4ª FEIRA - III SEMANA-
T C - ANOS
ÍMPARES -30 JANEIRO 2019
Primeira leitura: Hebreus 10, 11-18
As reflexões do autor continuam centradas na
superioridade do sacerdócio e do sacrifício de Cristo relativamente a todos os
sacrifícios oferecidos pelo sacerdócio de Aarão. Dirigindo-se a judeo-cristãos
que passam por um momento de crise e de saudade do antigo culto, o autor
estabelece uma relação directa entre os sacerdotes do templo e Cristo.
Os primeiros apresentam-se submetidos a uma permanente
e vã repetição de ritos que não chegam a purificar as consciências e a libertar
do pecado. São sacrifícios externos, apenas sombra do verdadeiro sacrifício.
Ergue-se diante deles a figura majestosa de Cristo que, tendo oferecido «uma só
vez» a sua vida em obediência ao Pai, está «agora» na sua presença e «sentado»
à sua direita, à espera que amadureçam todos os frutos da obra de salvação
realizada.
Agora está aberto, e assim permanece para sempre, o
acesso ao verdadeiro «Santos dos santos». Assim, segundo o autor da Carta,
realiza-se a profecia de Jeremias (31, 33ss.) sobre a «nova aliança»: Deus
escreveu a sua lei no coração do homem e perdoou os seus pecados.
Agora, cada homem é potencialmente filho de Deus, no
Filho muito amado. A Igreja, ao oferecer todos os dias o sacrifício
eucarístico, não repete o evento da paixão-morte de Jesus, mas renova para todo
os homens, cada dia, aquele único sacrifício. Assim, oferece a cada um a
possibilidade de entrar livremente em comunhão vital com Cristo e tornar-se
membro vivo do seu corpo místico.
Evangelho: Mc 4, 1-20
O reino de Deus é proclamado pela palavra. Marcos, na
secção que hoje abre, oferece-nos uma teologia da palavra do reino. Jesus
começa a falar «em parábolas». Era o método usado pelos rabinos.
As parábolas são «histórias» aparentemente simples,
mas com um elemento-surpresa e uma conclusão inesperada que convidam a procurar
um segundo significado, para além do imediato.
A parábola começa e termina com dois imperativos:
«Escutai» (v. ). Em sentido bíblico, «escutai» significa «obedecei», isto é,
dai a vossa adesão (ob-audire). Jesus quer entrar em relação viva com as
pessoas a quem se dirige. Começa por centrar a atenção dos ouvintes na generosa
sementeira. Mas logo a centra na semente. Vem, depois, a tipologia dos terrenos
que recebem a semente. Há um evidente exagero ao falar da «boa terra». A imagem
da colheita sugere o fim dos tempos. A parábola, ao fim e ao cabo, diz-nos que
o Messias está próximo e descreve a abundância de graça do Reino messiânico.
No diálogo com «os que o rodeavam», a semente é claramente identificada com a Palavra, e os terrenos correspondem às diferentes reacções suscitadas pela pregação dos apóstolos. Jesus veio realizar a missão de semear a Palavra.
Semeou com generosidade, movido pelo excessivo amor
que tudo crê, também que o deserto há-de florescer. Assim nos faz compreender
também que a Palavra deve ser pregada a todos, sem desânimo, sem medo de
fracassar. A seu tempo dará fruto.
O mistério de Cristo é o mistério de uma natureza
humana «tornada perfeita» por meio do sofrimento: «Convinha que aquele por quem
e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória,
levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação» (Heb 2,
10).
Depois desta afirmação, o autor descreve os
sofrimentos de Cristo e conclui: Jesus «tornado perfeito, tornou-se para todos
os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, tendo sido proclamado por Deus
Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec» (Heb 5, 9-10).
Pode parecer-nos estranho aplicar a Cristo a expressão
«tornar perfeito» que, no Antigo Testamento, só é usado em referência à
consagração dos sacerdotes, cujas mãos, e toda a sua pessoa, hão-de ser
tornadas perfeitas para oferecer a Deus o sacrifico. Cristo foi transformado
pelo seu sacrifício para se tornar o sacerdote absolutamente perfeito.
Mas a consagração sacerdotal de Cristo, obtida no seu
sacrifício, vale para Ele, mas também para nós: «com uma só oferta, Ele tornou
perfeitos para sempre os que são santificados» (v. 14). Aqui está a grande
novidade: o autor aplica aos cristãos o mesmo verbo que aplicou acerca de
Cristo «tornar perfeito».
Cristo recebe a consagração sacerdotal e, ao mesmo
tempo, confere-a a nós. Com o seu sacrifício, Cristo tornou-nos, também a nós,
capazes de nos apresentar a Deus em atitude sacerdotal, apresentando ofertas.
Por isso, graças ao sacrifico de Cristo, podemos aproximar-nos com toda a
confiança diante de Deus, entrar no santuário mais secreto.
Na afirmação: «com uma só oferta, Ele tornou perfeitos
para sempre os que são santificados» (v. 14), podemos distinguir dois aspectos:
somos verdadeiramente consagrados a Deus e podemos oferecer o sacrifício; a
nossa santificação é apenas um começo que exige desenvolvimento, crescimento:
«tornou perfeitos para sempre os que são santificados» (v. 14).
A santificação recebida no baptismo há-de
desenvolver-se cada dia, aplicando à nossa pessoa o sacrifício de Cristo, mas
também revivendo-o, de modo especial, nos nossos próprios sofrimentos e
tribulações.
A presença misteriosa do cristão em Cristo morto e
ressuscitado é expressa por Paulo com a simples expressão «en Christo» (in
Christo) usado 164 vezes nas suas cartas, com diferentes matizes. Na Primeira
Carta a Timóteo fala do mistério de Cristo como o grande mistério da piedade
(3, 16).
Fonte: “dehonianos.org/portal/liturgia/”
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