Primeira leitura: Jeremias 18, 18-20
O
versículo 18 situa o texto que hoje escutamos. Jeremias está novamente sob
ameaça de morte (cf. Jer 11, 18s.). Agora são os próprios chefes de Israel que
tentam reduzi-lo ao silêncio. Daí a dureza da invocação de vingança que, de
acordo com a lei vetero-testamentária de Talião, sai da boca do profeta. Mas o
nosso texto omite esses versículos, orientando-nos, sim, para a escuta do
evangelho.
Jeremias
é tipo do Servo sofredor (cf. Is 53, 8-10) e é perseguido por causa da
fidelidade à sua vocação e do seu amor ao povo. Jeremias abandona-se
confiadamente a Deus, de quem espera a salvação.
Tudo
aquilo que o profeta faz por amor do seu povo, e diz na sua oração, irá
realizar-se de modo perfeito no verdadeiro Servo sofredor, Jesus. Ele será
morto pelos chefes do povo. Mas não pedirá vingança a Deus; pedirá perdão para
os seus inimigos, e oferecerá livremente a vida em favor daqueles que O
crucificam.
Evangelho: Mateus 20, 17-28
Jesus
sobe a Jerusalém consciente daquilo que lá O espera. Pela terceira, vez fala
aos discípulos da sua paixão. Fala claramente. Para espanto e confusão dos seus
contemporâneos, identifica-se com o Filho do homem, figura celeste e gloriosa
esperada para instaurar o reino escatológico de Deus, mas também se identifica
com outra figura, de sinal aparentemente oposto, a do Servo sofredor. Os
discípulos não conseguem compreender e aceitar tais perspectivas e preferem
cultivar as de sucesso e poder (vv. 20-23). Jesus explica-lhes, mais uma vez, o
sentido da sua missão e o sentido do seguimento que lhes propõe: Ele veio para
«beber o cálic(!» (v. 22), termo que, na linguagem dos profetas, indica a
punição divina a reservada aos pecadores.
Quem
aspira aos lugares mais elevados no Reino, terá que, como Ele, estar pronto a
expiar o pecado do mundo. É mesmo o único privilégio que pode oferecer, porque
não Lhe compete distribuir lugares no Reino. Ele é o Filho de Deus, mas não
veio para dominar. Veio para servir como o Servo de Javé, oferecendo a sua vida
em resgate para que os homens, escravos do pecado e sujeitos à morte, sejam
libertados.
À
mãe dos filhos de Zebedeu, que pensava que a vida vale pelos lugares que se
ocupam na sociedade, pelo poder de que se dispõe, o profeta Jeremias e,
sobretudo, Jesus oferecem o exemplo de uma vida gasta no serviço, por amor.
Não
é fácil compreender uma tal perspectiva. Jesus vê-se na necessidade de, por
três vezes, preparar e anunciar aos discípulos a sua paixão, dizendo-lhes que
será preso, condenado, escarnecido, crucificado. Mas eles continuam a procurar
satisfazer as suas ambições. Hoje, são os filhos de Zebedeu que, por meio da
mãe, tentam a sua sorte. Jesus tinha falado de humilhações. Eles pedem honras,
lugares de privilégio: sentar-se «um à tua direita e o outro à tua esquerda, no
teu Reino. (v. 21).
Isto
mostra-nos a necessidade da paixão. Só ela poderia mudar o coração do homem.
Não eram suficientes palavras, mesmo que fossem as de Jesus.
A paixão de Jesus revela-nos onde se encontra
a verdadeira alegria, a verdadeira glória, a verdadeira vida: servir, amar como
Ele, até ao sacrifício da própria vida pelos outros vistos como mais
importantes do que nós mesmos. Isto pressupõe a humildade, virtude que torna
verdadeiro todo o gesto de amor e o liberta de equívocos, da busca dos
interesses. Foi o caminho do profeta Jeremias. Só depois de o percorrer,
descobriu o seu verdadeiro significado.
Também
no caminho espiritual de cada um de nós, a provação é importante para nos
transformar interiormente. Depois, dela já não ambicionamos a satisfação
terrena que antes procurávamos. E, se a vivemos unidos a Cristo, d ' Ele
recebemos a força para realizar o bem incondicionalmente, sabendo que não se
perderá, mas que, a seu tempo, dará fruto: depois da paixão e da morte, vem a
ressurreição (cf. Mt 20, 18ss.). O serviço humilde, até ao fim, motivado pelo
amor, conduz à vida, a glória eterna.
O
Espírito faz-nos superar o nosso egoísmo ou amor de exigência e impele-nos para
o amor oblativo; faz-nos ultrapassar a busca dos interesses e comodidades
pessoais, para actuar conforme a justiça em relação a cada uma das pessoas e em
relação à comunidade, para não violarmos os seus direitos.
O
Espírito impele-nos a dar-nos aos outros, especialmente aos mais pobres e
marginalizados, não só com aquilo que temos, mas também com aquilo que somos:
tempo, capacidades, cultura, etc. O Espírito leva-nos à vida de amor e serviço
desinteressado, mas também universal, porque deita por terra todas as barreiras
de raça, de cultura, de sexo:
"Todos
os que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não há judeu nem
grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um
só em Cristo' (Gal 3, 27-28).
Fonte: Adaptação de um texto de: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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