SEXTA-FEIRA - VII SEMANA -T C - ANOS ÍMPARES
Primeira leitura: Ben Sirá 6, 5-17
O
autor sagrado retira do rico tesouro da experiência humana algumas preciosas
máximas que nos oferece. Algumas tornaram-se provérbios populares. E conclui
com uma pincelada teológica confirmando que o objectivo da literatura
sapiencial bíblica é levar-nos a um encontro muito próximo com Deus.
O
primeiro conselho do sábio é que falemos bem aos outros, se quisermos ter
amigos. Falar com ira, com sarcasmo, com críticas a tudo e a todos, não alarga
o círculo dos nossos amigos. Também é preciso saber escolher os amigos.
"Amigalhaços" há muitos. Mas os verdadeiros amigos, os amigos íntimos
devem ser bem seleccionados.
O
autor sagrado sugere, depois destas afirmações gerais, alguns critérios para
seleccionarmos os amigos. Há amigos que o são enquanto recebem favores, almoços
e jantares grátis.
Mas
quando surge algum contratempo, imediatamente viram costas e, por vezes, acabam
por se tornar inimigos. O verdadeiro amigo há-de ser provado na sua fidelidade,
isto é, na sua capacidade de continuar próximo de nós quando surge a
tribulação. É esse amigo fiel que constitui para nós «um tesouro» (v. 14), a
cujo valor nada se iguala (cf. v. 15).
Evangelho: Marcos 10, 1-12
A
comunidade messiânica deve ultrapassar a moral exclusivamente legalista,
característica dos fariseus. Eles, com a pergunta sobre o divórcio, querem
«experimentá-lo», pô-lo em apuros.
O
divórcio hebraico era regulado por Dt 24, 1-4, cujo propósito inicial era
tutelar a mulher e garantir-lhe uma certa liberdade. Mas as escolas rabínicas
discutiam os motivos de divórcio. As mais liberais achavam que bastava a mulher
deixar queimar a comida, ou o marido encontrar outra mais bonita, para haver
divórcio. Outras achavam que só o adultério justificava o divórcio. De qualquer
modo, o divórcio era concedido pela legislação em vigor com muita facilidade, o
que naturalmente acabava por prejudicar a mulher.
Como
é seu costume, Jesus responde à questão com outra questão, obrigando os seus
interlocutores a aprofundar o sentido da sua objecção. No juízo moral, há que
distinguir o que é regra humana, por muito aceitável que ela seja, e a
perspectiva de Deus. As prescrições mosaicas sobre o divórcio reflectem a
mediocridade humana e não o projecto primordial de Deus sobre a união do homem
e da mulher.
A
moral farisaica fundamentava-se na não confessada inferioridade da mulher, que
era considerada propriedade do homem.
Para
Jesus, à luz do Génesis, a união do homem e da mulher é a meta de uma plenitude
humana. Não é o homem que toma posse da mulher, nem o contrário, mas, ao
casarem, ambos se enriquecem mutuamente.
A
união matrimonial procede de Deus e é um verdadeiro «sacrilégio» contrapor-lhe
um projecto de separação e divergência.
O
homem e a mulher levam em si a imagem de Deus-Amor e, ainda que na diferença,
são chamados a ser uma só coisa no matrimónio (v. 8). A ninguém é permitido
quebrar essa união (v. 9).
Para
encontrar amigos, há que fazer um bom discernimento. O Sábio oferece-nos
conselhos práticos para esse discernimento, lembrando que os verdadeiros amigos
são poucos. Há os amigos de viagem, de restaurante, de jogo, de clube, de
partido... O verdadeiro amigo manifesta-se nas situações difíceis, quando
estamos fragilizados, em crise, quando nada podemos retribuir. É nesses amigos
que podemos confiar e apoiar-nos. Muitas amizades são frágeis e superficiais,
porque assentes em sentimentos passageiros ou em interesses que, uma vez
satisfeitos, fazem esquecer quem os satisfez.
Um
critério para avaliar os amigos é-nos oferecido pela fé: quem ama a Deus,
procura alimentar a sua vida com valores que verifica com a vontade divina. Por
isso, se pode presumir que também seja capaz de cultivar o valor da amizade.
Quantas
amizades nasceram e se desenvolveram à sombra da torre da igreja ou nos grupos
eclesiais. Sem cair em discursos de "gueto", verificamos que um
sentimento religioso comum ajuda a fundar, construir e espalhar o valor da
amizade.
Pode acontecer que andemos convencidos de que amar é sempre algo de agradável.
Pode acontecer que andemos convencidos de que amar é sempre algo de agradável.
Por
isso, quando uma amizade se torna difícil, parece-nos que já não existe amor. Jesus,
implicitamente, ensina-nos que o amor traz consigo o sacrifício, a capacidade
de suportar o outro. É clara a regra que oferece para o matrimónio: Deus
estabeleceu que a união esponsal é indissolúvel.
Só
por causa da «dureza do coração» humano é que Moisés permitiu passar o
«documento de repúdio e divorciar-se» (v. 4).
Os
discípulos também acharam muito duras as palavras de Jesus e, por isso,
disseram-Lhe: «Se é essa a situação do homem perante a mulher, não é
conveniente casar-se!» (Mt 19, 10). Mas é dele que vem a força, se formos
dóceis à sua vontade, para amar de modo verdadeiro e fiel, com paciência e
misericórdia. Parece-nos lógico que os outros tenham de ter paciência connosco.
Mas
nem sempre estamos dispostos a suportar os defeitos dos outros. «Não vos
queixeis uns dos outros», recomenda S. Tiago (Tg 5, 9). Deus não se queixa de
nós. Ama-nos porque é «rico em misericórdia e compaixão» (Ef 5, 9).
Muitas
comunidades cristãs, e mesmo religiosas, tornam-se ambientes onde se vive como
estranhos uns ao lado dos outros, se passa uns ao lado dos outros, mergulhados
nas próprias preocupações, nos próprios problemas, sem nos comunicarmos as
riquezas, as alegrias, o amor que há em nós. Com este tipo de atitudes, faltam
condições para que surjam amizades e possam ser cultivadas.
Fonte:
Adaptação
local de um texto de F. Fonseca em “dehonianos.org/portal/liturgia”
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