Sábado – XIV Semana –Tempo Comum – Anos Pares
14 Julho
2018
Primeira leitura: Isaías 6, 1-8
Este texto
de Isaías, escrito cerca de 724 a. C., é muito importante para compreendermos a
sua mensagem. Morto o rei Ozias, termina um período de prosperidade e de
autonomia para Israel. O profeta aproveita a ocasião para proclamar a santidade
e a grandeza de um Deus que transcende em muito a grandeza humana e que é, por
excelência, «o Santo de Israel».
Isaías
sente-se chamado por esse Deus a ser profeta. Tudo acontece num dia de festa,
no templo de Jerusalém. Isaías, no meio da assembleia, dá-se conta do seu
carisma. Senaquerib, que devastara 46 cidades e muitas aldeias, ameaçava
Jerusalém. Os dirigentes do povo, interesseiros, procuravam ganhar os favores
de Javé à custa de uma religião vazia e de uma liturgia aparatosa, enquanto
continuavam a oprimir as camadas sociais mais carenciadas, nomeadamente os
órfãos e as viúvas.
O profeta
faz uma descrição antropomórfica de Deus, sentado num trono e rodeado de
serafins (criaturas com semelhança humana, mas dotados de seis asas), muito ao
estilo das representações do Médio Oriente.
Mas a visão
de Isaías diz muito mais. A tripla aclamação «Santo, santo, santo» procura
expressar a infinita santidade de Deus, a sua transcendência, a sua absoluta
alteridade em relação ao que é terreno. A vibração das portas do templo e o
fumo manifestam a presença de Deus.
Isaías
sente-se aterrado por causa da sua indignidade, devida aos seus pecados e aos
do povo. A sua reacção lembra-nos Ex 33, 20: «Pode um homem ver a Deus e não
morrer?» Mas Deus não quer a morte do homem. Por isso, intervém com um gesto
simbólico de purificação (vv. 7s.).
Resumindo: Deus
interpela e chama Isaías para que, investido da glória e da santidade
de Deus, vá profetizar em seu nome. Isaías corresponde com a total
disponibilidade de quem se sabe invadido por um Deus que salva: «Eis-me aqui,
envia-me» (v. 8).
Evangelho: Mateus 10, 24-33
As
exigências da missão são extremas, podendo incluir a perseguição e a morte,
como lemos ontem. Hoje, Jesus introduz no seu discurso a expressão «Não
temais», que ocorre 366 vezes na Bíblia.
O nosso
texto está estruturado sobre a repetição, a modo de imperativo, do convite a
não ter medo (vv. 26.28.31), seguido das razões pelas quais a confiança deve
sempre vencer. A primeira razão é: ainda que o bem esteja, por agora, velado, e
a astúcia e a virulência do mal pareçam escondê-lo, acontecerá uma reviravolta
completa e veremos, no triunfo de Cristo, a vitória dos que escolheram praticar
o bem. Eis a razão pela qual os discípulos de Jesus são encorajados à audácia
do anúncio.
O que
recebemos é pequeno como uma luzinha nas trevas, como um sussurro ao ouvido,
mas deve ser dado à plena luz do dia, gritado sobre os telhados. Inicialmente,
o Evangelho era algo de oculto e misterioso, que era preciso manter em segredo,
dado a conhecer a poucos e com as devidas precauções, para não desencadear a
perseguição. Mas chegou o tempo de o dar a conhecer ao mundo inteiro!
O pior que
pode acontecer aos missionários do Reino é a morte do corpo. Mas seria muito
pior a morte da alma, a perda da vida (alma significa vida). Ora, só Deus pode
tirar a vida. Mas não o faz àqueles que O amam e O temem. Jesus conclui a sua
argumentação com duas imagens muito ternas: a dos pássaros que, valendo pouco,
são amados pelo Pai, e a dos cabelos da cabeça, contados por Ele. Não há, pois,
que temer: «Ide: proclamai que o Reino do Céu está perto!» (Mt 10, 7).
Perante a
visão de Deus, Isaías treme de medo porque se dá conta da sua fragilidade e
necessidade de purificação, e porque é membro de um povo também ele carecido de
ser purificado: «Ai de mim, estou perdido, porque sou um homem de lábios
impuros, que habita no meio de um povo de lábios impuros» (v. 5). Deus
purifica-o, e Isaías dispõe-se a ser profeta no meio do seu povo: «Um dos
serafins…trazia na mão uma brasa viva… tocou na minha boca e disse: foi
afastada a tua culpa, e apagado o teu pecado!.. Então eu disse: «Eis-me aqui,
envia-me».
O temor de
Deus é uma atitude complexa em que confluem o respeito reverente, a obediência,
a adesão profunda, a adoração, o amor. Foi sentido por muitos profetas e
santos, que fizeram a experiência do encontro com Deus, três vezes santo.
Diante d´Ele, damo-nos conta da nossa condição de criaturas e da impureza da
nossa vida. Já o salmista rezava: «Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu
nome em toda a terra! Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus… que é o
homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te preocupares?
Mas, se nos
deixarmos penetrar por esta atitude, também poderemos ter toda a confiança na
sua misericórdia. Jesus une o temor de Deus e a confiança: «Não se vendem dois
pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles cairá por terra sem o
consentimento do vosso Pai! … Não temais, pois valeis mais do que muitos
pássaros» (vv. 29.31).
Ambas as
leituras nos falam da experiência de temor na presença de Deus, que Se nos
revela e chama a uma missão. Mas também em ambas as leituras escutamos a
palavra do Senhor que nos diz: «não tenhas medo», «não temais». Aquele que nos
ama, nos chama e nos envia, purifica-nos e está connosco: «Não temas: eu estarei
contigo»; «não temais, eu estarei convosco» (Ex 3, 12; Dt 31, 6; 31, 15; 1 Cr
28, 20; Jr 1, 17; 46, 28; 30, 11). A Virgem Maria também experimentou a sua
condição de criatura limitada e frágil perante a grandeza e poder de Deus, no
dia da Anunciação. Por isso, o Anjo lhe diz: «Não tenhas medo, Maria » (Lc 1,
30).
O medo e a
desconfiança, na relação com Deus, mas também na relação connosco ou com os
outros, paralisam-nos, transformam-nos em escravos. Mas Paulo adverte-nos: «Vós
não recebestes um espírito de escravidão para recair no medo, mas recebestes um
espírito de filhos adoptivos, por meio do qual gritamos: “Abbá, Pai!”. O mesmo
Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de Deus» (Rm 8, 15-16). «Se
vivemos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito» (Gl 5, 25). Na relação com
Deus, embora conhecendo os nossos limites e os nossos pecados, temos
consciência de estar perante um Pai, cheio de amor e de misericórdia. No
exercício da missão que nos confia, na sua obra de salvação do mundo, sabemos
que não estamos sós, mas que Ele está connosco.
Senhor,
purifica os meus lábios, mas purifica, sobretudo, o meu coração. Quantas vezes
alimento pensamentos e desejos, que não nascem da certeza do teu amor, da
vontade de lhe corresponder, da confiança em Ti. Quantas vezes, me deixo
dominar pelo temor, quando surgem dificuldades e problemas no caminho para Ti,
ou na missão que me confiaste. Faz-me escutar novamente a tua palavra: «Não
temas; Eu estou contigo!». Purifica-me, Senhor, e dá-me coragem e confiança
para aceitar a purificação! Dá-me agilidade no combate espiritual contra as
paixões, para que deseje e queira, sempre, em tudo, e somente a tua glória.
Assim encontrarei também a paz e a serenidade, que tornarão mais felizes e
plenos os breves dias da minha vida.
Fonte: Adaptação local de um texto
de: “dehonianos.org/portal/liturgia”
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