SEXTA-FEIRA - 4ª SEMANA DA QUARESMA - 5 Abril 2019
Primeira leitura: Sabedoria 2, la.12-22
O
autor sagrado, depois de ter convidado a uma vida segundo a justiça (cf. Sab 1,
1-15), dá a palavra aos ímpios que expõem a sua «filosofia»: a vida deve ser
vivida na busca frenética do prazer, eliminando - não importa com que violência
- tudo o que for obstáculo a esse prazer. Trata-se de uma filosofia errada, (v.
1), fruto da ignorância, pois «ignoram os desígnios secretos de Deus> (v.
22).
Os
ímpios de que fala o texto são presumivelmente os hebreus apóstatas da
comunidade de Jerusalém que, aliados aos pagãos, perseguem os irmãos que
permaneceram fiéis a Deus e à aliança. A sua forma de vida é insuportável:
armam ciladas, insultam e condenam à morte, desafiando o próprio Deus (cf. v.
18; v. 20).
O
«resto» de Israel vive a sua paixão e profetiza a do Messias. É Jesus o
verdadeiro justo, o Filho predilecto, o manso posto à prova, escarnecido (v.
19) e condenado a uma morte infame (v. 20). É Ele, sobretudo que, tendo posto
toda a confiança no Pai, ressurge do abismo da morte. A esperança do Antigo
Testamento adquire uma dimensão inesperada, e ultrapassa toda a «profecia»:
pelo mérito de um só, todos são tornados «justos», desde que estejam abertos à
graça.
Evangelho: João 7, 1-2.25-30
Jesus
não é um provocador. Mas a sua pessoa suscita interrogações e inquietações
crescentes nos seus contemporâneos, enquanto os chefes Judeus, movidos pela sua
aversão, decidem matá-lo (v. 1b).
Jesus
aguarda serenamente a hora do Pai. Não foge, mas também não apressa os tempos.
Evita a Judeia e, quando decide subir a Jerusalém, fá-lo «quase em searedo. (v.
24). Mas é rapidamente reconhecido e logo as opiniões se dividem, agora sobre a
sua messianidade. Para alguns, membros de círculos apocalípticos, se Jesus vem
de Nazaré, não é mais do que um impostor (vv. 26s.) pois, para eles, «quando
chegar o Messias, ninguém saberá donde vem» (v. 27).
Entretanto, Jesus sabia bem donde vinha. Por
isso, «bradava», proclamando de modo solene e autorizado: «Eu não venho de mim
mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é
que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28-29). Com
subtil ironia, afirma que a sua origem é efectivamente desconhecida dos que
julgam saber muito e, por isso, não o reconhecem como enviado de Deus. Estas
palavras ecoam nos ouvidos dos adversários como ironia, insulto e blasfémia.
Tentam apoderar-se d ' Ele, mas não conseguem, pois é Ele o Senhor do tempo e
das circunstâncias. Submeteu-se totalmente aos desígnios do Pai, e a sua hora
ainda não tinha chegado.
João
gosta de jogar com os símbolos. No seu evangelho, os pormenores têm sempre um
valor simbólico. É o caso da conjura contra Jesus colocada poucos dias antes da
festa dos Tendas. Nesta festa, agradecia-se a Deus pelas colheitas, mas também
se recordavam os 40 anos de caminhada no deserto. Construíam-se tendas mesmo em
Jerusalém. Muitos retiravam-se nelas para meditarem. Era um regresso simbólico
ao deserto.
A
controvérsia referida por João situa-se na vigília deste tempo propício à
meditação. É como que um último esforço, feito por Jesus, para levar os seus
adversários a meditarem sobre a sua pessoa e sobre as «obras» por Ele
realizadas. Não resultou em relação aos judeus. Julgam conhecer a Jesus e saber
tudo sobre Ele. Na verdade, não sabem. Jesus aproveita a ocasião para Se
manifestar mais claramente: «Eu não venho de mim mesmo; há um outro,
verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis. Eu é que o conheço, porque
procedo dele e foi Ele que me enviou» (vv. 28b-29). Mas o resultado foi o
aumento da hostilidade dos judeus. Decidem prender Jesus e acabarão por
fazê-lo.
Mas
a tentativa de Jesus pode resultar em relação a nós, se acolhermos a sugestão
da liturgia de hoje e aproveitarmos a caminhada, que estamos a fazer rumo à
Páscoa, para relermos e meditarmos este texto tão denso e inesgotável, e nos
interrogarmos mais a fundo sobre o mistério da pessoa de Jesus e aderirmos a
Ele com um amor maior.
O
livro da Sabedoria mostra-nos que, mesmo as coisas mais positivas, podem ser
aproveitadas para fazer o mal ou para fazer pior. Se o justo é manso, os maus
dizem: «Provemo-lo com ultrajes e torturas para avaliar da sua paciência» (v.
19). Se se diz Filho de Deus e se ufana de ter a Deus por Pai, decidem
experimentá-lo e condená-lo a uma morte infamante, para ver se Deus o protege!
(cf. Sab 2, 18-20).
Peçamos
ao Senhor que nos dê um coração simples e aberto às suas iniciativas
surpreendentes para tomarmos a atitude dos justos e rejeitarmos a dos
pecadores.
A
adesão à Pessoa de Cristo é essencial para uma autêntica vida cristã. O nosso
zelo apostólico brota dessa adesão. Esta "adesão" deve ser entendida,
não o sentido fraco de um simples "acordo", mas no sentido forte de
"aderir", até se identificar com Cristo e viver a sua vida, os seus "mistérios",
os seus "sentimentos: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mini'
(Gal 2, 20).
Fonte: Adaptação local de um texto de
“dehonianos.org/portal/liturgia”
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