sexta-feira, 13 de julho de 2018

Sábado – XIV Semana –Tempo Comum – Anos Pares 14 Julho 2018


Sábado – XIV Semana –Tempo Comum – Anos Pares
14 Julho 2018 

Primeira leitura: Isaías 6, 1-8

Este texto de Isaías, escrito cerca de 724 a. C., é muito importante para compreendermos a sua mensagem. Morto o rei Ozias, termina um período de prosperidade e de autonomia para Israel. O profeta aproveita a ocasião para proclamar a santidade e a grandeza de um Deus que transcende em muito a grandeza humana e que é, por excelência, «o Santo de Israel». 

Isaías sente-se chamado por esse Deus a ser profeta. Tudo acontece num dia de festa, no templo de Jerusalém. Isaías, no meio da assembleia, dá-se conta do seu carisma. Senaquerib, que devastara 46 cidades e muitas aldeias, ameaçava Jerusalém. Os dirigentes do povo, interesseiros, procuravam ganhar os favores de Javé à custa de uma religião vazia e de uma liturgia aparatosa, enquanto continuavam a oprimir as camadas sociais mais carenciadas, nomeadamente os órfãos e as viúvas.
O profeta faz uma descrição antropomórfica de Deus, sentado num trono e rodeado de serafins (criaturas com semelhança humana, mas dotados de seis asas), muito ao estilo das representações do Médio Oriente. 

Mas a visão de Isaías diz muito mais. A tripla aclamação «Santo, santo, santo» procura expressar a infinita santidade de Deus, a sua transcendência, a sua absoluta alteridade em relação ao que é terreno. A vibração das portas do templo e o fumo manifestam a presença de Deus.
Isaías sente-se aterrado por causa da sua indignidade, devida aos seus pecados e aos do povo. A sua reacção lembra-nos Ex 33, 20: «Pode um homem ver a Deus e não morrer?» Mas Deus não quer a morte do homem. Por isso, intervém com um gesto simbólico de purificação (vv. 7s.).
Resumindo: Deus interpela e chama Isaías para que, investido da glória e da santidade de Deus, vá profetizar em seu nome. Isaías corresponde com a total disponibilidade de quem se sabe invadido por um Deus que salva: «Eis-me aqui, envia-me» (v. 8).

Evangelho: Mateus 10, 24-33

As exigências da missão são extremas, podendo incluir a perseguição e a morte, como lemos ontem. Hoje, Jesus introduz no seu discurso a expressão «Não temais», que ocorre 366 vezes na Bíblia.
O nosso texto está estruturado sobre a repetição, a modo de imperativo, do convite a não ter medo (vv. 26.28.31), seguido das razões pelas quais a confiança deve sempre vencer. A primeira razão é: ainda que o bem esteja, por agora, velado, e a astúcia e a virulência do mal pareçam escondê-lo, acontecerá uma reviravolta completa e veremos, no triunfo de Cristo, a vitória dos que escolheram praticar o bem. Eis a razão pela qual os discípulos de Jesus são encorajados à audácia do anúncio.
O que recebemos é pequeno como uma luzinha nas trevas, como um sussurro ao ouvido, mas deve ser dado à plena luz do dia, gritado sobre os telhados. Inicialmente, o Evangelho era algo de oculto e misterioso, que era preciso manter em segredo, dado a conhecer a poucos e com as devidas precauções, para não desencadear a perseguição. Mas chegou o tempo de o dar a conhecer ao mundo inteiro! 

O pior que pode acontecer aos missionários do Reino é a morte do corpo. Mas seria muito pior a morte da alma, a perda da vida (alma significa vida). Ora, só Deus pode tirar a vida. Mas não o faz àqueles que O amam e O temem. Jesus conclui a sua argumentação com duas imagens muito ternas: a dos pássaros que, valendo pouco, são amados pelo Pai, e a dos cabelos da cabeça, contados por Ele. Não há, pois, que temer: «Ide: proclamai que o Reino do Céu está perto!» (Mt 10, 7).

Perante a visão de Deus, Isaías treme de medo porque se dá conta da sua fragilidade e necessidade de purificação, e porque é membro de um povo também ele carecido de ser purificado: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros» (v. 5). Deus purifica-o, e Isaías dispõe-se a ser profeta no meio do seu povo: «Um dos serafins…trazia na mão uma brasa viva… tocou na minha boca e disse: foi afastada a tua culpa, e apagado o teu pecado!.. Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me».

O temor de Deus é uma atitude complexa em que confluem o respeito reverente, a obediência, a adesão profunda, a adoração, o amor. Foi sentido por muitos profetas e santos, que fizeram a experiência do encontro com Deus, três vezes santo. Diante d´Ele, damo-nos conta da nossa condição de criaturas e da impureza da nossa vida. Já o salmista rezava: «Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu nome em toda a terra! Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus… que é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares?

Mas, se nos deixarmos penetrar por esta atitude, também poderemos ter toda a confiança na sua misericórdia. Jesus une o temor de Deus e a confiança: «Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! … Não temais, pois valeis mais do que muitos pássaros» (vv. 29.31).

Ambas as leituras nos falam da experiência de temor na presença de Deus, que Se nos revela e chama a uma missão. Mas também em ambas as leituras escutamos a palavra do Senhor que nos diz: «não tenhas medo», «não temais». Aquele que nos ama, nos chama e nos envia, purifica-nos e está connosco: «Não temas: eu estarei contigo»; «não temais, eu estarei convosco» (Ex 3, 12; Dt 31, 6; 31, 15; 1 Cr 28, 20; Jr 1, 17; 46, 28; 30, 11). A Virgem Maria também experimentou a sua condição de criatura limitada e frágil perante a grandeza e poder de Deus, no dia da Anunciação. Por isso, o Anjo lhe diz: «Não tenhas medo, Maria » (Lc 1, 30).

O medo e a desconfiança, na relação com Deus, mas também na relação connosco ou com os outros, paralisam-nos, transformam-nos em escravos. Mas Paulo adverte-nos: «Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no medo, mas recebestes um espírito de filhos adoptivos, por meio do qual gritamos: “Abbá, Pai!”. O mesmo Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus» (Rm 8, 15-16). «Se vivemos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito» (Gl 5, 25). Na relação com Deus, embora conhecendo os nossos limites e os nossos pecados, temos consciência de estar perante um Pai, cheio de amor e de misericórdia. No exercício da missão que nos confia, na sua obra de salvação do mundo, sabemos que não estamos sós, mas que Ele está connosco.

Senhor, purifica os meus lábios, mas purifica, sobretudo, o meu coração. Quantas vezes alimento pensamentos e desejos, que não nascem da certeza do teu amor, da vontade de lhe corresponder, da confiança em Ti. Quantas vezes, me deixo dominar pelo temor, quando surgem dificuldades e problemas no caminho para Ti, ou na missão que me confiaste. Faz-me escutar novamente a tua palavra: «Não temas; Eu estou contigo!». Purifica-me, Senhor, e dá-me coragem e confiança para aceitar a purificação! Dá-me agilidade no combate espiritual contra as paixões, para que deseje e queira, sempre, em tudo, e somente a tua glória. Assim encontrarei também a paz e a serenidade, que tornarão mais felizes e plenos os breves dias da minha vida.
Fonte: Adaptação local de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia”

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