QUARTA-FEIRA – SEMANA –TEMPO COMUM – ANOS PARES –
- 18 JULHO 2018
Primeira leitura: Isaías 10, 5-7. 13-16
Este oráculo deve ser entendido no contexto da
iminente ameaça da invasão assíria. O rei de Judá, Acaz primeiro, e o seu filho
Ezequias, depois, adoptam políticas diferentes diante da super-potência
estrangeira. Acaz opta por uma aliança-vassalagem; Ezequias, pela oposição. Mas
ambos
não escutam Isaías, que prega a fé em Deus, como garantia de estabilidade e de
segurança para o reino de Judá. O profeta vê, cada vez mais, a Assíria
como instrumento de punição usado por Deus para advertir o seu povo e chamá-lo
à conversão. Assim, lança um dos pilares básicos da teologia bíblica: tudo está
nas mãos de Deus.
A criação e a história estão submetidas aos seus
desígnios. Para melhor se fazer compreender, o profeta descreve
antropomorficamente a Deus, como se fosse uma pessoa ofendida e ultrajada, e o
seu povo espezinhado como pó dos caminhos. A situação não podia durar muito. Se
Judá não compreendia o papel da Assíria nos planos divinos, menos ainda Assur o
compreenderia. Nunca lhe passaria pela cabeça ser simples instrumento de um
Deus estrangeiro. Mas enganou-se, diz Isaías, teólogo da história. A grandeza
de um povo, Judá ou outro qualquer, não está na política ou sabedoria humanas,
mas na fidelidade aos desígnios de Deus. A história veio a confirmar os oráculos
de Isaías.
O texto que hoje escutamos é como que um meteorito
caído do céu joânico. Jesus louva e dá graças ao Pai por actuar de modo tão
diferente da lógica humana que exalta o poder e a força em qualquer âmbito da
existência. Jesus verifica que são os «pequeninos» que beneficiam da revelação
do Pai (v. 25).
A revelação da
paternidade divina, de que Deus é Pai, sobretudo de Jesus e, por meio d´Ele,
dos crentes, é o núcleo fundamental da pregação de Jesus. Na paternidade divina
está resumido tudo quanto poderia dizer-se da relação de Deus com os homens. Na
filiação divina está resumido tudo o que poderia dizer-se da relação dos homens
com Deus. É, pois, o melhor resumo do evangelho.
O evangelista aproveita a ocasião para declarar a consciência de Jesus e a fé da igreja no mistério das relações trinitárias.
O evangelista aproveita a ocasião para declarar a consciência de Jesus e a fé da igreja no mistério das relações trinitárias.
O Pai, por
amor, dá tudo ao Filho que, por amor, tudo acolhe e tudo restitui ao Pai. O
movimento eterno de dom recíproco entre o Pai e o Filho permanece incognoscível
à criatura humana. Todavia, por obra do Espírito, efusão perene de amor, o Pai
torna-se acessível no Filho e revela-se a si mesmo (v. 27). Tal manifestação é
incompreensível à sabedoria humana. Só quem se torna «pequenino», disponível a
entrar na lógica da gratuidade de Deus, pode compreendê-la.
O homem que recusa a Deus, fecha-se no gueto dos seus
instintos, dos seus pontos de vista, de uma inteligência que, por muito que
possa percorrer os espaços siderais ou penetrar nas mais pequenas partículas da
matéria, não encontra o caminho da alegria, da paz, da plenitude interior. Do
mesmo modo, o homem que se sente senhor do mundo, da sua existência e da
existência dos outros, não atinge o âmago do que é viver, o seu significado
último, que, só por si, lhe dá consistência. Pelo contrário, é isso que é
revelado a quem aceita a realidade de ser criatura, pequena diante do Criador,
mas tão preciosa para Ele, que a chama a participar da sua vida.
A primeira leitura apresenta-nos um «entendido» que erra completamente: «Foi pela força da minha mão que fiz isto, com a minha sabedoria, porque sou inteligente. Mudei as fronteiras dos povos, saqueei os seus tesouros… derrubei toda aquela gente» (v. 13). Julga-se inteligente, e não se dá conta de que é um simples instrumento nas mãos de Deus: «Ai da Assíria, vara da minha cólera, o bastão das suas mãos é o bastão do meu furor!… Um bastão não pode comandar um homem, é o homem que faz mover o bastão» (vv. 5.15b).
Ao contrário do «sábio e entendido» da primeira leitura, os «pequeninos» do evangelho, sobre os quais se inclina o olhar comprazido de Deus, entendem os mistérios do Reino: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as revelaste aos pequeninos» (v. 25).
É preciso ser «pequeninos» para acolher o dom de reconhecer o mistério de Jesus, para entrar no conhecimento do Pai e do Filho, no segredo da sua vida, conforme é da vontade de Deus. Jesus bendiz o Pai por esta sua vontade, Ele que se fez «pequenino», humilde, manso, completamente disponível a realizar a sua vontade.
O verdadeiro poder do homem, não depende do que tem, dos meios de que dispõe, mas dos dons do Pai, que os dá a quem é suficientemente pobre para os receber: «Eu Te bendigo, ó Pai, porque revelaste estas coisas aos pobres…» (Mt 11, 25ss). A pobreza cristã, e mesmo a pobreza dos religiosos, não é algo de simplesmente negativo. É bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres» (Lc 6, 20). Bem-aventurados porque lhes é oferecido um encontro de conhecimento e de amor com Jesus e, por meio d
e Jesus, com o Pai. Bem-aventurados porque, nesse encontro-conhecimento, experimentam a alegria, a paz, o amor, que é Jesus, bem-aventurança de todas as bem-aventuranças.
Eu Te bendigo, ó Pai, porque nos destes o teu Filho
Jesus e, n´Ele, nos revelastes quanto nos amas. Porque decidiste manifestar-Te
a nós, posso, agora, falar-Te com a confiança e o atrevimento de um filho.
Renova no meu coração a certeza da presença do Espírito, que me garanta que és Pai, que Jesus é o Senhor, que sou chamado à bem-aventurança da comunhão Contigo. Sei que sou uma criatura pequena e frágil. Mas também sei que me amas. Que o teu Espírito de sabedoria e de piedade acenda em mim o gosto pela minha pequenez e pela simplicidade, para que possa sempre acolher-Te, qualquer seja o modo com que decidas manifestar-Te.
Fonte: adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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