VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO
C
O tema central da liturgia deste domingo convida-nos a
refletir sobre esta questão: aquilo que nos enche o coração e que nós
testemunhamos é a verdade de Jesus, ou são os nossos interesses e os nossos
critérios egoístas?
Com frequência, temos de escolher pessoas e confiar-lhes cargos de alguma responsabilidade ou exigência. Seria ingénuo e pouco sério fazer escolhas com base em critérios acidentais ou interesseiros, ignorando aspetos essenciais. O que é que nos leva a escolher este e a rejeitar aquele? O aspeto físico? A simpatia? A classe social? A subserviência que manifesta em relação a nós? Ou somos convencidos pela competência e pela grandeza do coração?
Com frequência, temos de escolher pessoas e confiar-lhes cargos de alguma responsabilidade ou exigência. Seria ingénuo e pouco sério fazer escolhas com base em critérios acidentais ou interesseiros, ignorando aspetos essenciais. O que é que nos leva a escolher este e a rejeitar aquele? O aspeto físico? A simpatia? A classe social? A subserviência que manifesta em relação a nós? Ou somos convencidos pela competência e pela grandeza do coração?
Quantas vezes temos de reformular as nossas impressões
acerca de uma pessoa depois de a conhecermos bem… Não podemos, pois, deixar-nos
condicionar pela primeira impressão. Um juízo apressado pode levar-nos a ser
tremendamente injustos e a marginalizar pessoas muito válidas e com um grande
potencial; também pode, ao contrário, levar-nos a confiar totalmente em pessoas
que, investidas de cargos de responsabilidade, acabam por destruir coisas que
levaram muito tempo a ser edificadas…
LEITURA I – Sir 27, 4-7
A primeira leitura, na mesma linha, dá um conselho muito
prático, mas muito útil: não julguemos as pessoas pela primeira impressão ou
por atitudes mais ou menos teatrais: deixemo-las falar, pois as palavras
revelam a verdade ou a mentira que há em cada coração.
LEITURA II – 1 Cor 15, 54-58
A segunda leitura não tem, aparentemente, muito a ver com
esta temática: é a conclusão da catequese de Paulo aos coríntios sobre a
ressurreição. No entanto, podemos dizer que viver e testemunhar com verdade,
sinceridade e coerência a proposta de Jesus é o caminho necessário para essa
vida plena que Deus nos reserva. Do nosso anúncio sincero de Jesus, nasce essa
comunidade de Homens Novos que é anúncio do tempo escatológico e da vida que
nos espera.
A ressurreição de Cristo garante-nos que o nosso Deus é o
Senhor da vida. Assim, percorremos o nosso caminho neste mundo com total
serenidade e confiança: sabemos que Deus está ao nosso lado sempre, vigiando –
como uma mãe que cuida do seu bebé; e que, quando chegar a última fronteira, o
nosso último fechar de olhos, a nossa saída deste mundo ou entrada no outro,
também então podemos estar tranquilos, porque o nosso Deus/mãe continua
vigilante. Ele é o Deus da vida, que nos garante a plenitude da vida.
A teologia clássica assimilou o horizonte de compreensão
da filosofia grega, segundo a qual o mundo verdadeiro era o mundo sobrenatural;
o mundo terreno era apenas o lugar da matéria, da ambiguidade, do pecado, da
imperfeição; a alma ansiava por libertar-se rapidamente desta matéria para
ascender à esfera da vida plena, da vida de Deus…
Atualmente, o regresso à mentalidade bíblica trouxe-nos
uma outra consciência: sabemos que o mundo novo que nos espera começa já a
realizar-se nesta terra e que é preciso fazê-lo aparecer todos os dias, em cada
um dos nossos gestos. Acreditar na ressurreição é, assim, empenhar-se na
construção de um mundo mais humano e mais fraterno, procurando eliminar as
forças do egoísmo, do pecado e da morte que impedem, já nesta terra, a vida em
plenitude. Por isso o Concílio Vaticano II diz: “a Igreja ensina que a
importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica,
mas que esta antes reforça com novos motivos a sua execução” (Gaudium et Spes,
21).
EVANGELHO – Lc 6, 39-45
O Evangelho dá-nos os critérios para discernir o
verdadeiro do falso “mestre”: o verdadeiro “mestre” é aquele que apenas
apresenta a proposta de Jesus gerando, com o seu testemunho, comunhão, união,
fraternidade, amor; o falso “mestre”, ao contrário, é aquele que manifesta
intolerância, hipocrisia, autoritarismo e cujo testemunho gera divisões e
confusões: o seu anúncio não tem nada a ver com o de Jesus.
Todos nós, de uma forma ou de outra, somos chamados a dar
testemunho da nossa fé e da proposta de Jesus. Esta reflexão sobre os
verdadeiros e falsos “mestres” não é, portanto, algo que apenas diga respeito à
hierarquia da Igreja, mas a todos os cristãos. Trata-se, portanto, de uma
reflexão sobre a verdade ou a mentira do nosso testemunho. Como é o nosso
testemunho? Identifica-se com a proposta de Cristo?
Pode acontecer que a radicalidade do Evangelho de Jesus
seja viciada pela nossa tendência em “suavizar”, “atenuar”, “adaptar”, de forma
a que a mensagem seja mais consensual, menos radical, mais contemporizadora…
Não estaremos, assim, a retirar à proposta de Jesus a sua capacidade transformadora
e a escolher um caminho de facilidade?
Também pode acontecer que anunciemos as nossas teorias e
as nossas perspetivas, em lugar de anunciar Jesus e as suas propostas. Mais
grave ainda: é possível atribuir a Jesus mandamentos e exigências que
desvirtuam totalmente o sentido global das propostas que Jesus fez. Isso
constitui uma grave perversão do Evangelho; e daí resulta, tantas vezes,
opressão, medo, escravatura, em nome de Jesus. Isto tem acontecido, com
frequência, ao longo da história da Igreja… É preciso, pois, um permanente
confronto do nosso anúncio com o Evangelho e com o sentir da Igreja, a fim de
que anunciemos Jesus e não traiamos a verdade da sua proposta libertadora.
• Podemos também correr o risco de deixar que o
sentimento da nossa importância nos suba à cabeça; então, tornamo-nos
arrogantes, exigentes, intolerantes, convencidos de que somos os únicos
senhores da verdade. Com alguma frequência ouvem-se nas nossas comunidades
cristãs frases como “aqui quem manda sou eu” ou “eu é que sei; tu não percebes
nada disto”. Sempre que isso acontecer, convém interrogarmo-nos acerca da forma
como estamos a exercer o nosso serviço à comunidade: estaremos a veicular a
proposta de Jesus?
• A história da trave e do cisco convida-nos a refletir
sobre a hipocrisia… É fácil reparar nas falhas dos outros e enveredar pela
crítica fácil que, tantas vezes, afeta a reputação e fere a dignidade das
pessoas; é difícil utilizar os mesmos critérios de exigência quando estão em
causa as nossas
Fonte:
Adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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