Ungidos com o óleo da alegria
No Hoje nesta Celebração da Missa Crismal e da renovação
das Promessas Sacerdotais, comemoramos o dia feliz da instituição do sacerdócio
e o da nossa ordenação sacerdotal.
O Senhor
ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta
unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo
sacerdotal. A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como
para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel é chamado o
sacerdote para ser ungido e ao mesmo povo é enviado para ungir.
Ungidos com
óleo de alegria para ungir com óleo de alegria.
A alegria sacerdotal tem a sua fonte
no Amor do Pai, e o Senhor deseja que a alegria deste amor «esteja em nós» e
«seja completa» (Jo
15, 11).
O sacerdote é uma pessoa muito
pequena: a grandeza do dom que nos é
dado para o ministério relega-nos entre os menores dos homens:
- O
sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua
pobreza;
- é o servo
mais inútil, se Jesus não o trata como amigo;
- é o mais
louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; - o
mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho.
Não há
ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças; por isso, a
nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno é a oração da nossa Mãe:
sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a minha pequenez (cf. Lc
1, 48). E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria na nossa
pequenez!
Na nossa
alegria sacerdotal, encontramos três
características significativas: uma alegria que nos unge, uma alegria incorruptível
e uma alegria missionária.
Uma alegria que nos unge.
Penetrou no
íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o sacramentalmente. Os
sinais da liturgia da ordenação falam-nos do desejo materno que a Igreja tem de
transmitir e comunicar tudo aquilo que o Senhor nos deu: a imposição das mãos,
a unção com o santo Crisma, o revestir-se com os paramentos sagrados, a
participação imediata na primeira Consagração... A graça enche-nos e derrama-se
íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até aos ossos... e a
nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.
Uma alegria incorruptível.
A integridade
do Dom é fonte incessante de alegria: uma alegria incorruptível, a propósito da
qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16, 22).
Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da vida,
mas, no fundo, permanece intacta como o carvão aceso sob as cinzas, e sempre se pode renovar.
Permanece sempre actual a recomendação de Paulo a Timóteo: reaviva o fogo do dom de Deus, que está em ti pela imposição das minhas
mãos (cf. 2 Tm 1, 6).
Uma alegria missionária: a alegria do sacerdote está
intimamente relacionada com o povo fiel das nossas comunidades, porque se trata
de uma alegria missionária. A unção ordena-se para ungir o povo de Deus: para baptizar e confirmar, para
curar e consagrar, para abençoar, para consolar e evangelizar.
E, sendo uma
alegria apenas quando o pastor está no meio do seu rebanho (mesmo no silêncio da oração, o pastor que adora o Pai está no meio das
suas ovelhas), é, por isso, uma «alegria guardada» por este mesmo rebanho. Mesmo nos momentos de tristeza, quando tudo
parece entenebrecer-se e nos seduz a vertigem do isolamento, naqueles momentos
apáticos, mesmo em tais momentos o povo de Deus é capaz de guardar a alegria,
é capaz de proteger-te, abraçar-te, ajudar-te a abrir o coração e reencontrar
uma alegria renovada.
«Alegria
guardada» pelo rebanho e guardada também pela pobreza, pela fidelidade e pela
obediência:
- A alegria do sacerdote é uma
alegria que tem como irmã a pobreza.
O sacerdote é pobre de alegrias
meramente humanas: renunciou a tantas coisas! E, visto que é pobre – ele que tantas coisas dá aos
outros –, a sua alegria deve pedi-la ao Senhor e ao povo fiel de Deus. Não deve
buscá-la ele mesmo. Sabemos que o nosso povo é generosíssimo a agradecer aos
sacerdotes os mínimos gestos de bênção e, de modo especial, os Sacramentos.
Falando da crise de identidade
sacerdotal, não têm em conta que a identidade pressupõe pertença. Não há
identidade – e, consequentemente, alegria de viver – sem uma activa e empenhada
pertença ao povo fiel de Deus (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium,
268). O
sacerdote que pretende encontrar a identidade sacerdotal indagando apenas na própria interioridade, talvez não encontre
nada mais senão sinais que dizem «saída»: sai
de ti mesmo, sai em busca de Deus na adoração, sai e dá ao teu povo aquilo que
te foi confiado, e o teu povo terá o cuidado de fazer-te sentir e experimentar
quem és, como te chamas, qual é a tua identidade. Se não sais de ti mesmo, o
óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer
despojar-se de si, comporta pobreza.
- A alegria sacerdotal é uma alegria
que tem como irmã a fidelidade. Não tanto no sentido de que seremos
todos «imaculados», dado que somos pecadores, como sobretudo no sentido de uma fidelidade
sempre nova à Igreja.
Aqui está a
chave da fecundidade. Os filhos espirituais que o Senhor dá a cada sacerdote,
aqueles que baptizou, as famílias que abençoou e ajudou a caminhar, os doentes
que apoia, os jovens com quem partilha a catequese e a formação, os pobres que
socorre… todos eles são esta «Esposa. É a Igreja viva, com nome e apelido, da
qual o sacerdote cuida na sua paróquia ou na missão que lhe foi confiada, é
essa que lhe dá alegria quando lhe é fiel, quando faz tudo o que deve fazer e
deixa tudo o que deve deixar contanto que permaneça no meio das ovelhas que o
Senhor lhe confiou.
- A alegria sacerdotal é uma alegria
que tem como irmã a obediência.
Obediência à
Igreja nos superiores que nos dá: a paróquia à qual sou enviado, as faculdades
do ministério, aquele encargo particular... e ainda a união com Deus Pai, de
Quem deriva toda a paternidade.
Mas também a
obediência à Igreja no serviço: disponibilidade e prontidão para servir a
todos, sempre e da melhor maneira, Onde
o povo de Deus tem um desejo ou uma necessidade, aí está o sacerdote que sabe
escutar.
Hoje peço ao
Senhor Jesus que conserve o brilho jubiloso nos olhos dos seus sacerdotes ordenados,
que partem para «se dar a comer» pelo mundo, para consumar-se no meio do povo
fiel de Deus;
- peço ao
Senhor Jesus que confirme a alegria sacerdotal daqueles que têm muitos anos de
ministério. Aquela alegria que, sem desaparecer dos olhos, pousa sobre os
ombros de quantos suportam o peso do ministério, aqueles sacerdotes que já
tomaram o pulso ao trabalho, reúnem as suas forças e se rearmam. Conserva,
Senhor, a profundidade e a sábia maturidade da alegria dos sacerdotes adultos.
Saibam orar como Neemias: a alegria do Senhor é a minha força (cf. Ne
8, 10).
- peço ao Senhor Jesus que brilhe a alegria
dos sacerdotes doentes. É a alegria da Cruz, que dimana da certeza de possuir
um tesouro incorruptível num vaso de barro que se vai desfazendo.
Fonte: a partir da Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de 2.014
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