4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
O tema da
liturgia deste domingo convida a reflectir sobre o “caminho do profeta”:
caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de
esperança, porque é um caminho onde Deus está. A liturgia de hoje assegura ao
“profeta” que a última palavra será sempre de Deus: “não temas, porque Eu estou
contigo para te salvar”.
A primeira leitura (Jer 1,4-5.17-19), apresenta a figura do profeta Jeremias.
Escolhido, consagrado e constituído profeta por Jahwéh, Jeremias vai arrostar
com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão
e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
Os
“profetas” não são uma classe de animais extintos há muitos séculos, mas são
uma realidade com que Deus continua a contar para intervir no mundo e para
recriar a história. Quem são, hoje, os profetas? Onde estão eles?
No Baptismo,
fomos ungidos como profetas, à imagem de Cristo. Estamos conscientes dessa
vocação a que Deus a todos nos convocou? Temos a noção de que somos a “boca”
através da qual a Palavra de Deus se dirige aos homens?
O profeta é
o homem que vive de olhos postos em Deus e de olhos postos no mundo (numa mão a
Bíblia, na outra o jornal diário). Vivendo em comunhão com Deus e intuindo o
projecto que Ele tem para o mundo, e confrontando esse projecto com a realidade
humana, o profeta percebe a distância que vai do sonho de Deus à realidade dos homens. É aí que ele intervém, em nome de
Deus, para denunciar, para avisar, para corrigir. Somos estas pessoas,
simultaneamente em comunhão com Deus e atentas às realidades que desfeiam o
nosso mundo?
A denúncia
profética implica, tantas vezes, a perseguição, o sofrimento, a marginalização
e, em tantos casos, a própria morte (Óscar Romero, Luther King, Gandhi…). Como
lidamos com a injustiça e com tudo aquilo que rouba a dignidade dos homens? O
medo, o comodismo, a preguiça, alguma vez nos impediram de ser profetas?
A segunda leitura (1
Cor 12,31-13,13 ), parece um tanto desenquadrada desta temática: fala
do amor – o amor desinteressado e gratuito – apresentando-o como a essência da
vida cristã. Pode, no entanto, ser entendido como um aviso ao “profeta” no
sentido de se deixar guiar pelo amor e nunca pelo próprio interesse… Só assim a
sua missão fará sentido.
O amor
cristão – isto é, o amor desinteressado que leva, por pura gratuidade, a
procurar o bem do outro – é, de acordo com Paulo, a essência da experiência
cristã. É esse o amor que me move?
Quando faço algo, partilho algo, presto
algum serviço, é com essa atitude desinteressada, de puro dom?
Desse amor
partilhado nasce a comunidade de irmãos a que chamamos Igreja. O amor que une
os vários membros da nossa comunidade cristã é esse amor generoso e
desinteressado de que Paulo fala?
Quando a comunidade cristã é palco de lutas
de interesses, de ciúmes, de rivalidades egoístas, que testemunho de amor está
a dar?
O Evangelho (Lc 4,21-30), apresenta-nos o profeta Jesus, desprezado
pelos habitantes de Nazaré (eles esperavam um Messias espectacular e não
entenderam a proposta profética de Jesus). O episódio anuncia a rejeição de
Jesus pelos judeus e o anúncio da Boa Nova a todos os que estiverem dispostos a
acolhê-la – sejam pagãos ou judeus.
Estamos na
sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus
foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho dos Profetas e
a fazer o respectivo comentário… Leu uma citação de Is 61,1-2 e “actualizou-o”,
aplicando o que o profeta dizia, a Si próprio e à sua missão: “cumpriu-se hoje
mesmo este trecho da Escritura que acabais de ouvir”.
O Evangelho de hoje apresenta a reacção dos habitantes de Nazaré à acção e às
palavras de Jesus.
“Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”.
Os habitantes de Nazaré julgam conhecer Jesus, viram-n’o crescer, sabem
identificar a sua família e os seus amigos mas, na realidade, não perceberam a
profundidade do seu mistério. Trata-se de um conhecimento superficial, teórico,
que não leva a uma verdadeira adesão à proposta de Jesus. Na realidade, é uma
situação que pode não nos ser totalmente estranha: lidamos todos os dias com
Jesus, somos capazes de falar algumas horas sobre Ele; mas a sua proposta tem
impacto em nós e transforma a nossa existência?
“Faz também aqui na terra o que ouvimos dizer
que fizestes em Cafarnaum” – pedem os habitantes de Nazaré. Esta é a atitude de
quem procura Jesus para ver o seu espectáculo ou para resolver os seus problemas
pessoais. Supõe a perspectiva de um Deus comerciante, de quem nos aproximamos
para fazer negócio. Qual é o nosso Deus? O Deus de quem esperamos espectáculo
em nosso favor, ou o Deus que em Jesus nos apresenta uma proposta séria de
salvação que é preciso concretizar na vida do dia a dia?
Como na primeira leitura, o Evangelho
propõe-nos uma reflexão sobre o “caminho do profeta”: é um caminho onde se
lida, permanentemente, com a incompreensão, com a solidão, com o risco… É, no
entanto, um caminho que Deus nos chama a percorrer, na fidelidade à sua
Palavra. Temos a coragem de seguir este caminho? As “bocas” dos outros, as
críticas que magoam, a solidão e o abandono, alguma vez nos impediram de
cumprir a missão que o nosso Deus nos confiou?
Fonte: Adaptação local
de “dehonianos.org.portal/liurgia”
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