5ª FEIRA - VII SEMANA - T C - ANOS ÍMPARES - 28 .02.19
Primeira
leitura: Ben Sirá 5, 1-10 (gr 1-8)
O
sábio apercebe-se da vacuidade de tantas atitudes e comportamentos, que minam a
vida e inquinam a existência. Por isso, avisa os ingénuos, para que não caiam
em armadilhas que causam a morte. Alguns gabam-se de ter feito o mal e de nada
lhes ter acontecido.
A
verdade é que, «a misericórdia e a ira do Senhor caminham juntas», e que, mais
cedo ou mais tarde, «o seu furor cairá sobre os pecadores» (v. 6). É melhor
estar bem informados, antes que seja tarde demais. Segue-se um decálogo
negativo, que pretende barrar o caminho a decisões perigosas:
«não
digas... não sigas... não vivas... não tardes... não adies... não confies...».
Estas
proibições podem agrupar-se tematicamente à volta dos temas da riqueza, da
força, da presunção diante de Deus. O esquema repete-se. É preciso ter cuidado
em não dar excessivo valor às riquezas. Uma riqueza desonesta não garante o
futuro (cf. v. 8).
Também
não vale a pena usar a força com prepotência: «o Senhor te punirá certamente»
(v. 3b). Pecar de modo arrogante, e confiar levianamente no perdão de Deus,
esquecendo o dever do arrependimento e da conversão, é tolice.
O
sábio não se cansa de pregar todas estas verdades. Há que tomar em atenção as
suas avisadas palavras, porque elas, e a misericórdia de Deus, são preciosos
instrumentos de renovação da nossa vida.
Evangelho:
Marcos 9, 41-50
Jesus
continua a sua caminhada para Jerusalém e chega a Cafarnaúm. Marcos insere aqui
uma colecção de ensinamentos sobre o discipulado, aparentemente desligados
entre si.
Mas
neles encontramos algumas palavras-chave que os ligam uns aos outros: a
expressão «em nome» de Cristo, ou «por serdes de Cristo» (v. 41), já fora
anunciada no v. 37; o termo «escândalo» (v. 42) antecipa a secção seguinte (vv.
43-48); a sentença conclusiva do «sal» (v. 50) apela para o versículo anterior.
No
texto que escutamos, Jesus começa a tratar do acolhimento, apontando alguns
gestos simples, feitos em seu nome, porque é Ele que dá significado às acções
humanas, e lhes confere valor de eternidade (v. 41).
Depois,
fala do escândalo: quem põe obstáculos àqueles que ainda são frágeis na fé,
merece uma pena severa. Nos vv. 43-47, Marcos adopta a linguagem paradoxal para
indicar a radicalidade e a dureza do juízo: é melhor sacrificar os órgãos
vitais do que aderir ao pecado e cair na condenação eterna.
As
imagens do sal e do fogo servem para retomar o tema do sacrifício de si mesmo
em vista da preservação ou da purificação do pecado. A sabedoria de Cristo deve
dar sabor a todas as nossas acções; o fogo do amor deve arder sempre para pôr a
nossa vida ao serviço da comunhão.
É
preciso dispor-se a perder... para tudo ganhar: «quem quiser salvar a sua vida,
há-de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho,
há-de salvá-la» (Mc 8, 35).
O
sábio da primeira leitura adverte-nos que não se pode brincar com a vida porque
só temos uma. Há comportamentos que têm as suas consequências. Há caminhos sem
regresso.
Ben
Sirá insiste numa educação preventiva: mostra o engano de certas opções e,
indirectamente, aponta o caminho certo. A riqueza, por exemplo, não é um
baluarte inexpugnável. Por isso, não convém pôr nela uma confiança cega e
absoluta.
O
discurso de Jesus, que escutamos no evangelho de hoje, não é menos severo. Se
não devemos ser fundamentalistas, aplicando-o literalmente, não podemos
menosprezar-lhe o conteúdo. Se não devemos lançar-nos ao mar com uma pedra de
moinho ao pescoço, se não devemos cortar à machada a mão ou o pé, ou arrancar
um dos olhos, não podemos hesitar diante de algumas privações exigidas em vista
do nosso progresso espiritual.
A
palavra de Jesus alerta-nos para a falta de coerência em que facilmente caímos,
e lembra-nos a verdade do que lemos na Carta aos Hebreus:
«a
palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes;
penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e
discerne os sentimentos e intenções do coração» (Heb 4, 12).
A
palavra de Deus é um verdadeiro bisturi. Como o médico o usa para salvar o seu
doente, assim Jesus usa a sua palavra para salvar a nossa vida:
«mais
vale entrares mutilado na vida, do que, com as duas mãos, ires para a Geena»
(v. 43).
A
intenção de Jesus, expressa em linguagem metafórica, é positiva: quer
libertar-nos, quer dar-nos a vida! Cada um deve discernir o que precisa de
cortar para "entrar na vida". Para uns e; uma relação ambígua, para
outros certos espectáculos ou leituras, para outros ainda o modo como tentam
ganhar espaço no campo da política, ou tentam acumular dinheiro...
A
estes últimos S. Tiago lembra que as riquezas podem constituir um grande
perigo:
«E
agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão
sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela
traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de
testemunho contra vós» (Tg 5, 1-3ª.)
O
apóstolo chega mesmo ao sarcasmo:
«Tendes
vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos
apetites... para o dia da matança!» (Tg 5, 5).
Escutemos
as palavras do Sábio, as palavras do Apóstolo e, principalmente, as palavras de
Jesus. Não façamos como a avestruz que, ao ver o perigo, enterra a cabeça na
areia.
Como cristãos devemos dar um testemunho claro de pobreza afectiva e efectiva no nosso mundo tão marcado por uma mentalidade materialista e paganizante. Não é um testemunho fácil, porque não se reconhece o valor da pobreza evangélica. Mas é necessário. Sem ele, podem ficar ofuscados outros ideais evangélicos! Mais do que negar o valor das coisas, a nossa pobreza é uma afirmação do valor supremo que é Deus. «Só Deus», repetia Rafael Arnaiz, monge trapista recentemente canonizado.
Como cristãos devemos dar um testemunho claro de pobreza afectiva e efectiva no nosso mundo tão marcado por uma mentalidade materialista e paganizante. Não é um testemunho fácil, porque não se reconhece o valor da pobreza evangélica. Mas é necessário. Sem ele, podem ficar ofuscados outros ideais evangélicos! Mais do que negar o valor das coisas, a nossa pobreza é uma afirmação do valor supremo que é Deus. «Só Deus», repetia Rafael Arnaiz, monge trapista recentemente canonizado.
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