Sexta-feira – V Semana –Tempo Comum – Anos Pares
9 Fevereiro 2018
Primeira leitura: 1 Reis 11, 29-32;
12, 19
O autor sagrado apresenta a divisão do reino como um
castigo pela apostasia idolátrica de Salomão. No capítulo seguinte, Jeroboão,
um dos funcionários de Salomão, pede a Reboão que reduza os impostos. Reboão
recusa o pedido de um modo surpreendente: «já que meu pai vos carregou com um
jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pesado; meu pai castigou-vos com
açoites; pois eu vos castigarei com azorragues!» (1 Rs 12, 11). E assim ficou
aberta a porta ao cisma político.
O profeta Aías
anuncia simbolicamente esse facto ao rasgar o manto em doze pedaços. O seu
gesto profético é uma advertência e uma denúncia motivada pelas injustiças
sociais que Jeroboão herdou de seu pai. O profeta, e a sua acção, são sinal da
presença de Deus e anúncio da sua intervenção na história do povo.
Trata-se de uma intervenção salvífica, porque Deus não se diverte a rasgar
«mantos novos», mas é Aquele que faz novas todas as coisas. Este texto mantém
ainda hoje a sua actualidade por causa da nostalgia ecuménica que nele
percebemos. A divisão do reino davídico tem paralelismo na divisão da Igreja
cristã.
Evangelho: Marcos 7, 31-37
Desta vez, Jesus cura um surdo tartamudo, cuja
capacidade intelectual estava condicionada pela sua deficiência. Por isso, ao
tocar-lhe os órgãos doentes com saliva, Jesus não quer fazer magia à maneira
dos taumaturgos da época, mas apenas dirigir-se à consciência daquele que ia
ser objecto do prodígio. Noutros casos bastavam as palavras. Aqui, tratando-se
de um surdo tartamudo, são precisos gestos. E Jesus fá-los.
É o segundo milagre que Jesus faz em território pagão e este texto, exclusivo de Marcos, pretende continuar a descrição da actividade missionária da primeira comunidade cristã e assinalar a abertura dos pagãos à fé em Jesus Cristo.
É o segundo milagre que Jesus faz em território pagão e este texto, exclusivo de Marcos, pretende continuar a descrição da actividade missionária da primeira comunidade cristã e assinalar a abertura dos pagãos à fé em Jesus Cristo.
O assombro dos que presenciam os milagres de Jesus
lembra-nos Gn 1: «E Deus viu que tudo era bom», mas também Isaías: «O mudo
gritará de alegria» (Is 35, 6). Em Jesus realizam-se as promessas de salvação.
Não se trata, pois, de triunfalismo político-messiânico, mas de um
reconhecimento gozoso da eficácia desalienante da presença do reino de Deus.
Onde chega Jesus, chega a salvação, que cria novas
relações, finalmente libertadas, entre os homens e Deus, e entre os próprios
homens. Jesus, em terra de pagãos, faz ouvir os surdos e falar os mudos. São
milagres físicos que simbolizam milagres espirituais iniciados no baptismo, e
que podem ser motivo de reflexão e de oração para nós. Sendo participantes da
humanidade sofredora, não é difícil dar-nos conta de que as feridas mais graves
das pessoas, hoje, dizem respeito sobretudo às relações. Daí o isolamento, o
clima de suspeição e de medo em que tantas vivem.
Jesus toca nos sentidos do surdo-mudo para lhe tocar
no coração. Abrir o coração – effathá! – é a condição para re-ligar os pontos
com a Vida. O homem precisa de se abrir a Deus, à sua Palavra, ao encontro com
Ele, para se poder abrir ao encontro com os outros, ao diálogo, às relações com
todos.
A Igreja tem a missão de continuar, em certo sentido,
este milagre de Jesus, fazendo ouvir a todos os povos que são amados por Deus e
que, por isso, podem falar. Fazer «ouvir» e fazer «falar» é a missão da
Igreja, para que todos os povos possam louvar a Deus. Mas também cada
um de nós precisa de ouvidos abertos e língua solta para escutar o Senhor, que
nos fala, e proclamar os seus louvores. Ouvir e falar são meios para viver a
aliança: escutar a Deus para saber escutar os irmãos, e falar como Deus quer.
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