Sábado– XIV Semana – Tempo Comum
Primeira
leitura: Génesis 49, 29-32;50, 15-26a
O epílogo da
história de José reaviva o grande tema que a domina: a destruição e a
reconstrução da família.
Num plano mais geral, recorda a promessa de
Deus a Abraão, fio condutor de todas as tradições patriarcais.
Num plano ainda
mais alargado suscita o tema da luta entre o bem e o mal, entre a bênção e a
maldição, entre a salvação e a perdição, tema de toda a Bíblia.
O nosso texto
une o pedido de Jacob para ser sepultado no lugar onde estão os seus pais com a
conclusão do livro do Génesis, onde se contrapõem o medo dos irmãos por causa
de possível represália de José, depois da morte do pai, e a reacção do mesmo
José reafirmando o perdão, e revelando a consciência de que, sendo embora
poderoso, jamais poderá assumir o lugar de Deus, o único a quem pertence julgar
e dar ou tirar a vida.
O regresso dos
restos mortais de Jacob-Israel à terra dos pais preanuncia o regresso do povo
de Israel, depois de anos de sofrimento no Egipto. Nas palavras de José, faz-se
memória do compromisso, da aliança que
Deus estabeleceu com os pais, e que dá sentido à esperança do povo. Essa
esperança irá concretizar-se numa nova fase que encherá de alegria a terra,
quando o Filho de Deus vier fazer de todos os homens um só povo, e conduzi-lo à
pátria dos seus desejos, Deus Pai.
A conclusão da
história de José lança luz sobre o modo como havemos de encarar a questão do
mal. Essencialmente, diz-nos que Deus respeita a liberdade das criaturas e
permite o mal porque pode transformá-lo em bem.
São respostas
que é preciso aprofundar. Deus permitiu que os irmãos de José agissem
maldosamente contra ele, e não os forçou a fazer o bem, porque os criou livres,
respeita a liberdade e quer o nosso bem. Nunca é eficaz obrigar a fazer o bem.
Quem faz o bem obrigado, sofre uma dura opressão e, no mais íntimo de si mesmo,
continua a desejar fazer o mal.
Por isso, Deus,
querendo a nossa felicidade, respeita a liberdade que nos deu para que possamos
fazer o bem livremente, com amor e sem constrangimentos.
Por outro lado,
Deus permite o mal porque pode fazê-lo servir ao bem: «Premeditastes contra mim
o mal. Mas Deus aproveitou-o para o bem» (v. 20), afirma José. É uma reflexão
profunda. Deus é capaz de virar o sentido das acções humanas. Mas – há que
tê-lo em consideração – Deus procura pessoas que acolham a sua acção. José
acolheu o pensamento de Deus. Em vez de responder ao mal com o mal, consciente
da bondade e da misericórdia de Deus, agiu como Ele: renunciou à vingança e
perdoou.
Quando nos
debatemos com o problema do mal, devemos sempre interrogar-nos: «Aceito as
intenções de Deus?» As intenções de Deus exigem conversão, que nos leva a
responder ao mal com o bem.
A história de
José antecipa o mistério da Cruz. A cruz de Jesus é o exemplo mais flagrante da
inversão do mal em bem. Mas isso só foi possível porque Jesus abriu o seu
coração às intenções positivas de Deus. O segredo da redenção está na generosa
abertura de Jesus ao acolhimento da vontade salvífica do Pai e em assumi-la.
Evangelho:
Mateus 10, 24-33
As exigências
da missão são extremas, podendo incluir a perseguição e a morte, como lemos
ontem.
Hoje, Jesus introduz no seu discurso a
expressão «Não temais», que ocorre 366 vezes na Bíblia. O nosso texto está
estruturado sobre a repetição, a modo de imperativo, do convite a não ter medo
(vv. 26.28.31), seguido das razões pelas quais a confiança deve sempre vencer.
A primeira
razão é: ainda que o bem esteja, por agora, velado, e a astúcia e a virulência
do mal pareçam escondê-lo, acontecerá uma reviravolta completa e veremos, no
triunfo de Cristo, a vitória dos que escolheram praticar o bem. Eis a razão
pela qual os discípulos de Jesus são encorajados à audácia do anúncio. O que
recebemos é pequeno como uma luzinha nas trevas, como um sussurro ao ouvido,
mas deve ser dado à plena luz do dia, gritado sobre os telhados.
Inicialmente, o
Evangelho era algo de oculto e misterioso, que era preciso manter em segredo,
dado a conhecer a poucos e com as devidas precauções, para não desencadear a
perseguição. Mas chegou o tempo de o dar a conhecer ao mundo inteiro! O pior
que pode acontecer aos missionários do Reino é a morte do corpo. Mas seria
muito pior a morte da alma, a perda da vida (alma significa vida). Ora, só Deus
pode tirar a vida. Mas não o faz àqueles que O amam e O temem.
Jesus conclui a sua argumentação com duas
imagens muito ternas: a dos pássaros que, valendo pouco, são amados pelo Pai, e
a dos cabelos da cabeça, contados por Ele. Não há, pois, que temer: «Ide:
proclamai que o Reino do Céu está perto!» (Mt 10, 7).
Muita gente se
escandaliza e interroga ao ver o mal que campeia no mundo. Como pode Deus
permitir tantos acontecimentos trágicos, que enchem de sofrimento a vida de
pessoas e de povos inteiros?
O evangelho
diz-nos que o discípulo, chamado a anunciar o Evangelho, deve fazê-lo corajosa
e coerentemente. O Senhor está com ele (cf. Mt 28, 19s.). Essa companhia
liberta o discípulo do medo da morte, e leva-o a olhar para além dela. De
facto, em Cristo a morte foi destruída e a vida triunfou. «É digna de fé esta
palavra: Se com Ele morrermos, também com Ele viveremos. Se nos mantivermos
firmes, reinaremos com Ele. Se o negarmos, também Ele nos negará. Se formos
infiéis, Ele permanecerá fiel, pois não pode negar-se a si mesmo» (2 Tm 2,
11s.). É o novo começo da vida do crente, porque, Jesus Cristo, ao vencer a
morte, constrói a história a partir do novo início da sua ressurreição. O
discípulo constrói-se sobre Cristo (Cl 2, 7) e é «associado à sua plenitude»
(Cl 2, 9), por ser «sepultado com Ele no Baptismo, também foi com Ele que foi
ressuscitado, pela fé que tem no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos»
(cf. Cl 2, 12).
A missão do
discípulo encontra neste acontecimento o seu “começo” e a certeza que é
acompanhada pela presença providente do Pai, que guarda os seus fiéis.
Fonte:
De um texto
resumido e adaptado localmente de :<dehonianos.org/portal/liturgia>
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