Primeira leitura: Génesis 37, 3-4.12-13a.17b-28
A
história de José é mais um exemplo de como Deus escolhe os «pequenos» (v. 3)
para realizar os seus projectos de salvação. Essas escolhas de Deus suscitam,
muitas vezes, o ódio e a inveja (v. 4) que levam ao afastamento, se não mesmo à
eliminação, do predilecto (w. 20.28).
A
história tem evidentes objectivos didácticos. Há, em toda a história, um
horizonte de optimismo e universalidade (v. 28): dentro das intrigas e
contendas tribais, actua a invisível providência de Deus (cf. 45, 7; 50, 20),
que conduz o seu eleito por aparentes caminhos de morte, mas que acaba por ser
salvo e salvar a todos.
José
é um homem permanentemente atento aos sinais da vontade de Deus, mesmo durante
os sonhos, que aprende a interpretar (cf. v. 19). A túnica de príncipe separa-o
dos irmãos, cavando uma profunda incomunicabilidade entre eles (v. 4).
José
é figura de Cristo: a sua perseguição e o seu sangue são o preço que o pai tem
de pagar para abraçar, num só amplexo, todos os filhos, já não unidos pela
corresponsabilidade no mal (v. 25), mas pelo beijo de paz que, com o perdão
(cf. 45, 15), lhes é oferecido pelo irmão inocente.
Evangelho: Mateus 21, 33-43.45-46
Os
príncipes dos sacerdotes e os anciãos são os vinhateiros que têm o privilégio
de cultivar a vinha predilecta de Deus, o povo de Israel.
No
momento da colheita, em vez de apresentarem os frutos ao dono, que é Deus,
querem apropriar-se deles e maltratam os profetas que lhes são enviados.
«Finalmente, Deus envia-lhes o seu próprio Filho, que é Jesus que lhes está a
falar. É a última oportunidade que Deus lhes oferece para que se tornem seus
colaboradores na obra da salvação.
Mas
acontece exactamente o que a parábola dizia sobre os vinhateiros malvados:
compreenderam que eram eles os visados e procuravam prendê-lo (cf. vv. 45-46).
E, conduzidos habilmente por Jesus, são eles mesmos que tiram as consequências
de um tal acto: o dono, que é Deus:
«Dará
morte afrontosa aos malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros que lhe
entregarão os frutos na altura devida» (v. 41).
Quando
Mateus escreve este evangelho, já se tinham verificado a alegoria de Isaías e a
profecia de Jesus: os chefes do povo de Israel tinham efectivamente matado o
Filho fora da vinha - fora dos muros de Jerusalém - e a cidade santa já tinha
sido destruída por Tito, no ano 70, e caído em mãos estrangeiras, o império
romano. Os novos vinhateiros, os pagãos convertidos, cultivavam a nova vinha, a
Igreja, dando a Deus abundantes frutos, com adesões cada vez mais numerosas à
fé cristã.
José,
de quem nos fala a primeira leitura, é uma impressionante figura de Jesus, tal
como o filho herdeiro de que nos fala o evangelho. Em ambas as leituras
escutamos já o «Crucifica-o». «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. Vamos
matemo-lo», disseram os irmãos de José; «Este é o herdeiro. Matemo-lo»,
disseram os vinhateiros malvados.
O
único protagonista é, portanto, Jesus, escondido na figura de José e na figura
do filho herdeiro da parábola. Estes textos fazem-nos pensar nos sofrimentos do
Coração de Jesus, morto por inveja, como nos referem os relatos da paixão. Foi
a inveja que mobilizou a má vontade dos irmãos contra José e a dos vinhateiros
contra o filho herdeiro da parábola.
Mas
também se fala de nós nas leituras que escutamos hoje. Jesus é o protagonista.
Mas nós também entramos na sua história. Somos os irmãos, somos os vinhateiros
malvados.
Mas
não devemos desesperar com os nossos pecados. Na história de José, a inveja foi
maravilhosamente vencida: no Egipto, José não puniu os irmãos, mas salvou-os.
Soube ler a história das suas tribulações, do seu exílio, como preparação,
querida por Deus, para poder salvar os seus irmãos e todo o seu povo no tempo
da carestia.
Jesus
também venceu a inveja aceitando tornar-se o último de todos. Quando O
contemplamos na cruz, não podemos dizer que cause inveja a alguém! Pondo-se no
último lugar, Jesus revelou o seu poder. O domínio que o Pai lhe prometeu é um
domínio de amor, no serviço de todos.
Ao
escutarmos as leituras de hoje, não devemos, portanto, sentir-nos condenados,
mas devemos erguer os olhos mais alto, para o coração do Pai. Jesus veio revelá-lo.
É Ele, o Pai, que, por amor, envia Jesus, como fora enviado José, a «procurar
os irmãos» (cf. Gn 37, 16).
A
predilecção de Israel por José, ou do Pai por Jesus, não é mais do que uma
particular participação no amor paterno. É esse amor, que tem origem no coração
do Pai, que os torna diferentes e capazes de vencer a inveja, o ódio e a
rivalidade, com o perdão.
Fonte: Adaptação de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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