Quinta-feira – V Semana –Tempo Comum – Anos Pares - 8 Fevereiro
2018
Primeira leitura: 1 Reis 11, 4-13
O reinado de
Salomão, glorioso sob tantos aspectos, teve as suas sombras que se podem
resumir numa só palavra: idolatria. Havia uma lei que proibia o casamento com
mulheres estrangeiras, exactamente para evitar o pecado de idolatria. Salomão
seguiu uma política de alianças em boa parte baseada em combinações
matrimoniais. As suas mulheres pagãs exigiam templos onde prestar culto aos
seus deuses. Salomão cedeu a esses pedidos e ele mesmo e alguns dignitários da
corte, bem como populares, caíram na idolatria. Salomão afastou-se do Senhor,
Deus de Israel. E o Senhor rejeitou-o. Em consequência dessa rejeição
acontecerá o cisma do reino.
Estes textos,
escritos na época do exílio e do pós-exílio, tempos de grande sofrimento,
fizeram Israel repensar a sua história em perspectiva teológica. Porquê o
exílio, a dispersão, e tanto sofrimento e humilhação? Que fundamento tinha o
anseio da restauração da unidade e da paz do reino de David, tão sentido por
todos? Os autores sagrados tinham uma resposta: apesar da infidelidade do homem,
Deus permanece fiel à sua aliança e à sua promessa de paz.
Evangelho: Marcos 7, 24-30
Depois de ter
curado muitos doentes e discutido com os fariseus em Genesaré, Jesus prossegue
a sua viagens por Tiro, Sídon e Decápole, terras pagãs. E também aí realiza
milagres: a cura da filha da mulher cananeia, que escutamos hoje, e a do
surdo-mudo, que escutaremos amanhã.
No diálogo com
a mulher cananeia emerge a tensão entre o papel proeminente de Israel na
história da salvação e o universalismo da mesma salvação. Não só os «filhos», os judeus,
mas também os «cães», os pagãos, segundo a metáfora, são chamados à salvação.
A única condição é escutar a Boa Nova e acolher Jesus como Senhor: «Dizes bem,
Senhor…», exclama a mulher. «Em atenção a essa palavra, – diz-lhe Jesus – vai;
o demónio saiu de tua filha». A fé da cananeia dissolveu a tensão e
alcançou-lhe o milagre. A filha foi libertada do demónio.
No diálogo
entre Jesus e a mulher aparecem as expressões «pão dos filhos» e «migalhas dos
cachorrinhos». É já um anúncio do milagre da multiplicação dos pães, que Marcos
narrará pouco depois (cf. Mc 8, 1-10).
Jesus também continua a rebater, com palavras e acções, o legalismo dos judeus, dando atenção ao mundo e à cultura grega. Não esqueçamos que Marcos escreve para uma comunidade cristã grega.
Jesus também continua a rebater, com palavras e acções, o legalismo dos judeus, dando atenção ao mundo e à cultura grega. Não esqueçamos que Marcos escreve para uma comunidade cristã grega.
A promessa de
Deus a David foi cumprida: «Não serás tu que vais construir uma casa para eu
habitar mas serei eu a construir uma casa para ti» «Um teu filho vai suceder-te
e será ele a construir uma casa para o meu nome», (cf. 2 Sm 7, 5ss.). Salomão
construiu efectivamente um templo para o Senhor. Mas, por influência das suas
mulheres, acabou por cair na idolatria e também construiu templos para os
deuses pagãos. O seu coração dividiu-se entre Deus e os seus interesses
políticos: «o seu coração já não era inteiramente do Senhor, seu Deus» (v. 4).
As tentações de
Salomão continuam actuais, também para nós. É preciso grande fortaleza de alma
para resistir e permanecer fiéis a Deus. Os deuses que, hoje, nos podem
seduzir, talvez se chamem sucesso, ambição, dinheiro, sensualidade,
paixões amorosas… Mas Deus não admite divisões e quer ser amado com todo o
nosso coração: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a
tua alma e com todas as tuas forças» (Dt 6, 5).
O verdadeiro
filho de David, que resistiu a todas as tentações, foi Jesus. Para permanecer
dócil ao Pai, aceitou a humilhação e a morte. Foi ele quem construiu o
verdadeiro Templo de Deus, ao morrer e ressuscitar. Como ensina S. Pedro,
trata-se um templo feito de pedras vivas. E nós fazemos e faremos parte dele,
se permacemos fiéis ao Senhor.
Na mulher
estrangeira, em terra estrangeira, de que nos fala o evangelho, identifica-se a
igreja, missionária e católica, isto é, universal. A igreja,
estrangeira no meio dos entrangeiros, pobre entre os pobres, continua a obra da
Encarnação. Como Cristo assumiu toda a humanidade, também o cristão se insere e
compromete no esforço da humanidade que tende para a sua plenitude, no
movimento do espírito humano que tende para Cristo. Trata-se de um movimento de
inclusão, de integração, de assimilação da humanidade na humanidade de Cristo.
A «católica» é esta mulher estrangeira que, em terra estrangeira, procura
Cristo, humilde entre os humildes, e que descobre ao mundo a verdade que Cristo
lhe revela sobre si mesma
: «Sim, Senhor» (v. 28). E suplica para todos que as migalhas, os elementos da humanidade, sua filha – ferida, doente, desorientada, confusa – sejam reorientados, recompostos, assumidos, integrados, curados, reentregues à plenitude de Cristo.
Fonte: resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
: «Sim, Senhor» (v. 28). E suplica para todos que as migalhas, os elementos da humanidade, sua filha – ferida, doente, desorientada, confusa – sejam reorientados, recompostos, assumidos, integrados, curados, reentregues à plenitude de Cristo.
Fonte: resumo e adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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