quarta-feira, 12 de abril de 2017

REFLEXÃO COM MOTIVO DA RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS SACEDOTAIS NA MISSA CRISMAL



Ungidos com o óleo da alegria

No Hoje nesta Celebração da Missa Crismal e da renovação das Promessas Sacerdotais, comemoramos o dia feliz da instituição do sacerdócio e o da nossa ordenação sacerdotal. 

O Senhor ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel é chamado o sacerdote para ser ungido e ao mesmo povo é enviado para ungir.
Ungidos com óleo de alegria para ungir com óleo de alegria. 

A alegria sacerdotal tem a sua fonte no Amor do Pai, e o Senhor deseja que a alegria deste amor «esteja em nós» e «seja completa» (Jo 15, 11).
O sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza  do dom que nos é dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens:

- O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza;
- é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo;
- é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; - o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho.

 Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças; por isso, a nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno é a oração da nossa Mãe: sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a minha pequenez (cf. Lc 1, 48). E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria na nossa pequenez!
Na nossa alegria sacerdotal, encontramos três características significativas: uma alegria que nos unge, uma alegria incorruptível e uma alegria missionária.
Uma alegria que nos unge.
 
Penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o sacramentalmente. Os sinais da liturgia da ordenação falam-nos do desejo materno que a Igreja tem de transmitir e comunicar tudo aquilo que o Senhor nos deu: a imposição das mãos, a unção com o santo Crisma, o revestir-se com os paramentos sagrados, a participação imediata na primeira Consagração... A graça enche-nos e derrama-se íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até aos ossos... e a nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.
Uma alegria incorruptível

A integridade do Dom é fonte incessante de alegria: uma alegria incorruptível, a propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16, 22). Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da vida, mas, no fundo, permanece intacta como o carvão aceso  sob as cinzas, e sempre se pode renovar. Permanece sempre actual a recomendação de Paulo a Timóteo: reaviva o fogo do dom de Deus, que está em ti pela imposição das minhas mãos (cf. 2 Tm 1, 6).
Uma alegria missionária: a alegria do sacerdote está intimamente relacionada com o povo fiel das nossas comunidades, porque se trata de uma alegria  missionária. A unção ordena-se para ungir o povo  de Deus: para baptizar e confirmar, para curar e consagrar, para abençoar, para consolar e evangelizar.
E, sendo uma alegria apenas quando o pastor está no meio do seu rebanho (mesmo no silêncio da oração, o pastor que adora o Pai está no meio das suas ovelhas), é, por isso, uma «alegria guardada» por este mesmo rebanho. Mesmo nos momentos de tristeza, quando tudo parece entenebrecer-se e nos seduz a vertigem do isolamento, naqueles momentos apáticos, mesmo em tais momentos o povo de Deus é capaz de guardar a alegria, é capaz de proteger-te, abraçar-te, ajudar-te a abrir o coração e reencontrar uma alegria renovada.
«Alegria guardada» pelo rebanho e guardada também pela pobreza, pela fidelidade e pela obediência:

- A alegria do sacerdote é uma alegria que tem como irmã a pobreza.
O sacerdote é pobre de alegrias meramente humanas: renunciou a tantas coisas! E, visto que é pobre – ele que tantas coisas dá aos outros –, a sua alegria deve pedi-la ao Senhor e ao povo fiel de Deus. Não deve buscá-la ele mesmo. Sabemos que o nosso povo é generosíssimo a agradecer aos sacerdotes os mínimos gestos de bênção e, de modo especial, os Sacramentos.

Falando da crise de identidade sacerdotal, não têm em conta que a identidade pressupõe pertença. Não há identidade – e, consequentemente, alegria de viver – sem uma activa e empenhada pertença ao povo fiel de Deus (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 268). O sacerdote que pretende encontrar a identidade sacerdotal indagando apenas  na própria interioridade, talvez não encontre nada mais senão sinais que dizem «saída»: sai de ti mesmo, sai em busca de Deus na adoração, sai e dá ao teu povo aquilo que te foi confiado, e o teu povo terá o cuidado de fazer-te sentir e experimentar quem és, como te chamas, qual é a tua identidade. Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza.

- A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como irmã a fidelidade. Não tanto no sentido de que seremos todos «imaculados», dado que somos pecadores, como sobretudo no sentido de uma fidelidade sempre nova à Igreja.
Aqui está a chave da fecundidade. Os filhos espirituais que o Senhor dá a cada sacerdote, aqueles que baptizou, as famílias que abençoou e ajudou a caminhar, os doentes que apoia, os jovens com quem partilha a catequese e a formação, os pobres que socorre… todos eles são esta «Esposa. É a Igreja viva, com nome e apelido, da qual o sacerdote cuida na sua paróquia ou na missão que lhe foi confiada, é essa que lhe dá alegria quando lhe é fiel, quando faz tudo o que deve fazer e deixa tudo o que deve deixar contanto que permaneça no meio das ovelhas que o Senhor lhe confiou.

- A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como irmã a obediência.
Obediência à Igreja nos superiores que nos dá: a paróquia à qual sou enviado, as faculdades do ministério, aquele encargo particular... e ainda a união com Deus Pai, de Quem deriva toda a paternidade.
Mas também a obediência à Igreja no serviço: disponibilidade e prontidão para servir a todos, sempre e da melhor maneira, Onde o povo de Deus tem um desejo ou uma necessidade, aí está o sacerdote que sabe escutar.

Hoje peço ao Senhor Jesus que conserve o brilho jubiloso nos olhos dos seus sacerdotes ordenados, que partem para «se dar a comer» pelo mundo, para consumar-se no meio do povo fiel de Deus;
- peço ao Senhor Jesus que confirme a alegria sacerdotal daqueles que têm muitos anos de ministério. Aquela alegria que, sem desaparecer dos olhos, pousa sobre os ombros de quantos suportam o peso do ministério, aqueles sacerdotes que já tomaram o pulso ao trabalho, reúnem as suas forças e se rearmam. Conserva, Senhor, a profundidade e a sábia maturidade da alegria dos sacerdotes adultos. Saibam orar como Neemias: a alegria do Senhor é a minha força  (cf. Ne 8, 10).

 - peço ao Senhor Jesus que brilhe a alegria dos sacerdotes doentes. É a alegria da Cruz, que dimana da certeza de possuir um tesouro incorruptível num vaso de barro que se vai desfazendo.
  
Fonte: a partir da Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de 2.014

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