Tempo Comum - Anos Ímpares - VI Semana - Quinta-feira
21 Fevereiro 2019
Lectio
Primeira leitura: Génesis 9, 1-13
Deus abençoou Noé e os seus filhos, e disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. 2Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. 3Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. 4Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. 5Ficai também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas vidas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da vida do homem, seu irmão. 6A quem derramar o sangue do homem, pela mão do homem será derramado o seu, porque Deus fez o homem à sua imagem. 7Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos; espalhai-vos pela Terra e multiplicai-vos sobre ela.» 8A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9«Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. 11Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra.
Para o javista, apesar da maldade do homem, a vida e o ritmo da natureza mantêm-se por vontade de Deus. É nessa mesma ordem de ideias que o teólogo sacerdotal insere a aliança de Deus com Noé e com os seus filhos, isto é, com a humanidade pós-diluviana, mas também com todos os seres vivos. Deus promete que não haverá outro dilúvio que destrua a terra ou a vida em qualquer das suas formas. Deus compromete-se; mas também Noé assume compromissos, como é próprio numa aliança. Cada um dos contraentes se compromete em algo a favor do outro, ainda que o objecto ou objectos do compromisso não sejam iguais. Deus depõe o seu arco de guerra sobre as nuvens (v. 13), como sinal de que não quer voltar a pelejar com os homens. O arco-íris que vemos nas nuvens, depois das chuvas, há-de lembrar-nos que o nosso Deus não é um deus de guerra, mas um Deus de paz.
Por nosso lado, a paz que Deus nos oferece há-de levar-nos a respeitar a vida em todas as suas formas, humana e animal, a criar em nós um verdadeiro espírito ecológico. Mais ainda: a vida é sagrada! Mais sagrado ainda é o sangue! Por isso, não se pode derramar o sangue do homem, nem alimentar-se com o sangue dos animais. Segundo o Concílio de Jerusalém (cf. Act 15), este respeito faz parte das coisas necessárias, também para os cristãos provindos do paganismo, que não estão obrigados à observância das leis mosaicas: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas» (Act 15, 25-26).
Evangelho: Marcos 8, 27-33
Naquele tempo, Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» 28Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» 29«E vós, quem dizeis que Eu sou?» - perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» 30Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. 31Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. 32E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. 33Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»
O texto que escutamos é central na teologia do segundo evangelho. Aqui se opõe claramente uma cristologia do filho do homem a uma cristologia e a uma eclesiologia triunfalista, inspirada no conceito político-imperialista do Messias. O povo interrogava-se: «Quem é este?». Agora é o próprio Jesus que pergunta aos discípulos o que é que se diz sobre Ele. Em síntese, os discípulos informam que o povo O vê, não só como um profeta, mas como maior dos profetas, o precursor dos tempos messiânicos. Mas Jesus quer ir mais longe, e interpela directamente os discípulos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (v. 29). Pedro responde em nome da comunidade: «Tu és o Messias» (v. 29). Mas Jesus impõe-lhes novamente o chamado «segredo messiânico» e começa a falar-lhes do mistério da cruz, que está no centro da sua messianidade: Ele é o Servo sofredor que veio carregar sobre si os nossos pecados para nos fazer passar da morte à vida. E quem quiser ser seu discípulo tem de seguir o mesmo caminho da cruz. Pedro parece perceber tudo muito bem, e é o primeiro a reagir ao escândalo da cruz. Mas Jesus chama-o à ordem: «Vai-te da minha frente» (v. 33), isto é, põe-te atrás de Mim se segue-Me.
Pôr-se atrás de Jesus, e segui-Lo como discípulos, é a posição correcta que havemos de tomar para sermos salvos.
Meditatio
O texto do Génesis, que hoje escutamos, lembra-nos a aliança universal estabelecida por Deus com Noé e com toda a humanidade depois do dilúvio. O arco-íris é o sinal dessa aliança. A segunda aliança é celebrada com Abraão e os seus descendentes, os israelitas, os ismaelitas, os edomitas, e outras famílias descendentes do patriarca. A circuncisão é o sinal dessa aliança (cf. Gn 17). Mas o círculo vai-se apertando. No Sinai, a aliança é celebrada com o povo de Israel, e tem como sinal o sábado (cf. Ex 31). São passos progressivos, um depois do outro, que não invalidam os anteriores. Finalmente a aliança concentra-se num só homem, um filho de Israel de quem depende a fidelidade de Deus a todas as outras alianças: é a aliança divídica-messiânica que, para nós cristãos tem como sinal a cruz de Jesus. Quando, como Pedro, dizemos: «Tu és o Messias» (v. 29), havemos de ter em conta a extrema particularidade da figura messiânica e, simultaneamente, da sua máxima universalidade, por ser o ponto de convergência da aliança de Deus com Israel, mas também com toda a humanidade. Graças a Jesus, e à sua cruz, a aliança de Deus com todos os homens permanece e renova-se. Por isso, reconheçamos, por palavras e obras, que Jesus é o arco-íris luminoso e definitiv
o, erguido na cruz, no qual o céu e a terra, e tudo quanto existe, é reconciliado.
Primeira leitura: Génesis 9, 1-13
Deus abençoou Noé e os seus filhos, e disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. 2Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. 3Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. 4Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. 5Ficai também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas vidas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da vida do homem, seu irmão. 6A quem derramar o sangue do homem, pela mão do homem será derramado o seu, porque Deus fez o homem à sua imagem. 7Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos; espalhai-vos pela Terra e multiplicai-vos sobre ela.» 8A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9«Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. 11Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra.
Para o javista, apesar da maldade do homem, a vida e o ritmo da natureza mantêm-se por vontade de Deus. É nessa mesma ordem de ideias que o teólogo sacerdotal insere a aliança de Deus com Noé e com os seus filhos, isto é, com a humanidade pós-diluviana, mas também com todos os seres vivos. Deus promete que não haverá outro dilúvio que destrua a terra ou a vida em qualquer das suas formas. Deus compromete-se; mas também Noé assume compromissos, como é próprio numa aliança. Cada um dos contraentes se compromete em algo a favor do outro, ainda que o objecto ou objectos do compromisso não sejam iguais. Deus depõe o seu arco de guerra sobre as nuvens (v. 13), como sinal de que não quer voltar a pelejar com os homens. O arco-íris que vemos nas nuvens, depois das chuvas, há-de lembrar-nos que o nosso Deus não é um deus de guerra, mas um Deus de paz.
Por nosso lado, a paz que Deus nos oferece há-de levar-nos a respeitar a vida em todas as suas formas, humana e animal, a criar em nós um verdadeiro espírito ecológico. Mais ainda: a vida é sagrada! Mais sagrado ainda é o sangue! Por isso, não se pode derramar o sangue do homem, nem alimentar-se com o sangue dos animais. Segundo o Concílio de Jerusalém (cf. Act 15), este respeito faz parte das coisas necessárias, também para os cristãos provindos do paganismo, que não estão obrigados à observância das leis mosaicas: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas» (Act 15, 25-26).
Evangelho: Marcos 8, 27-33
Naquele tempo, Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?» 28Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias; e outros, que és um dos profetas.» 29«E vós, quem dizeis que Eu sou?» - perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: «Tu és o Messias.» 30Ordenou-lhes, então, que não dissessem isto a ninguém. 31Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias. 32E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo. 33Mas Jesus, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»
O texto que escutamos é central na teologia do segundo evangelho. Aqui se opõe claramente uma cristologia do filho do homem a uma cristologia e a uma eclesiologia triunfalista, inspirada no conceito político-imperialista do Messias. O povo interrogava-se: «Quem é este?». Agora é o próprio Jesus que pergunta aos discípulos o que é que se diz sobre Ele. Em síntese, os discípulos informam que o povo O vê, não só como um profeta, mas como maior dos profetas, o precursor dos tempos messiânicos. Mas Jesus quer ir mais longe, e interpela directamente os discípulos: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (v. 29). Pedro responde em nome da comunidade: «Tu és o Messias» (v. 29). Mas Jesus impõe-lhes novamente o chamado «segredo messiânico» e começa a falar-lhes do mistério da cruz, que está no centro da sua messianidade: Ele é o Servo sofredor que veio carregar sobre si os nossos pecados para nos fazer passar da morte à vida. E quem quiser ser seu discípulo tem de seguir o mesmo caminho da cruz. Pedro parece perceber tudo muito bem, e é o primeiro a reagir ao escândalo da cruz. Mas Jesus chama-o à ordem: «Vai-te da minha frente» (v. 33), isto é, põe-te atrás de Mim se segue-Me.
Pôr-se atrás de Jesus, e segui-Lo como discípulos, é a posição correcta que havemos de tomar para sermos salvos.
Meditatio
O texto do Génesis, que hoje escutamos, lembra-nos a aliança universal estabelecida por Deus com Noé e com toda a humanidade depois do dilúvio. O arco-íris é o sinal dessa aliança. A segunda aliança é celebrada com Abraão e os seus descendentes, os israelitas, os ismaelitas, os edomitas, e outras famílias descendentes do patriarca. A circuncisão é o sinal dessa aliança (cf. Gn 17). Mas o círculo vai-se apertando. No Sinai, a aliança é celebrada com o povo de Israel, e tem como sinal o sábado (cf. Ex 31). São passos progressivos, um depois do outro, que não invalidam os anteriores. Finalmente a aliança concentra-se num só homem, um filho de Israel de quem depende a fidelidade de Deus a todas as outras alianças: é a aliança divídica-messiânica que, para nós cristãos tem como sinal a cruz de Jesus. Quando, como Pedro, dizemos: «Tu és o Messias» (v. 29), havemos de ter em conta a extrema particularidade da figura messiânica e, simultaneamente, da sua máxima universalidade, por ser o ponto de convergência da aliança de Deus com Israel, mas também com toda a humanidade. Graças a Jesus, e à sua cruz, a aliança de Deus com todos os homens permanece e renova-se. Por isso, reconheçamos, por palavras e obras, que Jesus é o arco-íris luminoso e definitiv
o, erguido na cruz, no qual o céu e a terra, e tudo quanto existe, é reconciliado.
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