SEGUNDA-FEIRA - VIII SEMANA -T C M - ANOS ÍMPARES -
4 MARÇO 2019
Primeira leitura: Ben Sirá 17, 20-28 (gr. 24-29)
Ben
Sirá, hoje, trata um tema de importância vital: o arrependimento e o perdão.
Não é fácil arrepender-se nem é facil perdoar. Mas são atitudes indispensáveis
na nossa relação com Deus e com os outros.
O
arrependimento nasce da consciência de que, no nosso modo de pensar e de agir,
há sempre algo de incorrecto. Todos nos sentimentos sujeitos a pecar e mesmo
pecadores. Que fazer? A palavra de Deus é clara:
«Converte-te ao Senhor, deixa os teus pecados»
(v. 25).
A
conversão consiste em deixar de pecar e em voltar-nos para Ele, em regressar ao
seu amor. O pecador é incapaz de louvar o Senhor, porque a sua vida é semelhante
à dos que «jazem nas trevas e sombras da morte». Um salmista pede a Deus que o
livre da morte para que, continuando a viver, tenha oportunidade de O louvar
(Sl 88, 11-13).
Deus
oferece o seu perdão ao pecador que se arrepende. Trata-se de um dom da misericórdia
divina, pois o homem pecador a nada tem direito.
Evangelho: Marcos 10, 17-27
O
diálogo entre Jesus e o homem rico é referido pelos três sinópticos. Mas a
versão de Marcos apresenta alguns pormenores interessantes: o homem ajoelha-se
diante de Jesus (v. 17); Jesus verifica que se trata de um homem religiosamente
sincero e, por isso, sente afeição por ele e fala-lhe (v. 21); tendo ouvido as
palavras de Jesus, o homem ficou de semblante anuviado e retirou-se pesaroso
(v. 22).
Jesus está a caminho de Jerusalém. A pergunta deste israelita praticante é séria. Mas Jesus apresenta-lhe uma proposta mais vasta: despojar-se dos seus bens e aderir à comunidade dos discípulos. Assim daria prova da sinceridade com que buscava a vida eterna.
Mas o
homem, que «tinha muitos bens» (v. 22), não é capaz de dar essa prova. Jesus
aproveita a ocasião para sublinhar que as riquezas são um grave obstáculo para
entrar no reino de Deus, porque impedem de centrar o coração e os afectos em
Deus, de tender para Ele, que é o fim de todos e cada um dos mandamentos e
prescrições.
Os
discípulos ficam espantados, pois sabem que Jesus não quer uma comunidade de
esfarrapados Mas o Senhor repete a afirmação servindo-se da riqueza metafórica
oriental: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um
rico entrar no Reino de Deus» (v. 25).
«Quem
pode, então, salvar-se?» (v. 26), perguntam os discípulos. Então, Jesus
acrescenta: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é
possível» (v. 27). É a «teologia da gratuidade», característica do segundo e
evangelho, e em consonância com o pensamento paulino (cf. Rm 11, 6; Ef 2, 5; 1
Cor 15, 10; etc.).
Jesus
coloca-se numa posição oposta ao «automatismo farisaico», que supunha que o
cumprimento de certas regras de pobreza assegurava a vida eterna. Mas nada deve
ser absolutizado. Só Deus é absoluto.
A
libertação do pecado e das riquezas é fundamental para acedermos a valores
superiores. Sem essa libertação não alcançamos à «vida eterna».
Mas não é fácil libertar-nos do pecado, dada a nossa grande fragilidade. Há que estar conscientes dela, para, cada dia, pedir perdão ao Senhor, implorar a sua misericórdia, e estar sempre dispostos a recomeçar. "Hoje começo!", dizia um santo, cada manhã.
O
homem moderno tem dificuldade em pedir perdão, porque, devido aos seus grandes
progressos científicos e tecnológicos, se julga auto-suficiente. Fecha-se em
si, faz-se medida de si mesmo, tem por bem o que lhe parece bem, se procurar
qualquer referência fora de si mesmo. Desse modo, bloqueia o caminho
espiritual, ficando impedido de regressar ao Pai.
O evangelho propõe a libertação das riquezas.
O evangelho propõe a libertação das riquezas.
O
homem de que nos fala Marcos quer encontrar o caminho para a «vida eterna». Mas
está enredado nas suas riquezas. Jesus convida-o a desfazer-se delas, não
destruindo-as, mas dando-as aos pobres, prometendo-lhe «um tesouro no céu». Mas
o homem não consegue dar esse passo. Pensa no que deixa e não na riqueza que é
seguir Jesus: deixa tudo o que tens; «depois, vem e segue-me» (v. 21).
Mais
importante do que o que deixamos, é Aquele que seguimos, com quem partilhamos a
vida e a missão. A proposta de Jesus consiste em entrar, desde já, no Reino e
de ter, desde já, um tesouro nos céus. Mais que tudo, é a proposta de uma vida
de intimidade com o Senhor: «vem e segue-me».
As
riquezas deste mundo podem tornar-se um obstáculo para escutar Jesus e
segui-lo. O Senhor reconhece que, deixar essas riquezas, não é fácil: «Quão
difícil é entrarem no Reino de Deus os que têm riquezas!» (v. 23).
Mas,
Ele mesmo, nos aponta o remédio para as nossas dificuldades em desapegar-nos
dos bens: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é
possível» (v. 27).
Com
a graça do Senhor, tantos cristãos sacrificaram tudo, incluindo a própria vida,
para seguir Jesus e Lhe ser fiel nas perseguições. Tantos outros deixaram tudo
para se consagrarem na vida religiosa e sacerdotal:
«a
Deus tudo é possível!».
Com
a graça de Deus, podemos libertar-nos do pecado e das riquezas, e seguir Jesus
pelo caminho por onde nos quiser chamar.
Cristo,
lembram-nos as Constituições (n. 44), «convida-nos à bem-aventurança dos pobres
no abandono filial ao Pai» (cf. Mt 5, 3). Viver esta bem-aventurança é permitir
a Cristo viver a Sua pobreza em nós, com a sua mansidão, aflição, paz,
misericórdia. É deixar «viver... Cristo» em nós (cf. Fl 1, 21), é garantir a
posse do «tesouro escondido», e da «pérola de grande valor», que é o próprio
Cristo das bem-aventuranças, vividas na nossa vida.
Por
isso, de acordo com as Constituições (n. 44), «recordaremos o seu insistente
convite: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres; depois vem e
segue-Me» (Mt 19,21)" (n. 44).
Fonte:
Adaptação
local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia
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