VII Domingo do
Tempo Comum – Ano C
A
liturgia deste domingo exige-nos o amor total, o amor sem limites,
mesmo para com os nossos inimigos. Convida-nos a pôr de lado a lógica da
violência e a substituí-la pela lógica do amor.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo (David) que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão..
LEITURA I – 1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo (David) que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão..
LEITURA I – 1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23
• A
lógica da violência tem feito parte da história humana. Nos últimos cem anos
conhecemos duas guerras mundiais e um sem número de conflitos resultantes dessa
lógica. Como resultado, foram mortos muitos milhões de seres humanos e o mundo
conheceu sofrimentos inqualificáveis. Depois disso, o medo de um holocausto
nuclear traz-nos em suspenso e a violência quotidiana atinge, todos os dias, um
número significativo de pessoas inocentes. Onde nos leva esta lógica? Ela não
provou já os seus limites? Ainda acreditamos que a violência seja o princípio
de um mundo melhor?
• É
necessário também aplicarmos a reflexão sobre a violência à nossa vida pessoal…
Como me situo face à lógica da violência e da agressão? Quando alguém tem
pontos de vista diferentes dos meus, grito mais alto para o vencer, ou utilizo
a violência física? Agrido-o na sua honra e na sua dignidade, se não puder
vencê-lo pela força dos argumentos? A minha lógica é a do “olho por olho, dente
por dente”, ou é a lógica do perdão e do amor?
•
Qual a minha atitude face a esse valor supremo que é a vida humana? Há algo que
justifique a morte do inimigo, a cadeira elétrica, a injeção letal, o tiro na
nuca, o atentado terrorista, o enforcamento? À luz da Palavra de Deus que hoje
nos é proposta, justifica-se a eliminação legal de pessoas (pena de morte)?
LEITURA
II – 1 Cor 15, 45-49,
A
segunda leitura continua a catequese iniciada há uns domingos atrás sobre a
ressurreição. Podemos ligá-la com o tema central da Palavra de Deus deste
domingo – o amor aos inimigos – dizendo que é na lógica do amor que preparamos
essa vida plena que Deus nos reserva; e que o amor vivido com radicalidade e
sem limitações é um anúncio desse mundo novo que nos espera para além desta
terra.
• A
ressurreição aparece, nesta perspetiva, como a passagem para uma nova vida,
onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites que a materialidade
do nosso corpo nos impõe. Será a vida em plenitude ou, como diz Karl Rahner, “a
transposição no modo de plenitude daquilo que aqui vivemos no modo de
deficiência”. A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada,
como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo
final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida
plena. Sendo assim, haverá alguma razão para temermos a morte ou para vermos
nela o fim de tudo – uma espécie de barreira que põe definitivamente fim à
comunhão com aqueles que amamos?
•
Mais uma vez convém recordar que ver a morte e a ressurreição na perspetiva da
fé é libertarmo-nos do medo: medo de agir, medo de atuar, medo de denunciar as
forças de morte que oprimem os homens e desfeiam o mundo… Que temos a perder,
quando nos espera a vida plena, o mergulho no horizonte infinito de Deus – onde
nem o ódio, nem a injustiça, nem a morte podem pôr fim a essa vida total que
Deus reserva aos que percorreram, neste mundo, os caminhos do amor e da paz?
EVANGELHO: Lc 6, 27-38
O
Evangelho reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração
sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente
de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio
grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido,
igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos
leve a ver em cada homem – mesmo no inimigo – um nosso irmão
• No
mundo em que vivemos, é um sinal de fraqueza e de cobardia não responder a uma
agressão ou não pagar na mesma moeda a quem nos faz mal; e é um sinal de
coragem e de força pagar o mal com o mal – se possível, com um mal ainda maior.
Achamos, assim, que defendemos a nossa honra e o nosso orgulho e conquistamos a
admiração dos que nos rodeiam. Estes princípios geram, inevitavelmente, guerras
entre os povos, separações e divisões entre os membros da mesma família,
inimizades e conflitos entre os colegas de trabalho, relacionamentos difíceis e
pouco fraternos entre membros da mesma comunidade cristã ou religiosa. Porque
não descobrimos, ainda, que este caminho é desumano? É possível acreditar que
esta dinâmica de confronto nos torna mais livres e mais felizes?
• A
nossa força e a nossa coragem manifestam-se, precisamente, na capacidade de
inverter esta lógica de violência e de orgulho e de estender a mão a quem nos
magoou e ofendeu. O cristão não pode recorrer às armas, à violência, à mentira,
à vingança para resolver qualquer situação de injustiça que o atingiu. Esta é a
lógica dos seguidores de Jesus, desse que morreu pedindo ao Pai perdão para os
seus assassinos.
• A
lógica de Jesus – a lógica dos seguidores de Jesus – é precisamente a única que
é capaz de pôr um travão à violência e ao ódio. A violência gera sempre mais
violência; só o amor desarma a agressividade e transforma os corações dos maus
e dos violentos.
•
Isto não significa ter uma atitude passiva e conivente diante das injustiças e
das arbitrariedades; significa estar sempre disposto a dar o primeiro passo
para o reencontro, para acolher o que falhou; significa ter gestos de bondade e
de compreensão, mesmo para quem nos fez mal. Também não significa,
obrigatoriamente, esquecer (felizmente, ou infelizmente, temos memória e não a
podemos desligar quando nos apetece); mas significa não deixar que as falhas
dos outros nos afastem irremediavelmente; significa ter o coração aberto ao
nosso próximo – mesmo quando Ele é ou foi um “inimigo”.
Fonte: adaptação local de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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