TERÇA-FEIRA – 2ª
SEMANA DA PÁSCOA
10 ABRIL 2018
Lucas apresenta-nos mais um breve resumo sobre o teor
de vida da Igreja nascida do Pentecostes, acentuando a eficácia do testemunho
apostólico sobre a Ressurreição, que dá origem a uma nova criação, que
justifica o estilo de vida da comunidade e, concretamente, a partilha de bens.
Nesta partilha, notamos dois aspectos: o primeiro
consiste em pôr em comum os próprios bens, partilhando o seu uso; mantendo cada
um a propriedade dos seus bens, considera-se apenas administrador dos mesmos,
pondo-os à disposição dos outros; o segundo aspecto consiste em vender os
próprios bens, distribuindo o lucro pelos pobres; neste caso, vendidos os bens,
apresentavam o lucro aos apóstolos que o distribuíam.
Mas os Actos apresentam outras formas de partilha dos
bens: Paulo falará do trabalho com as próprias mãos, para prover às
necessidades dos seus e dos que são frágeis (cf. 20, 34s.).
O que Lucas pretende sublinhar é que a partilha, nas
suas diferentes formas, tem a sua raiz na comunhão de espírito e de corações
dos fiéis. Do conjunto, podemos concluir que estamos perante a comunidade
messiânica, herdeira das promessas feitas aos pais:
«Em verdade,
não deve haver pobres entre vós, porque o Senhor te abençoará na terra que Ele
próprio te há-de dar em herança para a possuíres; mas só se ouvires a voz do
Senhor, teu Deus, para guardares e cumprires todos estes preceitos.» (Dt 14,
4s.).
Evangelho: Jo 3, 7b-15
O diálogo com Nicodemos transforma-se num monólogo com
grande amplidão de horizontes. Lucas refere-nos palavras autênticas de Jesus e
testemunhos pós- pascais, fundidos num único discurso. Estamos perante uma
profissão de fé usada na liturgia da igreja joânica e que contém uma síntese da
história da salvação.
O evangelista desenvolve o tema do texto que ontem
escutámos, centrado no testemunho de Cristo, Filho do homem descido do céu, o
único capaz de revelar o amor de Deus pelos homens, como de facto fez, na sua
morte e ressurreição (vv. 11-15).
João insiste agora na importância da fé: para
compreendermos a grande revelação do êxodo pascal, há que crescer na fé sobre o
nosso destino espiritual. Há que acreditar em Cristo, ainda que não tenhamos
subido ao céu para compreendermos os seus mistérios.
Ele, que desceu do céu (v. 13), é capaz de anunciar a
realidade do Espírito, e é capaz de estabelecer a verdadeira relação do homem
com Deus. Só Jesus é o lugar ideal da presença de Deus. Esta revelação
realizar-se-á na cruz, quando Jesus for entronizado, porque «todo o que nele
crê tenha a vida eterna» (v. 15).
A humanidade poderá compreender o evento escandaloso e
desconcertante da salvação pela cruz e ser curada do seu mal, tal como os
Hebreus, mordidos pelas serpentes no deserto, foram curados ao olharem a
serpente de bronze elevada num poste (cf. Nm 21, 4-9). A salvação passa pela
submissão a Deus e pela contemplação do Crucificado.
Os resumos de Lucas sobre a vida da primeira
comunidade cristã permanecem como referência para as comunidades de todos os
tempos.
Os monges do século IV, perante o abrandamento de
fervor espiritual ocorrido na Igreja, depois do édito de Milão, foram para o
deserto e organizaram-se em comunidades que pretendiam reeditar a comunidade de
Jerusalém.
Nos momentos de dificuldades na vida cristã, e
particularmente na vida religiosa, apela-se para o modelo fundante e
insuperável da Igreja primitiva.
A primeira leitura deixa-nos entrever o fascínio e a
nostalgia da fraternidade, de uma Igreja fraterna. A comunhão é um dos pilares
sobre o qual se pode reconstruir a Igreja e as próprias comunidades religiosas.
A comunhão manifesta a novidade cristã. Comunidades
fraternas, Igreja fraterna, mentalidade fraterna, que procuram acima de tudo
relações fraternas, tornam-se sinal da presença de Deus e do seu Reino.
O evangelho fala-nos da morte e da glorificação de
Jesus, que ele mesmo anuncia a Nicodemos: «É necessário que o Filho do Homem
seja erguido ao alto, a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna» (v.
14).
Jesus, elevado na cruz, alcançou a ressurreição que O
elevou ao Céu: «Ninguém subiu ao Céu a não ser aquele que desceu do Céu, o
Filho do Homem» (v. 13).
Elevado na cruz e na ressurreição, Jesus revela-se
como Aquele em Quem havemos de acreditar. Há pois que acolher as suas palavras
sobre o Pai e sobre a vida eterna, a verdadeira vida. E, tendo acreditado,
havemos de dar testemunho.
Os cristãos, particularmente os religiosos, certamente
imperfeitos, hão-de procurar criar um ambiente que promova o progresso
espiritual de cada um. Para isso, hão-de esforçar-se por aprofundar as relações
no Senhor, mesmo as mais normais, com cada um dos irmãos.
Senhor, Pai misericordioso, dá-nos a graça de
proclamar o poder do Senhor ressuscitado. O livro dos Actos diz-nos que os
Apóstolos davam testemunho da Ressurreição de Jesus com grande força. Essa é
também a nossa missão de cristãos e religiosos, hoje. Infunde em nós o Espírito
Santo para que, pela nossa palavra ardorosa, e pela nossa vida de fé, de
esperança e de caridade, demos um testemunho vigoroso do teu Filho Jesus, e da
sua santa Ressurreição.
Fonte: Resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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