TERÇA-FEIRA - V
SEMANA -
T C - ANOS
ÍMPARES - 12 FEVEREIRO 2019
Primeira leitura: Génesis 1, 20-2, 4a
O homem macho e fêmea, homem-mulher, foi criado «à
imagem de Deus» (v. 26). Mas, o homem «imagem de Deus», não é qualquer um. À
luz da cultura do tempo em que foi escrito o nosso texto, é homem «à imagem de
Deus» aquele que está acima de todos os outros, isto é, o rei.
A página de Gn 1 foi escrita na Babilónia, onde
encontramos um texto bastante eloquente: «A sombra de Deus é o Homem e os
homens são sombra do Homem; o Homem é o rei, igual à imagem da divindade».
O autor sagrado, é certo, estendeu a todos os homens e
mulheres a prerrogativa serem imagem de Deus. Com efeito, a ordem de 'dominar
sobre a terra» e sobre os outros seres vivos é dada indistintamente a todos os
homens.
Mas, insistimos na pergunta: qual é o homem que
realiza plenamente esta missão real no interior da criação? Os Padres orientais
tentaram responder a esta questão introduzindo uma distinção entre «imagem» e
«semelhança». Todos os homens levam em si a imagem divina.
Mas, para reinar verdadeiramente, é preciso conseguir
também uma certa semelhança com o verdadeiro rei do mundo, que é o Filho,
perfeita «imagem de Deus invisível» (Cl 1, 15), assumir as suas opções, entrar
nos seus pensamentos. Esta perspectiva patrística, com fundamento bíblico,
corresponde à afirmação paulina: «E assim como trouxemos a imagem do homem da
terra, assim levaremos também a imagem do homem celeste» (1 Cor 15, 49).
Evangelho: Marcos 7, 1-13
O texto que hoje escutamos parece dar-nos a perceber
que Marcos escreve para uma comunidade judeo-cristã que procurava ultrapassar
certos dados da sua origem. Provavelmente tratava-se de judeo-cristãos de
cultura helenista, isto é, de judeus da dispersão, cujas formas e costumes
tinham sido influenciados pela cultura grega.
Marcos procura mostrar-lhes que a nova relação entre
os discípulos e Jesus de Nazaré também implicava uma nova relação entre os eles
e as regras estabelecidas pelos homens para o encontro com Deus, nomeadamente
no que se refere à pureza ritual: «Porque é que os teus discípulos não obedecem
à tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?» (v. 5).
Mais do que nas suas palavras, é na sua Pessoa que
encontramos a resposta à questão que Lhe é posta. Ao revelar-se como o Filho de
Deus, o Mediador entre Deus e os homens, Jesus relativiza as regras e preceitos
humanos. Não os anula, mas mostra que são válidos se estiverem relacionados com
Ele. Ele é a norma, Ele é a incarnação do mandamento de Deus, a Palavra viva.
O livro do Génesis dá-nos uma esplêndida imagem do
homem. Criado por Deus, à sua imagem e semelhança, o homem é chamado a dominar
a terra, a ser seu senhor, a povoá-la: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e
dominai a terra... » (v. 28). Verdadeiramente, o homem é a obra-prima de Deus:
«Quase fizeste dele um ser divino; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe
domínio sobre as obras das tuas mãos, tudo submeteste a seus pés» (Sl 8, 7-8).
À luz da Palavra de Deus, o homem é realmente grande,
e há que resistir à tentação de, por qualquer modo, o diminuir. Deus quer o
homem grande e glorioso. Deus não é um senhor mesquinho e invejoso.
Deus é amor que Se dá, e Se dá com generosidade:
«Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança» (v. 26). Deus é amor
oblativo, sempre em expansão: dá generosamente e quer dar sempre mais. Tem
grandes ambições para o homem, e não quer que ele se perca em ninharias.
Como vemos no evangelho, nem sequer agrada a Deus que
o homem se diminua numa religião feita de formalismos, de legalismo tacanho,
que dá importância ao que o não merece.
É certo que Jesus não ab-rogou a Lei nem os Profetas,
mas reconduziu-os às suas intenções originárias, àqueles dados escritos que
precedem todas as reelaborações da tradição. Ao fazer isso, recorda a hebreus e
a cristãos que a prática da Lei e a obediência à Palavra escrita, é imitação de
Deus que restabelece no homem a imagem do mesmo Deus, e a plena semelhança com
o seu Criador. Em qualquer dos casos, torna-se claro que a honra que o homem dá
a Deus consiste essencialmente em viver a sua vocação original: ser «imagem e
semelhança» do Criador. É um enorme desafio que nos é posto. Há que optar e
vivê-lo com todas as suas consequências.
Fonte:
Resumo/adaptação de um texto de “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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