SÁBADO
2ª SEMANA ––
PÁSCOA
14 Abril 2018
Primeira leitura: Actos 6, 1-7
A realidade da primitiva Igreja era mais complexa do
que, à primeira vista, deixam perceber os resumos idealizados de Lucas. A
primeira comunidade integrava grupos de crentes de diferentes culturas, com
mentalidades e posições sociais diferentes. As queixas dos helenistas contra os
hebreus (v. 1) são um claro exemplo das dificuldades e tensões que havia. Os
apóstolos reflectem e tomam decisões. Trata-se, em primeiro lugar, de um
problema económico. As viúvas de homens da diáspora, que tinham vindo passar a
Jerusalém os seus últimos dias, estavam sem apoio familiar. Para prestar este
apoio, surge um novo ministério na Igreja, o dos diáconos. A eleição dos sete
«homens de boa reputação» é feita pela comunidade.
Os apóstolos
confiam-lhes o ministério pela imposição das mãos, gesto que simboliza a
comunicação do Espírito, e a associação e participação dos sete eleitos no seu
próprio ofício apostólico. De facto, os diáconos não só cuidarão do serviço das
mesas, mas também se vão dedicar à pregação. Serão os casos de Estêvão e de
Filipe (cf. Act 6, 8dd; 8, 26ss.)
Evangelho: João 6, 16-21
A cena evangélica que hoje escutamos é narrada pelos
Sinópticos e por João. Mas, enquanto em Mateus, Marcos e Lucas nos aparece
estreitamente relacionada com a multiplicação dos pães, no quarto evangelho
está apenas justaposta à narrativa desse milagre do Senhor.
Os discípulos estão na barca, ao cair da noite. Tinham
remado com esforço e lutado contra as dificuldades do momento, quando viram
Jesus caminhar sobre as águas, e se encheram de medo. O encontro com o Mestre
fá-los ultrapassar a angústia. As suas palavras «Sou Eu, não tenhais medo»
dão-lhes confiança e serenidade, porque reconhecem em Jesus a presença poderosa
e salvífica de Deus.
O seu Mestre não é apenas o Messias que lhes mata a
fome, mas é uma pessoa divina que vai ao seu encontro com amor. Ao reconhecerem
a identidade de Jesus, os discípulos chegam «à terra para onde iam». Jesus é o
lugar da presença de Deus no meio dos homens. O seu rosto humano esconde o seu
mistério e a sua identidade. Mas quem sabe ler na pessoa de Jesus a
manifestação de um Deus que ama, torna-se seu discípulo e permanece unido a Ele,
apesar da aura inacessível que envolve a sua pessoa. As cenas da multiplicação
dos pães e da caminhada sobre as águas tornam-se epifania de Cristo para os
seus discípulos.
O texto da primeira leitura parece ofuscar os quadros
idílicos da primitiva comunidade, que encontramos em vários resumos dos Actos.
Mas, Lucas é realista: mesmo nas comunidades mais perfeitas, não faltam
problemas e tensões. O que é preciso é enfrentá-los comunitariamente, para que
não bloqueiem a comunidade e não atrapalhem a difusão do Evangelho. É o que
fazem os Apóstolos, dando exemplo de flexibilidade e de sábia orientação da
comunidade. Oxalá sempre se tivesse actuado assim ao longo da história da
Igreja, e se possa actuar do mesmo modo no presente e no futuro!
O episódio evangélico descrito por João é mais um dos
que preparavam os discípulos para o mistério da morte e da ressurreição de
Jesus. Ao caminhar sobre o mar, Jesus prefigura a sua travessia vitoriosa
através da morte, muitas vezes comparada, na Sagrada Escritura, ao mar:
«Cercavam-me as ondas da morte, assustavam-me as torrentes destruidoras, os
laços do abismo me comprimiam (2 Sm 22, 5);
«Cercaram- me
as ondas da morte e as vagas destruidoras encheram-me de terror; envolveram- me
os laços do Abismo» (Sl 18, 5). «Soprando uma forte ventania, o lago começou a
agitar-se» (v. 18). Estas palavras prefiguram a paixão, a terrível tempestade
que dispersará os discípulos. Mas Jesus, caminhando serenamente sobre o mar,
dirige-se para a barca. Os discípulos assustam-se, como na paixão e mesmo no
momento da ressurreição. Mas Jesus apresenta-se e diz-lhe: «Sou Eu, não tenhais
medo!» (v. 20). Depois da paixão, Jesus ressuscitado também se apresenta aos
discípulos dizendo:
«Sou eu!… A paz esteja convosco; não temais».
João diz-nos que, tendo reconhecido Jesus, «Quiseram recebê-lo logo no barco, e o barco chegou imediatamente à terra para onde iam» (v. 20). Quando se aceita Jesus no seu mistério de morte e de ressurreição, chegamos à outra margem: encontramos a luz e a paz de Deus.
Como “Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus” (Cst. 6)
somos chamados a ser “profetas do amor e… servidores da reconciliação” (Cst.
7); “Na comunhão, mesmo para além dos conflitos, e no perdão recíproco
quereríamos mostrar que a fraternidade por que os homens anseiam é possível em
Jesus Cristo, e dela quereríamos ser fiéis servidores” (Cst. 65). Não devemos,
por isso, deixar-nos bloquear pelas dificuldades do diálogo comunitário. É
preciso ter coragem para começar, força e humildade para
perseverar, como pobres, como pequenos segundo o Evangelho: "Sede alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração" (Rom 12, 12; cf. 1 Jo 4, 16).
perseverar, como pobres, como pequenos segundo o Evangelho: "Sede alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração" (Rom 12, 12; cf. 1 Jo 4, 16).
Senhor, quero hoje falar-te da minha comunidade, das
tensões que por vezes surgem e da dificuldade em compô-las. Quando me sinto
menos bem tratado por quem detém a autoridade, facilmente me impaciento e
revolto; mas quando me pertence mandar, também facilmente considero como
insatisfeitos e rebeldes aqueles que me criticam.
Dá-me, Senhor, a sabedoria dos Doze, que escutam e sabem envolver toda a comunidade na solução das dificuldades e tensões. Dá às nossas comunidades capacidade de escuta e de participação. Dá-nos a todos criatividade suficiente para enfrentar e resolver com serenidade as normais dificuldades da vida comum.
Dá-me, Senhor, a sabedoria dos Doze, que escutam e sabem envolver toda a comunidade na solução das dificuldades e tensões. Dá às nossas comunidades capacidade de escuta e de participação. Dá-nos a todos criatividade suficiente para enfrentar e resolver com serenidade as normais dificuldades da vida comum.
Fonte: resumo e
adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
Sem comentários:
Enviar um comentário