QUINTA-FEIRA - 2ª SEMANA DA QUARESMA - 21 MARÇO 2019
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
Jeremias
oferece-nos duas sentenças sapienciais. Servindo-se da contraposição, aponta
claramente onde está, para o homem, a maldição cujo resultado é a morte (w. 5-
8), e onde está a bênção cujo resultado é a vida.
O
ímpio é aquele que, ainda antes de praticar o mal, apenas confia no que é
humano e se afasta interiormente do Senhor. O resultado só pode ser a prática
do mal. Aquilo em que o homem põe a sua confiança é como o terreno donde uma
árvore retira o alimento. Por isso, o ímpio é comparado a um cardo do deserto
que não pode dar fruto nem durar muito (v. 6).
O
homem piedoso também se caracteriza, em primeiro lugar, pela sua atitude de
confiança diante de Deus. Por isso, é comparado a uma árvore plantada junto de
um rio: não há-de morrer de sede, nem será estéril (w. 9ss.).
Na
segunda sentença, o profeta insiste na importância do «coração», centro das
decisões e da afectividade do homem. Só Deus experimenta e avalia com justiça
os comportamentos e os frutos de cada um dos homens, porque, só Ele conhece de
verdade o coração do homem e o pode curar.
Evangelho: Lucas 16,19-31
S.
Lucas recolhe, no capítulo 16 do seu evangelho, os ensinamentos de Jesus sobre
as riquezas. A parábola, que hoje escutamos, ensina-nos a considerar a nossa
condição actual à luz da condição eterna. A sorte pode inverter-se. E seguem
algumas aplicações práticas (v. 25). Jesus fala-nos de um homem rico que «fazia
todos os dias esplêndidos banquete» e de um pobre significativamente chamado
Lázaro (termo que significa Deus ajuda). Atormentado pela fome e pela doença,
permanece à porta do rico, à espera de alguma migalha. Os cães comovem-se com
Lázaro; mas o rico permanece indiferente.
Chega
porém o dia da morte, a que ninguém escapa. E inverte-se a situação.
Jesus
levanta um pouco o véu do tempo para nos fazer entrever o banquete eterno,
anunciado pelos profetas. Lázaro é conduzido pelos anjos a um lugar de honra,
nesse banquete, enquanto o rico é sepultado no inferno. Do lugar dos tormentos,
o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir, por meio dele, um mínimo gesto de
conforto (v. 24).
Mas
as opções desta vida tornam definitiva e imutável a condição eterna (v. 26).
Nem o milagre da ressurreição de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo,
podem sacudir um coração endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor
permanentemente ensina.
Hoje,
tanto a primeira leitura como o evangelho, com imagens muito simples mas
pintadas a cores fortes, nos colocam perante o facto de que é nesta vida que decidimos
o nosso destino eterno, a vida ou a morte, sem outras possibilidades.
Aquele
que, nesta vida, põe a sua confiança nos meios humanos e nas coisas materiais
e, sobretudo, aquele que se afasta do Senhor, e organiza a própria existência
independentemente de Deus, é «maldito».
O
apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite ver para além
do imediato, do material. Não permite ver a Deus, nem a caducidade da nossa
actual condição, como não permite ver as necessidades dos pobres que jazem à
nossa porta. Aquele que confia no Senhor, reconhecendo a sua condição de
criatura, dependente e amada por Ele, é «bendito», Leva no coração uma semente
de eternidade que florescerá em felicidade e paz eternas. Por outro lado, a
verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela solidariedade com os
pobres, com pobres que o são materialmente, com os que o são espiritualmente,
mas também com os doentes, com vítimas de contrariedades e opressões de
qualquer espécie. Tanto Jeremias como Jesus nos ensinam tudo isto, não de modo
abstracto, mas com imagens expressivas como a da árvore plantada no deserto ou
junto de um rio ou como o pobre Lázaro.
O
pobre Lázaro caracteriza-se pelo silêncio, tanto diante das provações da vida
como diante da falta de atenção daqueles de quem esperava ajuda. Não grita
contra Deus nem contra os homens. Permanece silencioso e paciente no seu
sofrimento físico, psicológico e espiritual, confiando em Deus.
Finalmente
surge a morte e tudo se transforma. Levado pelos anjos para o seio de Abraão,
continua em silêncio. No seu rosto, primeiro sereno e confiante, e agora
glorioso, transparece outro Rosto, o de Jesus, que se fez pobre para nos
enriquecer com a sua pobreza. Sendo de condição divina, por nosso amor, assumiu
a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina. Sendo
rico fez-Se pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua
riqueza.
A
nossa confiança em Deus leva-nos a solidarizar-nos com o amor de Jesus por
todos os homens, um "amor que salva". Como Ele, queremos estar
presentes e actuantes junto de todos os lázaros desta humanidade de que somos
parte.
Fonte: Adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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