SÁBADO - VII SEMANA – T C - ANOS ÍMPARES - 2 MARÇO 2019
Primeira leitura: Ben Sirá 17, 1-13 (gr 1-15)
O
autor sagrado, inspirando-se na tradição bíblica, que remonta aos dois
primeiros capítulos do Génesis, apresenta o homem como vértice da Criação.
Mas
há uma infinita diferença entre Deus e o homem. E não pode haver qualquer tipo
de confusão que leve o homem a cair na tentação da autonomia ou da
auto-suficiência perante Deus. Deus é o Criador; o homem é criatura.
A
maior parte dos verbos tem Deus por sujeito e elenca dons e prerrogativas que
tornam grandes e nobres os homens. É Deus que confia aos homens o «domínio» da
Criação.
O
vértice dos dons conferidos aos homens é atingido na expressão: «fê-los à sua
própria imagem» (v. 3). É a afirmação mais singular e mais original da
antropologia bíblica.
Os
homens levam impresso em si mesmos algo de divino e são "familiares"
de Deus. O v. 7 sugere a ideia de que Deus como que nos emprestou os seus olhos
para contemplarmos a Criação com o Seu próprio encanto. Outro excelente dom é o
da consciência (cf. v 6b).
Todos
estes benefícios de Deus exigem uma resposta. Os homens hão-de reagir a esses
dons com o louvor (cf. v. 8). A Criação revela a grandeza e a magnificência de
Deus, que o homem, dotado de inteligência, admira e celebra com amor.
Evangelho: Marcos 10, 13-16
A
renúncia ao orgulho é outra característica da comunidade messiânica. O episódio
da apresentação de alguns meninos a Jesus é significativo e claro a este
respeito. Os discípulos pretendiam afastar as crianças, não porque incomodavam
Jesus, mas porque, como as mulheres, representavam pouco ou mesmo nada. Segundo
a mentalidade comum, de que os discípulos naturalmente também partilhavam, o
Reino não era para crianças, mas para adultos, capazes de opções conscientes,
de obras correspondentes e de adquirir méritos.
Para
Jesus, era tudo ao contrário: o Reino é um dom de Deus, que é preciso receber
com disponibilidade. As crianças são as pessoas mais disponíveis para acolher
dons, porque são pequenos e pobres, sem seguranças a defender ou privilégios a
reclamar.
Assim
devem ser os discípulos de Cristo (v. 15), porque o Reino não é uma conquista
pessoal, mas dom gratuito de Deus a esperar e a acolher com simplicidade e
confiança. Ao abraçar as crianças, Jesus elimina toda a distância entre Ele e
as crianças, e torna-se modelo daquela vida a que se chama «infância
espiritual». De facto, dirige-se ao Pai com a palavra «abba», submete-se à sua
vontade, abandona-se nas suas mãos.
A
primeira leitura e o evangelho celebram o valor do homem. Vêm, pois, ao
encontro da mentalidade que se impôs na sociedade moderna, que proclama os
direitos humanos, realça a dignidade do homem e defende a sua liberdade.
Infelizmente,
na prática, nem sempre assim acontece, pois são ainda demais os atropelos a
esses direitos. Na sociedade em que vivemos há pessoas oprimidas e exploradas,
que vivem em condições incompatíveis com a dignidade humana: situações de
pessoas singulares, de famílias, de grupos.
Devemos
lutar, conforme as nossas possibilidades, a fim de que a justiça se realize,
afim de que o pecado social seja eliminado.
Mas
o autor sagrado está interessado em apresentar o homem, não tanto em geral, mas
na sua relação com Deus. Na lectio, notámos que o sujeito de quase todos os
verbos é Deus. Como vemos também no Sl 8, é Deus que confere nobreza ao homem e
o coloca no vértice da criação. A nobreza do homem é, pois, um dom recebido e
não um fruto de sua conquistada.
Tudo
o que o homem é, tudo o que o homem tem, é dom do amor generoso e gratuito de
Deus: a inteligência, língua e olhos, os ouvidos e o coração para pensar, a
ciência...
O
Senhor, acima de tudo, «concluiu com eles uma Aliança eterna e revelou-lhes os
seus decretos» (v. 12). O Sábio fala evidentemente da aliança com Moisés e da
Lei das duas tábuas.
Maior
razão temos nós para nos espantarmos diante da bondade divina, ao pensarmos na
Nova Aliança selada com o sangue de Cristo e na Nova Lei escrita nos nossos
corações, que nos faz viver no Espírito Santo como filhos de Deus.
No
evangelho, Jesus repete a este homem tão grande, por causa dos dons de Deus,
que saiba acolher o Reino de Deus com a simplicidade de uma criança.
Para
sermos "crianças", em sentido evangélico, temos um caminho: ser
filhos de Maria. Ela soube ser pequena e estar contente com essa situação:
«O
meu espírito exulta em Deus, porque olhou para a humildade da sua serva» (cf.
Lc 1, 46-48).
É
difícil sermos felizes com as nossas limitações. O segredo consiste em ser
humildes e magnânimos. Por isso, é que Maria pôde falar de si em termos de
grandeza e de humildade.
Maria
foi adulta na fé. Como diz o Sábio, soube usar o discernimento para raciocinar.
Fez perguntas essenciais ao Anjo da Anunciação para obter respostas precisas.
Mas também foi pequena, dócil e confiante para se abandonar a Deus e ao seu
projecto, mesmo sem perceber tudo.
Agradeçamos
ao Senhor por nos ter dado Maria por Mãe e modelo, que nos ajuda a compreender
a necessidade da pequenez e a crescer nela para recebermos as graças divinas.
Fonte:
Adaptação local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”
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