quinta-feira, 15 de novembro de 2018
QUINTA-FEIRA- TEMPO COMUM XXXII SEMANA - - ANOS PARES - 15 NOVEMBRO 2018
QUINTA-FEIRA- TEMPO COMUM XXXII SEMANA - - ANOS PARES - 15 NOVEMBRO 2018 -
Primeira leitura: Filémon 7-20
Esta carta não é mais do que um pequeno bilhete de recomendação em favor de Onésimo, um escravo, que Paulo defende diante de Filémon, seu senhor. Onésimo tinha fugido ao dono, e estava numa situação delicada. Paulo tenta que Filémon não aplique a justiça, mas actue de acordo com a sua fé cristã, usando a caridade evangélica.
O apóstolo realça, neste breve escrito, dois valores: a caridade, que é a fonte do agir moral e a base das suas relações sociais, além de ser a meta suprema a atingir. A isso obriga a caridade de Deus revelada em Jesus Cristo.
O outro valor em que o Apóstolo fundamenta a sua argumentação é a liberdade oferecida por Cristo, que ninguém deve negar ou limitar aos outros. Essa liberdade dá a Paulo audácia para fazer o seu pedido, e deve inspirar a Filémon um comportamento consequente em relação a Onésimo. Quem é livre diante de Deus e de si mesmo não pode negar essa mesma liberdade a quem lhe pede.
Caridade e liberdade, juntas em vista da verdade, podem transformar as relações sociais, para além de qualquer conveniência pessoal ou interesse colectivo.
Evangelho: Lucas 17, 20-25
Escutamos hoje o chamado "Pequeno discurso escatológico" do evangelho de Lucas (cf. Lc 21, onde encontramos o "Grande discurso escatológico"). Trata-se de um breve mas intenso ensinamento de Jesus, provocado por uma pergunta dos fariseus acerca do tempo em que há-de vir o Reino de Deus.
Jesus não condescende com a miopia espiritual nem com interesses egoístas. Por isso, não dá uma resposta exacta. Não veio para satisfazer curiosidades. Começa por se exprimir de modo negativo, para que não caiamos em ilusões, mas aprendamos a discernir situações e pessoas que possam hipnotizar a nossa atenção ou desviar a nossa fé. Como verdadeiro mestre, alerta-nos para possíveis desvios, e indica o caminho que devemos seguir.
Mas há duas afirmações positivas neste discurso de Jesus, que devemos notar. Primeiro, fala do desejo do crente em «ver um dos dias do Filho do Homem» (v. 22), que todos havemos de sentir e que Ele quer satisfazer; depois, afirma a necessidade de «primeiramente, ter de sofrer muito e ser rejeitado» (v. 25).
Antes da escatologia, tem se realizar-se a Páscoa de Jesus. Quem aceitar ir com Ele até Jerusalém e partilhar a sua Páscoa, prepara-se para ir ao encontro final com o Salvador.
Os fariseus procuravam manifestações espectaculares do Reino de Deus. Jesus responde-lhes: «o Reino de Deus está entre vós» (v. 21). Podia traduzir-se: «está em vós». Temos aqui elementos preciosos para o discernimento dos espíritos: o Reino de Deus não deve ser procurado em manifestações extraordinárias, mas na correspondência habitual, no dia a dia, à voz do Espírito Santo.
Temos em nós vários níveis de vida: os instintos naturais, a razão que ordena e domina os instintos, mas também o Espírito de Jesus que nos permite viver em novidade de vida e ver coisas que a simples razão não consegue enxergar. Deixar-se guiar pela razão, dominando os instintos, e vivendo de modo naturalmente virtuoso, já é coisa boa.
Mas ainda não é vida cristã, porque o cristão, em todas as circunstâncias da vida, deixa-se conduzir pelas moções e pelas inspirações do Espírito. Não é fácil fazer um bom discernimento, porque há em nós princípios recebidos do mundo, outros recebidos da razão e outros recebidos do Espírito, que se misturam dentro de nós.
É pois necessário, em cada circunstância, perguntar a nós mesmos: que é que me leva a fazer isto ou, a fazer aquilo. Por vezes, um pensamento que à primeira vista parece bom, tem uma raiz má: a busca do interesse pessoal, o instinto da vaidade, a ambição, o desejo de uma vida cómoda. Só escutando o Espírito Santo, na oração, na reflexão, com grande disponibilidade pessoal, podemos conhecer a verdade, a vontade de Deus.
Paulo convida muitas vezes os cristãos a deixar-se renovar no Espírito para compreenderem a vontade de Deus. De facto, é muito fácil deixar-nos levar pelas tendências instintivas ou simplesmente racionais. Precisamos do Espírito criador, que nos faz descobrir coisas novas, de que não suspeitávamos, mas nos enchem de alegria.
A carta a Filémon dá-nos um exemplo concreto do que acabamos de dizer. Paulo tinha para resolver um caso de consciência bastante complicado.
Onésimo tinha fugido de casa do seu dono, Filémon, cristão da igreja de Colossos. Segundo a lei, Onésimo era um delinquente. Paulo acolheu o escravo em fuga. Acolheu-o com tanta bondade que o fugitivo acabou por se converter.
Sendo assim, Paulo podia actuar perante Filémon. Podia remeter o escravo ao seu dono, que tinha direito a puni-lo com rigor. Mas Paulo também dispunha de uma solução nova, progressista: pensar que a escravidão não tinha qualquer valor para um cristão, que era contra o Evangelho porque em Cristo somos todos iguais.
Portanto, Onésimo podia considerar-se livre e Filémon nada podia dizer. O Apóstolo encontrou uma solução completamente nova: mandou o escravo ao seu dono, com uma carta a pedir que Filémon recebesse Onésimo como um irmão em Cristo. Não lhe faz imposições. Apela para a sua caridade, para a sua fé, para a gratidão que lhe deve a ele, Paulo, que o gerou para a fé. Faz, pois, um apelo, guiado pelo Espírito, ao mesmo Espírito que habita em Filémon, e propõe-lhe uma solução revolucionária para aquele tempo: Filémon, o dono ofendido, receba com honra o escravo fugitivo!
O Espírito inspirou a Paulo uma solução equilibrada; Paulo está certo de que também a inspirará a Filémon: «embora tenha toda a autoridade em Cristo para te impor o que mais convém, levado pelo amor, prefiro pedir como aquele que sou: Paulo, um ancião e, agora, até prisioneiro por causa de Cristo Jesus».
Fonte: Fernando Fonseca, scj em “dehonianos.org/portal/liturgia”
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