma mais
radical para construir a comunhão entre pessoas.
Cria-se
uma situação em que os contraentes trocam entre si o que têm de mais
pessoal. Na presença de testemunhas, e com um documento público, cada
uma das partes propõe e aceita um duplo compromisso recíproco.
Mas
a liturgia de hoje apresenta-nos um tipo de «pacto» muito especial: não
é um pacto entre dois homens, mas entre Deus e um povo, entre Deus fiel
e Israel. É um pacto teológico, onde os dois contraentes não se colocam
no mesmo nível.
A
perícopa tem um claro significado didáctico e manifesta a experiência
que Israel fez de Deus. Deus não é um ser longínquo, inacessível; Deus é
comunhão, é vontade de salvação para o povo escolhido. É Ele que elege,
por amor e gratuitamente o povo (cf Dt 4, 3-7). É Ele que dá a Israel
leis e mandamentos, que são um caminho de vida e um modelo de sabedoria
(cf. Bar 4, 1-4). Israel é chamado a corresponder a essa graça pela
obediência e pela fidelidade a Deus.
Evangelho: Mateus 5, 43-48
Mateus
oferece-nos, neste texto, a última antítese com que Jesus revela o
cumprimento dos ensinamentos da Lei. O Levítico ordenara o amor ao
próximo e proibira a vingança e o rancor «contra os filhos do teu Povo]»
(Lev 19, 18).
Mas
o ensino rabínico e outros contemporâneos de Jesus, como os essénios e
os zelotas, admitiam o acrescento «odiarás o teu inimigo». Jesus vai
mais além: exige uma caridade sem limites, e que chegue mesmo aos
inimigos. Porquê? Porque é assim que o Pai nos ama, e nos quer parecidos
com Ele.
A
universalidade do amor cristão idealista. É concreta: propõe o amor a
todos, também a quem não nos ama, não nos cumprimenta … É esse amor que
distingue os discípulos de Cristo dos pagãos e dos pecadores.
É, pois um amor que ultrapassa o simplesmente humano e natural, e nos
projecta para o horizonte infinitamente perfeito do Pai. A gratuidade do
amor torna-se lei que regula a relação com Deus e com os homens. É essa
a justiça superior que Jesus exige para se entrar no Reino.
A
Aliança de que nos fala o Deuteronómio era um pacto de mútua fidelidade
entre Deus e o Povo de Israel: «Hoje, o SENHOR, teu Deus, ordena-te que
cumpras estas leis e preceitos … o SENHOR declarou-te hoje que serias o
seu povo particular. .. ».
Jesus
revela-nos que a obediência às leis e preceitos tinha como objectivo
fazer dos membros do povo de Deus filhos do mesmo Deus, semelhantes ao
Pai, perfeitos como Ele é perfeito, e que essa perfeição havia de se
manifestar na misericórdia, na gratuidade, na bondade para com todos, e
para além de qualquer medida.
Buscar
a perfeição consistirá em procurar uma cada vez maior conformidade com o
coração de Deus, com o coração do seu Filho feito homem.
A
aliança com Deus deve transformar toda a nossa vida, em profundidade, e
não apenas no que se refere à observância exterior das leis e preceitos
do Senhor. Jesus vai até mais longe falando, não de aliança, mas de
filiação: «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.
Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu (vv.
44-45).
O
nosso comportamento deve ser inspirado pelo desejo de nos tornarmos
cada vez mais semelhantes ao nosso Pai do céu. É nisto que consiste o
amor perfeito. Trata-se de oferecer o dom maior, o perdão. Foi desse
modo que Cristo nos amou na cruz, deixando-nos o exemplo e a graça
necessária para nos conformarmos a Ele. Amando os inimigos, rezando por
quem nos quer mal, tornamo-nos filhos de Deus. Já o somos pelo baptismo.
Mas tornamo-nos cada vez mais filhos do Pai misericordioso que está no
céu. E a nossa maior recompensa será o amor do Pai derramado nos nossos
corações.
Para
viver a fraternidade na comunidade pomos em prática os ensinamentos de
Jesus: "Sede misericordiosos, como é misericordioso o vosso Pai. Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados;
perdoai e ser-vos-á perdoado; dai e ser-vos-á dado; uma boa medida … ,
porque a medida que empregardes com os outros será usada convosco’ (Lc
6, 36-38). Não leiamos superficialmente estas palavras de Jesus.
Reflictamos bem sobre elas. Se as pusermos em prática, com a ajuda do
Espírito Santo, experimentaremos uma profunda serenidade interior,
seremos criaturas de paz, de alegria, de bondade e de mansidão.
O
condicional é utilizado muito oportunamente, porque a construção de uma
comunidade fraterna, da comunhão, não é fácil. Infelizmente na
comunidade religiosa, como na comunidade cristã, também nascem
inimizades, pequenas, mesquinhas, porque causadas, geralmente, por
corações tacanhos, feridos pelo ciúme e pela inveja. São, porém,
inimizades que provocam muito sofrimento em quem deles é objecto, sem
culpa. Valem, então, as palavras de Jesus: "Amai os vossos inimigos,
fazei bem àqueles que vos odeiam, bendizei aqueles que vos amaldiçoam,
rezai por aqueles que vos maltratam (Lc 6, 27-28). "Para que sejais
filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o sol para os bons e para os
maus, e manda a chuva para os justos e os injustos … Sede, portanto,
perfeitos como é perfeito o Pai celeste’ (Mt 5, 45-46).
Senhor
Jesus, que no teu rosto humano nos revelaste o rosto do Pai, faz que,
olhando para Ti, que não Te envergonhaste de ser nosso irmão, aprendamos
a viver como filhos obedientes à vontade de Deus. Ele derramou o seu
amor gratuito e generoso nos nossos corações, renovando-os, fazendo de
nós seus filhos e teus irmãos. Infunde, agora, em nossos corações, o teu
Espírito Santo, que faça crescer em nós o homem interior, à tua imagem e
semelhança, para vivermos, cada vez mais, como verdadeiros filhos do
Pai e como bons irmãos de todos os homens, também daqueles de quem não
gostamos, ou que nos fazem sofrer. Acolhendo a graça divina, que repara
em nós a imagem do Pai, e a aperfeiçoa, seremos servidores da paz e da
reconciliação na Igreja e no mundo.
Fonte:
Resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia
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