domingo, 24 de fevereiro de 2019

2ª FEIRA - VII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS ÍMPARES - 25 FEVEREIRO 2019


2ª FEIRA - VII SEMANA - TEMPO COMUM - ANOS ÍMPARES - 25 FEVEREIRO 2019

Primeira leitura: Ben Sirá 1, 1-10

Ben Sirá faz parte dos livros sapienciais, que têm grande interesse para a sabedoria, porque traçam um caminho humano e espiritual que, partindo de uma dimensão humana atinge os cumes da experiência divina. O nosso texto desenvolve três ideias principais: Deus é fonte e sede da sabedoria desde toda a eternidade (vv. 1-4); a sabedoria, tal como o mundo criado, é um mistério inacessível (vv. 2.3 e 6); criada por Deus, a sabedoria foi por derramada abundantemente nas suas obras (vv. 8-11).

A corrente sapiencial, importada do estrangeiro, foi adaptada pelo javista à sua teologia, que acentua a origem divina da sabedoria. Segundo o Livro dos Provérbios, ela foi criada por Deus antes do próprio mundo (8, 22-24). A própria sabedoria humana, que parece ter origem na experiência do homem e no estudo, tem, em última instância, a sua origem em Deus. Deus não só dá origem a vida, mas também à sabedoria.

 Ben Sirá, tal como Job (38-41) e Isaías (40, 12-14) sublinha o carácter misterioso e inacessível do mundo criado e da sabedoria. Sendo assim, só por dom de Deus é que o homem pode possuir a sabedoria. O coração do homem que ama a Deus é lugar que o Senhor privilegia para lançar a sabedoria. Há pois um certo paralelismo entre sabedoria e amor. Os verdadeiros sábios são os que amam a Deus. Habita neles a sabedoria, que é um atributo de Deus. Melhor ainda: habita neles o próprio Deus. Assim, no Ben Sirá já se respira o ar oxigenado do Novo Testamento, que celebra Cristo «sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24).

Evangelho: Marcos 9, 14-29

Jesus não permitiu que os discípulos acampassem no Tabor. Mas nem Ele lá ficou muito tempo. Ao chegar junto dos discípulos, viu-os rodeados por uma multidão, que não esperava a sua vinda. Surpreendida, suspendeu a discussão com os discípulos, e acorreu a saudá-lo. É então que o pai de um jovem endemoninhado Lhe fala do estado de saúde do filho, acrescentando que os discípulos não tinham conseguido curá-lo.

O carácter iracundo de Jesus, várias vezes realçado no segundo evangelho, vem ao de cima: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá» (v. 19). Jesus verifica que a sua pregação e os milagres realizados não tinham conseguido consolidar a fé dos discípulos, nem da multidão. Daí a sua indignação. Todavia não abandona aqueles que sofrem.

O pai do jovem também tinha uma fé inconsistente. Mas, pelo menos, reconhecia-o com humildade: «se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (v. 22). Era já um princípio de fé, que Jesus intuiu. Partindo dessa fé inicial, e escutando a sua oração - «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» - Jesus concede-lhe uma fé mais robusta. Depois, realiza o milagre pedido, libertando o jovem do espírito mudo e deixando um breve intervalo de tempo para que se revelem a grandeza e o poder do amor. A multidão pensa que o jovem estava morto mas, pelo contrário, estava livre e podia iniciar uma nova vida.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.

Os livros sapienciais da Sagrada Escritura, como o Ben Sirá, apresenta-nos um caminho humano e espiritual que, partindo da realidade que somos e nos envolve, nos ensina a permanecer nela, mas a elevar-nos até Deus. Noutros tempos, era uma atitude bastante espontânea, também entre nós ocidentais. Hoje talvez não o seja tanto.

Mas é uma atitude que continua a ser necessária e parece mesmo urgente num mundo vítima de convulsões, tal como o jovem de que nos fala o evangelho. Jesus indica-nos dois meios para sairmos da loucura das convulsões que nos agitam: a fé e a oração. A fé dá-nos um poder incrível, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, como podemos verificar na vida de tantos homens e mulheres ao longo da bimilenária história da Igreja.

A fé permite-nos rezar de modo eficaz. A oração que, segundo Carlos de Foucauld, consiste em pensar em Deus amando-o, eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de uma qualquer circunstância. Pode um aspecto da Natureza, que nos leva a apreciar a sabedoria do Criador, que tudo dispôs com ordem e beleza. Mas também pode ser um sofrimento provocado por grave doença, uma qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a traição de um amigo, um insucesso profissional...

Nestas circunstâncias pode ser mais difícil elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a envolver-nos. Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em qualquer circunstância, sem descurar os meios humanos, há que dirigir-se ao encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança.

É a oração que nos permite abrir o cofre dos favores divinos, pois nos põe em contacto com o Deus vivo a quem, segundo o ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é importante para nós, pois Ele sabe o que mais nos convém ou não convém. De qualquer modo, havemos de louvar, dar graças, pedir perdão, oferecer, suplicar em qualquer circunstância. Esta atitude sapiencial enche-nos de paz, ainda que o Senhor não nos dê exactamente o que pedimos, porque nos põe em sintonia e em comunhão com Deus. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus, a ligação entre a terra e o céu.

Fonte: adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”

 

Sem comentários:

Enviar um comentário