1º DOMINGO DA QUARESMA – ANO C - 10 Março 2019
No
início da Quaresma, a Palavra de Deus apela a repensar as nossas opções de vida
e a tomar consciência dessas “tentações” que nos impedem de renascer para a
vida nova, para a vida de Deus.
A primeira leitura Deut 26,4-10, convida-nos a eliminar os falsos deuses em quem às vezes
apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência fundamental. Alerta-nos, na
mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da auto-suficiência, que nos levam
a caminhos de egoísmo e de desumanidade, de desgraça e de morte.
Uma
das tentações frequentes na vida do homem moderno é colocar a sua vida, a sua
esperança e a sua segurança nas mãos dos falsos deuses: o dinheiro, o poder, o
êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, os líderes e
as ideologias ocupam com frequência nas nossas vidas o lugar de Deus.
Quais são os deuses diante dos quais o mundo
se prostra? Quais são os deuses que, tantas vezes, impedem que Deus ocupe, na
minha vida, o primeiro lugar?
O
orgulho, o egoísmo, a auto-suficiência também levam o homem a prescindir de
Deus. Os êxitos e as realizações são atribuídas exclusivamente ao esforço e ao
génio humano, como se o homem se bastasse a si próprio…
Deus
chega mesmo a ser visto, não como a referência última da nossa história e da
nossa vida, mas como um estorvo que impede o homem de ser livre e de seguir o
seu caminho de busca de felicidade.
Onde
nos leva um mundo que prescinde de Deus? Os caminhos que o homem constrói longe
de Deus são caminhos onde encontramos mais humanidade, mais alegria, mais amor,
mais liberdade, mais respeito pela justiça e pela dignidade do homem? Porquê?
Tudo
o que recebemos é de Deus e não nosso. Somos apenas administradores dos dons
que Deus colocou à disposição de todos os homens.
A
nossa relação com os bens – mesmo os mais fundamentais – não pode, pois, ser
uma relação fechada e egoísta: tudo pertence a Deus, o Pai de todos os homens e
deve, portanto, ser partilhado. Como nos situamos face a isto?
Os
bens que Deus colocou à nossa disposição servem apenas para nosso benefício
exclusivo, ou são vistos como dons de Deus para todos?
A segunda leitura - Rom 10,8-13 - convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante e
auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é
uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus.
É
preciso, pois, “converter-se” a Jesus, isto é, reconhecê-l’O como o “Senhor” e
acolher no coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.
O
orgulho e a auto-suficiência aparecem sempre como algo que fecha aos homens o
caminho para Deus. Conduzem o homem ao fechamento em si próprio e a prescindir
de Deus e dos outros.
Os
orgulhosos e auto-suficientes correspondem aos “ricos” das bem-aventuranças:
são os que estão instalados nas suas certezas, no seu comodismo, no seu egoísmo
e não estão disponíveis para se deixar desafiar por Deus e para acolher, em
cada instante, a novidade e o amor de Deus. Por isso, são “malditos”: se não
estiverem dispostos a abrir o seu coração a Deus, recusam a salvação que Deus
tem para oferecer.
•
Como nos situamos face a isto? A nossa religião é um cumprir escrupulosamente
as regras para assegurar o “lugarzinho no céu”, ou é um aderir na fé à pessoa
de Jesus e à proposta gratuita de salvação que, através d’Ele, Deus nos faz?
•
Quando nos reunimos em assembleia e proclamamos Jesus como o nosso “Senhor”,
somos uma verdadeira comunidade de irmãos, sem “judeu nem grego”, ou
continuamos a ser uma comunidade dividida, com amigos e inimigos, ricos e
pobres, negros e brancos, santos e pecadores, superiores e inferiores?
O Evangelho - Lc 4,1-13- Apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus.
Lucas sugere que Jesus recusou radicalmente um caminho de materialismo, de
poder, de êxito fácil, pois o plano de Deus não passava pelo egoísmo, mas pela
partilha; não passava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passava por
manifestações espectaculares que impressionam as massas, mas por uma proposta
de vida plena, apresentada com simplicidade e amor. É claro que é esse caminho
que é sugerido aos que seguem Jesus.
•
Frente a frente estão, hoje, a lógica de Deus e a lógica dos homens. A
catequese que o Evangelho nos apresenta neste primeiro Domingo da Quaresma
ensina que Jesus pautou cada uma das suas escolhas pela lógica de Deus. E nós,
cristãos, seguidores de Jesus? É essa a nossa lógica, também?
•
Deixar-se conduzir pela tentação dos bens materiais, do acumular mais e mais,
do olhar apenas para o seu próprio conforto e comodidade, do fechar-se à
partilha e às necessidades dos outros, é seguir o caminho de Jesus? Pagar
salários de miséria aos operários e malbaratar fortunas em noitadas de jogo ou
em coisas supérfluas (enquanto os irmãos, ao lado, gemem a sua miséria), é
seguir o caminho de Jesus?
•
Dentro de cada pessoa, existe o impulso de dominar, de ter autoridade, de
prevalecer sobre os outros. Por isso – às vezes na Igreja – os pobres, os
débeis, os humildes têm de suportar atitudes de prepotência, de autoritarismo,
de intolerância, de abuso. A catequese de hoje sugere que este “caminho” é
diabólico e não tem nada a ver com o serviço simples e humilde que Jesus propôs
nas suas palavras e nos seus gestos.
•
Podemos, também, ceder à tentação de usar Deus ou os dons de Deus para brilhar,
para dar espectáculo, para levar os outros a admirar-nos e a bater-nos palmas.
A isto Jesus responde de forma determinada: não utilizarás Deus em proveito da
tua vaidade e do teu êxito pessoal.
Fonte:
Adaptação de um texto de “dehoniabos.org/portal/liturgia”
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