segunda-feira, 8 de outubro de 2018

SEGUNDA-FEIRA – XXVII SEMANA – TEMPO COMUM – ANOS PARES - 8 OUTUBRO 2018

SEGUNDA-FEIRA – XXVII SEMANA – TEMPO COMUM – ANOS PARES - 8 OUTUBRO 2018 Primeira leitura: Gálatas 1, 6-12 Durante a segunda viagem missionária, Paulo atravessou «a Frigia e a região da Galácia» (Act 16, 6), nas imediações da actual cidade de Ankara. Aí fundou comunidades cristãs, que depois visitou durante a terceira viagem (Act 18, 23), nos anos 53-57 DC. O Apóstolo defendia que o crente se salva pela fé em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado, e não pela observância da Lei. Para ele, é nisso que consiste a liberdade cristá. Mas os judaizantes queriam adaptar a vivência do Evangelho à religião judaica e a certas práticas, tais como a circuncisão e certas observâncias. A Igreja que estava na Ásia também sofria com esses judeo-cristãos, que deformavam o evangelho pregado por Paulo e se permitiam mesmo ironizar sobre a autoridade e sobre a doutrina do Apóstolo. Paulo reagiu com força. Ao dirigir-se aos «gálatas insensatos!» e enfeitiçados (cfr. Gal 3, 1), o Apóstolo manifesta a sua indignação, não tanto para se defender, mas por verificar que estavam a afastar-se do Evangelho e a corrompê-lo. As suas palavras, cheias de fogo, querem levar os gálatas a declarar-se por Cristo e a acolherem a única certeza que conta: o Evangelho, tal como lhes foi pregado. É essa a única alegre notícia. Ao pregá-la, Paulo só deseja uma aprovação: a de Deus. De facto, o que lhes anunciou é palavra de Deus, recebida por meio de uma revelação de Jesus, e não por ensinamento humano. Evangelho: Lucas 10, 25-37 Jesus vai a caminho de Jerusalém. Um judeu faz-lhe uma pergunta armadilhada: que devo fazer para alcançar a vida eterna? Jesus responde com outra pergunta que conduz o doutor à própria lei de Moisés. Que está escrito nela? O homem lembra o preceito do amor, tal como estava formulado em Dt 6, 3: «Amarás ao Senhor, teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo» (v.27), e que os israelitas recitavam todos os dias, acrescentando o preceito do amor do próximo, tal como está expresso no Lv 19, 18. O legalista, vendo a sua síntese aprovada por Jesus, acrescenta outra pergunta armadilhada: «quem é o meu próximo?» (v. 29). Pensando que, no Antigo Testamento, “próximo” era apenas o israelita e, mais tarde, o imigrado que se tinha inserido na comunidade israelita (cf. Lv 19, 33s.); pensando que, no tempo de Jesus, o «próximo» estava limitado ao membro da própria seita (fariseus, zelotas, etc.), compreendemos a força inovadora que se solta da parábola contada por Jesus. O Senhor não dá uma resposta teórica. Conta uma parábola que ia ao encontro da experiência dos ouvintes, que deviam estar lembrados de acontecimentos idênticos ao narrado por Jesus. O cenário também é importante: a estrada que, de Jerusalém (situada a 740 metros acima do nível do mar), leva a Jericó (situada a 350 metros abaixo do nível do mar), desenha um percurso cheio de curvas e contracurvas, de gargantas e ravinas, onde facilmente se escondiam salteadores. A acção é animada e forte: o homem agredido, dilacerado e a sangrar é visto por um sacerdote e um levita, que passam ao largo. Finalmente aparece o protagonista da parábola: um samaritano, mestiço, bastardo e herético, que cuida do ferido. Jesus compraze-se na descrição das acções deste homem malvisto pelos judeus. Cheio de compaixão, aproxima-se do homem caído, desinfecta-lhe as feridas com vinho, minora-lhe as dores com azeite, e leva-o para a estalagem onde, à sua custa, o faz curar. Jesus faz mais uma pergunta: «Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem» (v. 36). Está aqui o centro da narrativa. Quando Jesus diz ao doutor: «Vai e faz tu também o mesmo» (v. 37), desloca totalmente o centro da questão. Não se trata de saber quem é o nosso próximo, porque toda a criatura humana o é; trata-se, isso sim, de saber como nos tornamos próximo do outro. Quem manifesta a sua compaixão em acções concretas em favor de quem precisa, esse é verdadeiro discípulo de Deus porque «se faz próximo» do homem. A tentação de confundir a alegre notícia do Evangelho com outras mensagens continua actual nos nossos tempos. Quantas propostas nos chegam, hoje, do Oriente e do Ocidente! Quanta confusão no que se refere a iniciativas e realidades, em si mesmas válidas, como o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Paulo diz-nos a nós, cristãos de hoje, que o anúncio do Evangelho não pode ser comandado por modas culturais e espiritualistas. Para agradar a Deus, o cristão tem de ser um alegre servo do Evangelho e, por isso mesmo, livre para amar. É essa a sua verdadeira liberdade, tal como verificamos no texto do evangelho: «O bom samaritano faz-se próximo apesar da distância étnica, social e mesmo religiosa. Não pede contrapartidas» (C. M. Martini). Não se entrincheira em falsas seguranças ou medos, nem em integralismos donde possa disparar flechas de aguçados juízos sobre quem não pensa como ele. A adesão a Jesus é plena e, por isso, não apenas mental. Adere-se a Cristo com a mente, mas também com o coração e a vida. E é na vida do dia a dia que Jesus, o Bom Samaritano, que se aproximou de cada um de nós para nos salvar, nos pede a conversão. Ao contrário do sacerdote e do levita, somos chamados a tornar-nos próximos, com o coração atento e caloroso, de quem precisa da nossa atenção e do nosso serviço. Em vez da intolerância desses legalistas, somos chamados a actuar com mansidão, escuta atenta, diálogo. Vencendo a dureza do coração, tomaremos a nosso cuidado aqueles que sofrem junto de nós. Tornar-nos-emos próximos de todos em casa, no trabalho, na comunidade, na acção pastoral. Revestir-nos-emos interiormente de paciência, benevolência, empatia e simpatia. Afogaremos no mar da misericórdia de Deus todos os ressentimentos, amarguras e recônditos interesses pessoais. Para nos tornarmos verdadeiramente próximos, vestir-nos-emos do seu amor que, se traduzirá em disponibilidade, cuidado, serviço atento, generoso e humilde. Ainda há cristãos, e mesmo religiosos, que vivem a lei, a regra, em termos de contrato. Para eles a ordem e a regularidade são os valores primários. Não os observar é fracassar na vida cristã, na vida religiosa. O perigo de uma tal concepção é dar à observância das normas e das regra um poder vital que elas não têm. Semelhante exaltação da lei pode ser contrária à caridade e sufocar a vida; pode ser um obstáculo à comunidade-comunhão e, portanto, um obstáculo ao amor de Cristo. Podemos comportar-nos como o sacerdote ou o levita da parábola do bom Samaritano: cumpriram as suas obrigações legais e deixaram o desgraçado meio morto no caminho (cf. Lc 10, 31-32). Jesus condenou a estéril observância da lei e a inútil multiplicação de leis sem caridade. A regra ou observância que rege a vida das comunidades cristãs, e religosas, não pode ser desumanizada, despersonalizada. Mas há também cristãos, e até religiosos, que reagem contra aquilo a que chamam formalismo, legalismo, recusando qualquer regra. A lei, dizem, destrói a espontaneidade. Querem ser completamente livres, confundindo liberdade com libertinagem, que leva ao egoísmo, à licenciosidade. A lei justa é garantia de justa liberdade, feita não só de direitos, mas também de deveres. Os meus deveres são os direitos dos outros e é justo respeitá-los. A lei dos cristãos e dos religiosos, não é tanto um código escrito, mas é Cristo vivo, Bom Samaritano da Humanidade. Fonte: F. Fonseca em “Dehonianos.org/portal/liturgia

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