2ª FEIRA - VII SEMANA - TEMPO
COMUM - ANOS ÍMPARES - 25 FEVEREIRO 2019
Primeira leitura: Ben Sirá 1, 1-10
Ben Sirá faz parte dos livros sapienciais,
que têm grande interesse para a sabedoria, porque traçam um caminho humano e
espiritual que, partindo de uma dimensão humana atinge os cumes da experiência
divina. O nosso texto desenvolve três ideias principais: Deus é fonte e sede da
sabedoria desde toda a eternidade (vv. 1-4); a sabedoria, tal como o mundo
criado, é um mistério inacessível (vv. 2.3 e 6); criada por Deus, a sabedoria
foi por derramada abundantemente nas suas obras (vv. 8-11).
A corrente sapiencial, importada do
estrangeiro, foi adaptada pelo javista à sua teologia, que acentua a origem
divina da sabedoria. Segundo o Livro dos Provérbios, ela foi criada por Deus
antes do próprio mundo (8, 22-24). A própria sabedoria humana, que parece ter
origem na experiência do homem e no estudo, tem, em última instância, a sua
origem em Deus. Deus não só dá origem a vida, mas também à sabedoria.
Ben
Sirá, tal como Job (38-41) e Isaías (40, 12-14) sublinha o carácter misterioso
e inacessível do mundo criado e da sabedoria. Sendo assim, só por dom de Deus é
que o homem pode possuir a sabedoria. O coração do homem que ama a Deus é lugar
que o Senhor privilegia para lançar a sabedoria. Há pois um certo paralelismo
entre sabedoria e amor. Os verdadeiros sábios são os que amam a Deus. Habita
neles a sabedoria, que é um atributo de Deus. Melhor ainda: habita neles o
próprio Deus. Assim, no Ben Sirá já se respira o ar oxigenado do Novo
Testamento, que celebra Cristo «sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24).
Evangelho:
Marcos 9, 14-29
Jesus não permitiu que os discípulos
acampassem no Tabor. Mas nem Ele lá ficou muito tempo. Ao chegar junto dos
discípulos, viu-os rodeados por uma multidão, que não esperava a sua vinda.
Surpreendida, suspendeu a discussão com os discípulos, e acorreu a saudá-lo. É
então que o pai de um jovem endemoninhado Lhe fala do estado de saúde do filho,
acrescentando que os discípulos não tinham conseguido curá-lo.
O carácter iracundo de Jesus, várias vezes
realçado no segundo evangelho, vem ao de cima: «Ó geração incrédula, até quando
estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá» (v. 19). Jesus
verifica que a sua pregação e os milagres realizados não tinham conseguido
consolidar a fé dos discípulos, nem da multidão. Daí a sua indignação. Todavia
não abandona aqueles que sofrem.
O pai do jovem também tinha uma fé
inconsistente. Mas, pelo menos, reconhecia-o com humildade: «se podes alguma
coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (v. 22). Era já um princípio de fé,
que Jesus intuiu. Partindo dessa fé inicial, e escutando a sua oração - «Eu
creio! Ajuda a minha pouca fé!» - Jesus concede-lhe uma fé mais robusta.
Depois, realiza o milagre pedido, libertando o jovem do espírito mudo e
deixando um breve intervalo de tempo para que se revelem a grandeza e o poder
do amor. A multidão pensa que o jovem estava morto mas, pelo contrário, estava
livre e podia iniciar uma nova vida.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.
Os livros sapienciais da Sagrada Escritura,
como o Ben Sirá, apresenta-nos um caminho humano e espiritual que, partindo da
realidade que somos e nos envolve, nos ensina a permanecer nela, mas a
elevar-nos até Deus. Noutros tempos, era uma atitude bastante espontânea,
também entre nós ocidentais. Hoje talvez não o seja tanto.
Mas é uma atitude que continua a ser
necessária e parece mesmo urgente num mundo vítima de convulsões, tal como o
jovem de que nos fala o evangelho. Jesus indica-nos dois meios para sairmos da
loucura das convulsões que nos agitam: a fé e a oração. A fé dá-nos um poder
incrível, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, como podemos verificar na
vida de tantos homens e mulheres ao longo da bimilenária história da Igreja.
A fé permite-nos rezar de modo eficaz. A
oração que, segundo Carlos de Foucauld, consiste em pensar em Deus amando-o,
eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de uma qualquer circunstância. Pode um
aspecto da Natureza, que nos leva a apreciar a sabedoria do Criador, que tudo
dispôs com ordem e beleza. Mas também pode ser um sofrimento provocado por
grave doença, uma qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a
traição de um amigo, um insucesso profissional...
Nestas circunstâncias pode ser mais difícil
elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a envolver-nos.
Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em
qualquer circunstância, sem descurar os meios humanos, há que dirigir-se ao
encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança.
É a oração que nos permite abrir o cofre
dos favores divinos, pois nos põe em contacto com o Deus vivo a quem, segundo o
ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é
importante para nós, pois Ele sabe o que mais nos convém ou não convém. De
qualquer modo, havemos de louvar, dar graças, pedir perdão, oferecer, suplicar
em qualquer circunstância. Esta atitude sapiencial enche-nos de paz, ainda que
o Senhor não nos dê exactamente o que pedimos, porque nos põe em sintonia e em
comunhão com Deus. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus, a ligação
entre a terra e o céu.
Fonte: adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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