QUARTA-FEIRA IV SEMANA – TEMPO COMUM – ANOS ÍMPARES –
Primeira leitura: Hebreus 12, 4-7.11-15
O autor da Carta aos Hebreus continua a encorajar na
fé os seus destinatários. Sofrimento pelo sofrimento? Não! Seria um absurdo,
pois é sempre uma privação, algo de negativo. Por isso, o nosso autor, que já
ilustrou a dimensão teológica do sofrimento, vai agora tratar do seu aspecto
mais imediato, que é o pedagógico. A provação pode parecer dura, pesada.
Mas há uma chave de leitura que nos permite
descobri-la como positiva: a provação é fruto de amor. Se o Senhor permite
provações, é para nos fazer crescer na dimensão filial. Por isso é que Jesus
veio falar-nos do coração de Deus e revelar-nos o rosto do Pai. A relação de
Deus connosco é sempre a relação de um Pai bom para com os seus filhos.
Se corrige, é para nos educar. É um sinal de amor de
Alguém que Se inclina sobre o filho vacilante para o tornar estável e forte. Só
quem ama é capaz de intervir em prol do nosso verdadeiro bem, mesmo que nos
faça sofrer. O sofrimento momentâneo é prelúdio de uma grande alegria.
Evangelho: Mc 6, 1-6
Depois de apresentar alguns milagres de Jesus, Marcos
abre uma nova secção do seu evangelho para falar de uma série de viagens,
dentro e fora da Galileia. Começa por ir à «sua terra», a Nazaré e, em dia de
sábado, entra na sinagoga. Usa o direito de comentar a Escritura na sinagoga,
que era reconhecido a qualquer homem adulto.
Mas a sua doutrina é diferente da dos outros rabis.
Marcos não cita, ao contrário de Lucas (4, 17ss.) os versículos de Isaías lidos
por Jesus. Mas regista o espanto de quantos o ouviram. Esse espanto era
motivado pela origem das palavras pronunciadas por Jesus, pela sabedoria que
demonstrava e pelos prodígios que fazia. Tudo parecia estar em contradição com
o conhecimento que tinham dele e da sua família. Mas é nesta contradição que se
revela a verdadeira identidade de Jesus (v. 3).
Também os profetas foram muitas vezes perseguidos por
aqueles que tinham maior obrigação de os compreender (v. 4). A falta de fé dos
seus conterrâneos impede Jesus de fazer entre eles milagres e prodígios, como
tinha feito noutras terras.
A fé é condição necessária para que Jesus possa actuar
e conceder as suas graças. Por isso é que Jesus não pôde realizar prodígios
entre os seus conterrâneos: «Não pôde fazer ali milagre algum… Estava admirado
com a falta de fé daquela gente» (vv. 5-6).
A primeira leitura lembra que, também nós, podemos
deter-nos nas aparências contrárias e não reconhecer as intervenções de Deus na
nossa vida e na vida do mundo. Quando nos encontramos no meio de provações, que
nos parecem incompreensíveis e mesmo absurdas, ficamos inquietos e facilmente
sucumbimos à tentação contra a fé.
A Palavra de Deus, hoje, ajuda-nos a permanecer
firmes. Não nos dá respostas directas para cada caso de sofrimento, mas
convida-nos a reencontrar aquela atitude filial que, nos momentos de dor, nos
permite reconhecer a mão de um Deus que é, acima de tudo, Pai. O homem é homem
pelo mistério da sua liberdade. Deus jamais lhe retira esse dom, mas ajuda-o a
crescer numa atitude de confiança e de abandono n´Ele, mesmo quando nos vemos
em situações de lágrimas e sangue.
Nem Jesus, o
Filho predilecto, santo e inocente foi poupado: «O castigo que nos salva caiu
sobre ele, fomos curados pelas suas chagas» (Is 53, 5).
Não há provação tão dolorosa que não nos permita lançar sobre Ele o nosso olhar para reencontrarmos nas suas lágrimas de compaixão a certeza de que o sofrimento, a dor, os sofrimentos não são maldição, mas caminho que o próprio Amor nos faz percorrer, no seu abraço sem fim.
Não podemos compreender! Deus é Deus e, diante d´Ele,
diante dos seus insondáveis caminhos, há apenas que assumir uma atitude de
adoração e de fé. O maior escândalo para o nosso coração consiste em que, não
só o sofrimento não nos seja retirado, mas que o próprio Deus tenha vindo para
meio de nós em pobreza, insignificância, a derramar as suas lágrimas humanas de
Filho.
A Carta aos Hebreus já nos disse como Jesus quis
aprender a obediência pelas coisas que sofreu, quis conhecer aquela educação
dolorosa que nos é necessária. Quando, por nosso lado, vivemos estes momentos
de dolorosa educação, estamos unidos a Ele de modo especial e podemos crescer
muito no seu amor.
Fonte: “dehonianos.org/portal/liturgia”
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